O rótulo de favorito ‘colado’ ao ciclista português Iúri Leitão, campeão mundial de omnium, não incomoda o ‘ás’ da pista, focado em ficar nos oito primeiros em Paris2024 e fazer a sua corrida, não a que esperam dele.
“Entendo que as pessoas tenham essa expectativa, queremos sempre encontrar os novos heróis nacionais, mas eu não vejo as coisas assim. Pelo que deduzo, vai ser uma prova muito mais exigente do que qualquer uma que tenha feito. Não é por ser campeão do mundo que tenho de trazer um grande resultado. Vou tentar divertir-me e trazer o melhor resultado possível”, explica o ciclista de 26 anos, em entrevista à Lusa no Velódromo de Sangalhos.
Na ‘casa’ do ciclismo de pista português, o campeão do Mundo do omnium em 2023, a correr na estrada pela espanhola Caja Rural, garante querer “fazer o melhor possível” e aplicar a aprendizagem que traz “para cometer o menor número de erros possível”.
No omnium, confessa, “gostava de trazer um resultado nos oito melhores”, competindo também no madison, corrida de duplas, com Rui Oliveira.
“Sairia muito realizado, feliz, por estar dentro desse lote tão restrito. Vai ser um orgulho enorme lá estar, e se conseguir esse resultado, seria estupendo”, afirma.
Catapultado para outro nível de fama e reconhecimento, na rua e no pelotão, devido ao ouro no Mundial de Glasgow, encara a pressão com a serenidade de manter o caminho, sem desvios.
“Vejo as coisas da seguinte forma: se as pessoas esperam que traga um bom resultado, é porque tenho dado motivos para isso, com resultados de muita importância, como ser campeão do mundo no ano passado”, refere.
O título, diz, “não mudou nada”, e não vê “as coisas pelo lado da pressão, mas como oportunidades”, a cada chamada à seleção, fazendo “o máximo para valer a pena”.
“Nem sempre faço grandes resultados, o desporto é assim mesmo, mas se sair da pista de cabeça erguida, por ter feito tudo o que podia… o selecionador nunca nos exigiu resultados, exige trabalho e foco, para aplicar o que aprendemos aqui”, acrescenta.
Trabalha em Sangalhos, na sua vida de ‘pistard’, no seio de uma seleção muito unida e que inclui Maria Martins, que voltará aos Jogos Olímpicos depois do histórico sétimo lugar no omnium em Tóquio2020, mas também Ivo Oliveira, João Matias e Daniela Campos (convocada, mas na estrada), nomes de proa do esforço nacional nesta disciplina.
O grupo muito unido - até com uma página alimentada pelos próprios na rede social Instagram - tem o hábito de competir junto e preparar-se junto, uma “união e partilha de expectativas, objetivos, treino e sofrimento que é muito importante”.
“As pessoas estão habituadas a ver as glórias na televisão, o que conquistamos, mas há muita coisa negativa atrás. Passamos por muitas dificuldades, dias maus, quedas, lesões, simplesmente porque as coisas não saem ou não estamos a render. Psicologicamente, abala, e é bom ter essa partilha”, afirma.
Se todos contribuíram para os pontos do ranking de nações, só Leitão e Rui Oliveira terão a ‘honra’ de estar nos Jogos. “Todos mereciam ir. Vai ser difícil, vou fazer o melhor possível para que, em casa, sintam orgulho”, atira o sprinter, de imediato.
No ciclo anterior, para Tóquio2020, esteve no “balde de água fria muito grande”, esse “dia muito triste”, que foi falhar a qualificação por um lugar, então como ‘caçula’ de um grupo com muitos azares, de quedas a fraturas, que afetou o amealhar dos pontos necessários.
Desta feita, prepararam-se melhor, com menos azares, e conseguiram lá chegar em duas das vertentes da pista, alicerçados num título mundial que, insiste, pouco mudou na sua vida.
Na preparação, “não mudou nada”. “Gosto de pensar que se as coisas resultaram até agora e fui campeão do mundo, é preciso é continuar e aperfeiçoar. Não gosto de inventar”, comenta.
Com três vitórias na estrada em 2024 pela Caja Rural, o “jogo de cintura a três”, entre os espanhóis, o próprio corredor e a Federação Portuguesa de Ciclismo, chegou a bom porto para poder conciliar as duas, ainda que tenha tido em cima da mesa dedicar-se só à pista, opção colocada de parte pela “paixão pelo ciclismo” e pela necessidade de ter outra rodagem e, no campo pragmático, outra ‘almofada’ financeira.
“Tem sido pacífico. Quando entrei para a equipa, era novo, e foi difícil mostrar do que era capaz. A equipa entendeu que tinha objetivos muito claros, e bem definidos na pista. Compreenderam e chegámos a acordo. Desde que não falhe com a equipa, e tenho três vitórias este ano…”, avalia.
No omnium, concurso com quatro corridas distintas no mesmo dia, e que acontece em 08 de agosto, dois dias antes do madison, antevê forte concorrência, desde a Grã-Bretanha, que tem opções como o campeão olímpico Matthew Walls, a França, de Benjamin Thomas, e a Nova Zelândia, do ‘vice’ olímpico Campbell Stewart.
No madison, e depois de um foco numa “boa recuperação”, a chave estará no sacrifício em prol do colega, e deste por si, sendo mais difícil avançar com candidatos.
O minhoto de 26 anos mostra-se ainda entusiasmado com a possibilidade de desfrutar da experiência de uns Jogos Olímpicos, tendo já falado com quem já a teve, não só na pista mas noutras modalidades.
Elege a canoagem, “muito forte” no Minho, como uma das modalidades que acompanha. “São os meus ídolos de infância, de os ver em Londres2012, Rio2016, Tóquio2020. Depois, a natação e o atletismo”, afirma.
De resto, diz logo de seguida, “é um orgulho ver um minhoto brilhar”.
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