Minuto 84 no Dragão. O árbitro assinala grande penalidade favorável à Turquia, que podia assim empatar um jogo que chegou a parecer fechado bem antes disso. Portugal esteve a vencer por 2-0, mas uma postura de gestão na etapa complementar e alguns momentos de alheamento permitiram a Burak Yilmaz relançar o jogo.

Seria o próprio Yilmaz, goleador do Lille, a falhar da marca dos 11 metros, quando faltavam cinco minutos para os 90'. O momento foi festejado nas bancadas como se de um golo tratasse, Portugal respirou de alívio e ainda fez o 3-1 nos descontos. Mal soou o apito final, Fernando Santos não resistiu a puxar de um cigarro, provavelmente para libertar a tensão, cigarro esse que não chegou a acender, já que teve logo depois de cumprimentar elementos da comitiva turca – e não é permitido fumar nos relvados de futebol.

Apesar do susto, a equipa das quinas fez por merecer o triunfo na meia-final e está a outro de carimbar o passaporte para o Mundial2022. Venha a Macedónia do Norte, que surpreendeu ao eliminar a Itália em Palermo.

Assim nasce um português

Fernando Santos surpreendeu ao apostar em Diogo Costa para a baliza (há mais de 11 anos que Rui Patrício não falhava um jogo por opção), com Danilo a recuar para central ao lado de Fonte e Diogo Dalot como lateral direito. Otávio foi outra das novidades no onze, com o duplo papel de ala e terceiro médio, e acabou por ser a grande figura do encontro.

Numa casa que tão bem conhece, o jogador do FC Porto fez uma exibição à sua imagem: mostrou raça, trabalho, técnica e criatividade. Foi dele o golo que adiantou Portugal no marcador, à passagem do quarto de hora. Bernardo Silva rematou de fora de área, a bola acertou em cheio no poste e Otávio, sem qualquer oposição, desviou na recarga para o 1-0.

Veja o golo de Otávio

Portugal justificava a boa entrada no jogo, mas seguiram-se alguns erros que abriram caminho à reação da Turquia. A equipa lusa baixou a intensidade e começou a perder sucessivamente bolas em construção (com destaque para Diogo Dalot), que só não causaram estragos devido à falta de pontaria turca, bem como à competência de Diogo Costa.

Só que o génio de Otávio voltou a surgir perto do intervalo, num cruzamento perfeito para o poste mais distante, onde surgiu Diogo Jota, nas costas da defensiva turca, a cabecear em direção ao canto inferior da baliza.

Veja o golo de Diogo Jota

Entre bons momentos de futebol e alguns sobressaltos, a Seleção portuguesa tinha feito por merecer a vantagem de dois golos. E até chegou a ameaçar o 3-0 durante os primeiros minutos da etapa complementar. Numa dessas ocasiões, Diogo Jota aproveitou uma saída mal pensada do guardião turco para tentar o chapéu de muito longe, mas a bola passou por cima.

Portugal deixou-se acomodar e, com isso, permitiu que a Turquia relançasse o jogo. Aos 65 minutos, Yilmaz tabelou com Under, fugiu a José Fonte e finalizou na cara de Diogo Costa, aproveitando a passividade da defesa portuguesa.

Veja o golo da Turquia

A resposta de Fernando Santos foi trocar Jota por João Félix e esperar que assim Ronaldo aparecesse mais em zonas de finalização. No entanto, foi Otávio quem esteve mais perto de marcar, de cabeça, na sequência de um excelente trabalho de Raphael Guerreiro.

Crescia a esperança da Turquia, que não participa num Mundial há 20 anos, até que aos 82' José Fonte pontapeou Unal na área, num penálti que o árbitro assinalou após ser alertado pelo VAR. O espectro do empate, resultado a que a Seleção de Fernando Santos nos habituou, começava a ganhar forma (assim como o prolongamento), mas o remate de Yilmaz foi para a bancada e os portugueses respiraram de alívio.

Ainda assim, o Dragão só descansou em definitivo nos descontos, quando um passe mágico de Rafael Leão isolou Matheus Nunes, que fez o 3-1 na cara de Cakir, numa jogada entre suplentes lançados aos 88' (juntamente com Nuno Mendes). Perante a resignação turca, o resultado não foi mais expressivo porque Cristiano Ronaldo, em cima do apito final, atirou à barra. Metade do caminho para o Qatar está feito.

Veja o golo de Matheus Nunes

O momento

Yilmaz falha penálti aos 85': Teria o avançado do Lille marcado e talvez este texto fosse sobre a eliminação precoce de Portugal. Não foi o caso. O experiente jogador teve nos pés a possibilidade de mudar o rumo do jogo, mas (felizmente) rematou para as nuvens e a equipa das quinas conseguiu segurar a vantagem até ao fim.

O melhor

Otávio: Na sua terceira internacionalização, o médio do FC Porto esteve ao mais alto nível: marcou um golo (o segundo na Seleção), ofereceu outro a Diogo Jota e foi uma máquina imparável de competitividade. Se foi o Dragão que o inspirou, não sabemos. Mas uma coisa é certa: Otávio foi Portugal da cabeça aos pés.

O pior

Fonte e Danilo: Na ausência de Pepe e Rúben Dias, os jogadores do Lille e PSG estiveram intranquilos no centro da defesa, cometendo muitos erros na saída de bola. No caso específico de Fonte, teve culpas no golo da Turquia ao deixar-se ultrapassar por Yilmaz, seu colega no Lille, tendo ainda provocado o penálti que podia ter dado o empate. Diogo Dalot também perdeu muitas bolas no corredor direito.

Reações

Fernando Santos: "Podíamos jogar com a Macedónia ou Itália, eu sempre disse"

Otávio ficou "surpreendido" com a titularidade, Diogo Costa "orgulhoso" por representar Portugal

Matheus Nunes: "Não podemos pensar que a Macedónia vai ser fácil". Danilo satisfeito por jogar ao lado de Fonte