A ‘sensação’ James Whelan (Glassdrive-Q8-Anicolor) ambiciona regressar ao WorldTour para cumprir aquilo que poderia ter sido, mas, para já, ‘contenta-se’ em ser um exemplo para que outros ciclistas australianos possam ser recrutados para o pelotão nacional.
A contratação do corredor de 27 anos foi uma verdadeira surpresa: quem era, afinal, o australiano que a Glassdrive-Q8-Anicolor tinha ido resgatar ao desemprego no início de maio, quando já estava decorrida meia época?
Uma rápida pesquisa nos sites da modalidade será suficiente para perceber que Whelan não é um ‘anónimo’, seja por ter vencido a Volta a Flandres de sub-23 (2018), por ter representado entre 2018 e 2021 a estrutura da EF Education-EasyPost, uma equipa do WorldTour, ou por ter sido segundo na prova de fundo dos Nacionais do seu país ainda no ano passado.
“Rúben Pereira, diretor desportivo da equipa, entrou em contacto comigo. Tinha visto a minha situação: não tinha equipa desde o início do ano, estava na Europa e a fazer corridas locais em Espanha. Ele viu que eu estava em forma, contactou-me e foi essa a oportunidade. E, agora, estou com esta camisola, no autocarro da equipa e em Portugal, para participar na Volta a Portugal, a ‘Grandíssima’”, revelou, em entrevista à Lusa.
Um ‘aussie’ em paragens lusas é uma verdadeira raridade – Simon Gerrans foi um pioneiro, no já distante ano de 2003, como estagiário do Carvalhelhos-Boavista -, mas, apesar de “não entender de todo o que estava a ‘subscrever’” quando assinou com a Glassdrive-Q8-Anicolor, Whelan nem hesitou em agarrar a chance que o devolveu ao ciclismo profissional.
Nascido em Melbourne, viu o sonho do WorldTour esfumar-se quando sofreu duas quedas graves no seu último ano de contrato com a EF Education. “Já é um ambiente de grande pressão sem fraturar a pélvis no ano final de contrato, já é um desporto difícil, mas estas histórias fazem parte do ciclismo, infelizmente. É um desporto perigoso e, algumas vezes, quando ‘jogas o jogo’, perdes”, analisou.
O vice-campeão australiano de fundo de 2022 e prata da mesma prova dos Campeonatos Continentais da Oceânia de 2018 fala sem mágoa da formação norte-americana do WorldTour, na qual se chegou a cruzar com o português Ruben Guerreiro.
“Naturalmente, se isso acontece, é um problema para o atleta, mas também para a equipa, porque não sabe se o ciclista vai regressar às suas capacidades físicas prévias. Tive de encontrar uma nova equipa, o que foi muito difícil, porque [a notícia da não renovação] foi no final do ano. Então, no ano passado, corri com uma formação australiana [a BridgeLane], mas queria mesmo correr na Europa, é onde a minha vida é neste momento. Felizmente para mim, estou a correr aqui em Portugal, ao sol, no calor. Não é demasiado mau”, brincou.
Whelan, que vive em Andorra, não estava disposto a abdicar da ‘terra prometida’ para os ciclistas, porque, “neste momento, é aí que estão as oportunidades para um atleta”.
“Ainda estou a correr muito bem, por isso não sei porque voltaria para a Austrália. A vida continua a ser muito entusiasmante por cá [Europa], é uma boa oportunidade para mim enquanto australiano”, defendeu.
Agora, o ciclista que tanto impressionou os diretores desportivos das outras formações nacionais desde que chegou ao pelotão, nomeadamente no Troféu Joaquim Agostinho, no qual foi quinto, espera abrir portas para compatriotas seus.
“Penso que muitos atletas na minha situação acabam por render menos a este nível, porque estão menos motivados, mas espero que possa ser um bom exemplo para outras equipas e que elas tentem contratar australianos em situações semelhantes à minha. Tenho companheiros que estão a observar o que estou a fazer e estão a fazer-me perguntas para tentar correr em Portugal. Espero dar um bom exemplo nesta corrida e talvez eles tenham a oportunidade de correr numa outra equipa portuguesa”, assumiu.
Whelan está feliz por estar na Volta a Portugal – na quarta-feira, estreou-se com um 17.º lugar no prólogo conquistado pelo seu colega Rafael Reis -, mas não esquece o destino que ficou por cumprir no escalão máximo do ciclismo mundial, que o levou mesmo a disputar o Giro2020 e algumas das clássicas mais importantes do calendário internacional.
“Às vezes, os atletas têm altos e baixos – não estou a chamar isto um baixo. Naturalmente, no desporto de alto nível, às vezes estás no topo e outras vezes não. É parte do processo. Há muitos australianos, ou melhor, muitos ciclistas profissionais que andam em cima, em baixo, durante toda a carreira, e talvez seja parte do meu processo neste momento”, avaliou.
O corredor da Glassdrive-Q8-Anicolor diz não poder pensar no regresso ao WorldTour, preferindo focar-se no presente.
“Tenho de preocupar-me em desfrutar destas corridas, e tudo o resto virá. É um ruído extra que não posso controlar, tenho de limitar-me a desfrutar de correr em Portugal, e correr a um nível elevado e estou realmente a gostar”, concluiu.
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