A poucos dias do final do ano, Mário Patrão (KTM) anunciou que não iria disputar o Rali Dakar 2021, por ainda se encontrar a recuperar de uma fratura no fémur. Em entrevista ao SAPO Desporto, o piloto português admite estar desiludido por não estar em prova.
Mário Patrão explica que falhar o Dakar "não é uma sensação muito boa, primeiro por estar lesionado e depois por saber que trabalhámos muito tempo para isto. Preparámos tudo, fomos colocar o material no navio em França para seguir para a Arábia Saudita e depois disso aconteceu este azar que nos obrigou a ficar parados."
"Este tipo de situações podem acontecer a qualquer momento porque tentamos sempre superar e fazer as coisas da melhor forma possível, mas o risco está sempre lá. 99% das vezes corre tudo bem, mas outras vezes nem tudo corre como nós queremos. Fiquei triste e desiludido, tanto por mim como pelos patrocinadores e pelos portugueses, mas estas coisas acontecem. Há que levantar a cabeça para recuperar o mais rapidamente possível e começar a pensar no próximo ano", acrescenta.
Apesar de sentir uma grande evolução em relação à altura em que se lesionou, no início de dezembro, o motard de Seia garante que ainda não sabe quando vai poder regressar ao ativo.
"Depende tudo do meu organismo. Vou ter uma avaliação na próxima quinta-feira e, a partir daí, vamos analisando para ver como é que as coisas estão. Sinto-me muito melhor, mas não consigo subir à mota, porque ainda estou de muletas, embora eu ache que para a semana as devo deixar, ou pelo menos uma delas. Depois disso vou começar a fazer fortalecimento da perna e, a partir daí, vamos vendo de semana a semana ou de quinze em quinze dias como é que está a situação", esclarece.
"Acredito que vou recuperar a 100%, mas o tempo de recuperação é que é incerto. Por mim era rápido, mas nem tudo corre como nós queremos. A prova principal já foi perdida, que era o Dakar. Gostava muito de ter conseguido recuperar a tempo, mas a lesão era feia e as coisas não se resolvem em três semanas. Porque se tivesse ido para o Dakar seria com três semanas de lesão e com uma cirurgia em cima. Só por um milagre é que teria recuperado a tempo. Falhado o objetivo principal, tenho de tentar recuperar o melhor possível e ir vendo caso a caso quando é que é seguro regressar", salienta ainda Mário Patrão.
O futuro
Falhado o objetivo principal de 2021, que era a participação no Dakar, o piloto português revela que ainda está perdido em relação ao futuro.
"Ainda estou um pouco perdido em relação a isso. Não sei se esta lesão me vai permitir voltar à mota daqui a um, dois ou três meses. O plano inicial incluía algumas corridas lá fora e outras em Portugal, mas neste momento não consigo ainda definir as datas e as provas em que vou participar. Estou a falar com os patrocinadores para conseguirmos chegar a um entendimento, mas sempre dependentes desta lesão. Acredito que pelo menos três ou quatro provas internacionais vamos conseguir fazer e algumas em Portugal também. No entanto, para já, não consigo apontar uma altura para o regresso", refere.
Mário Patrão acrescenta ainda que há "uma corrida em Portugal no final de janeiro, que marca o final do campeonato de navegação, e na qual eu vou na frente. A corrida estava marcada para o fim-de-semana em que eu caí, mas foi adiada para o final deste mês por causa da COVID-19. Gostava muito de participar nessa prova, mas se vou conseguir? Talvez não...".
"Só na próxima semana com a avaliação é que vamos ter mais noção do estado da lesão. Só ao ver o diagnóstico e o raio X é que vamos saber se podemos começar a meter carga porque esta é uma lesão difícil por ser uma perna. Precisamos sempre da perna, não posso metê-la para o lado e andar de mota sem ela. Se fosse um dedo, como temos cinco, ainda dava. Se fosse uma costela ou algo assim também dava, mas neste caso não dá", lamenta o motard.
Um português no Dakar
Questionado sobre a participação dos pilotos portugueses no Dakar, Mário Patrão admite que tem boas expectativas, mas lembra as dificuldades enfrentadas pelos lusos no deserto.
"O Dakar está bastante confuso porque as regras foram alteradas. Hoje parece-me ter sido o dia mais fácil a nível de navegação. Normalmente quem vai à frente acaba por se perder, mas hoje isso não aconteceu. No entanto, eu estou convencido que ainda vão haver muitas reviravoltas. Em relação aos pilotos portugueses, o Quim [Joaquim Rodrigues Jr] e o [Sebastian] Buhler estão a fazer uma grande prova. O Alexandre Azinhais ontem partiu o motor, mas segundo a informação que eu tenho, ele vai continuar em prova porque já lhe trocaram o motor. Mas, no geral, está a ser um Dakar muito difícil e competitivo, os vinte primeiros estão todos muito próximos. Todos os dias mudam os candidatos. O piloto que ontem ia à frente hoje já está em terceiro e o que estava em segundo passou para primeiro. Há ali 10 ou 15 pilotos que podem ganhar sem problema", começa por dizer, em relação à prova.
No entanto, Mário Patrão explica que é muito difícil que algum desses pilotos seja português.
"O problema dos portugueses é o facto de a prova ser 100% em deserto e nós em Portugal não temos deserto. Se vivêssemos numa zona deserta era mais fácil porque estaríamos no nosso habitat natural, como está o Pablo Quintanilla, o Sam Sunderland ou o Toby Price. Para eles, andar a 130 km/h no deserto é o habitat natural", esclarece.
"Nós temos Bajas rápidas, mas temos caminhos delineados, não é fora de pista. É como ir numa estrada de montanha ou numa autoestrada. Uma pessoa anda na autoestrada a 120km/h, mas chega a uma estrada de montanha, vai a 20km/h e já vai atrapalhada. É o mesmo que nos acontece no Dakar. Chegamos lá e não temos confiança porque não temos a leitura do deserto que devíamos ter, não temos centenas de horas de treino lá como eles têm. Por isso é que é difícil para qualquer português conseguir um dia ganhar o Dakar. Mas o mesmo acontece com os outros pilotos europeus... são poucos os que conseguem ganhar porque para isso têm de sair do seu habitat natural e estar um ano inteiro a treinar numa zona de deserto. Na América do Sul tínhamos 60% de deserto e 40% de caminho, que já era mais semelhante ao que nós fazemos cá, mas na Arábia Saudita é quase tudo deserto, o que torna a prova muito difícil para nós", remata o piloto de Seia.
Recorde-se que Patrão ia competir com a sua KTM na categoria MalleMoto, sozinho e sem direito a qualquer tipo de assistência. Além do motard português, também Manuel Porém é baixa no contingente luso devido à COVID-19. Mesmo assim, no total, o Dakar conta com 15 pilotos e navegadores portugueses, além de um diretor desportivo.
A 43.ª edição do Dali Dakar de todo-o-terreno já disputa na Arábia Saudita e vai continuar em ação até ao próximo dia 15 de janeiro.
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