O presidente da Associação da Imprensa Desportiva Internacional (AIPS), Gianni Merlo, lembrou hoje que os jornalistas “não são o inimigo” em Tóquio2020, pelo que pediu a revogação de um conjunto de restrições que lhes são impostas.
O ‘playbook’ para os media é considerado demasiado castrador e violador dos direitos dos profissionais da comunicação social, destacando as inúmeras proibições e o facto de os jornalistas serem rastreados por GPS, que deve estar permanentemente ligado.
“Se a bateria falhar, se o telefone ‘morrer’, teremos de explicar à segurança o que aconteceu. Também querem saber com quem nos vamos encontrar, e isso não é correto, até porque a nossa privacidade vai ser totalmente eliminada”, criticou.
A regra que permite a ida a uma loja de conveniência para comprar comida é limitada pela ausência, rigorosa, de somente 15 minutos.
“Antes de ir, é preciso perguntar aos elementos de segurança se o podemos fazer. Depois, temos de voltar em 15 minutos. Caso contrário, não sei o que acontecerá. E se houver fila ou tivermos de andar um pouco para chegar lá? Os 15 minutos esgotaram-se”, exemplificou.
“O não cumprimento dessas regras pode resultar na retirada da credencial. Já imaginaram? Gastamos milhares de euros, somos colocados em quarentena, seguimos todas as regras e podemos perder tudo por estarmos 20 minutos numa loja de conveniência a pagar a comida. Isso é inaceitável”, vincou.
Em caso de saída dos poucos lugares autorizados, é necessário informar a segurança e preencher uma série de registos na saída e no regresso.
“É como ser um prisioneiro, a liberdade das pessoas está realmente em perigo. Mas há uma terceira coisa: se formos identificados a caminhar na rua, o segurança indicará para voltar para dentro e informa a organização de Tokyo2020. Uma infração pode resultar na nossa expulsão do Japão”, insurgiu-se.
O dirigente lamentou ainda o facto de os japoneses serem incentivados a fotografar e a publicar nas redes sociais estrangeiros que não estejam dentro das áreas permitidas.
“Já imaginaram isso? Estão a pedir à população do Japão para seguirem cada um de nossos movimentos e colocar nas redes sociais possíveis violações das regras. Isso é a coisa mais louca e pode gerar racismo”, alertou.
Gianni Merlo recordou que os media estarão no Japão “para levar uma mensagem de esperança, não para o destruir”, considerando que estas regras só existem porque o governo nipónico está a falhar com a vacinação no país.
“O povo do Japão não deve olhar para nós como o inimigo que traz o coronavírus”, acrescentou.
O dirigente disse ainda que entende que “o Japão é melhor do que isto” e que é necessário “encontrar uma solução em conjunto”, assumindo que os jornalistas “entendem como é difícil” esta organização, mas recordando que não estamos a viver “uma guerra”.
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