
O ex-diretor de comunicação do FC Porto Francisco J. Marques afirmou hoje ter sido "criada uma ideia", da qual discorda, de que a revisão estatutária em votação na Assembleia Geral de novembro de 2023 beneficiava a anterior direção.
No âmbito da 15.ª sessão do julgamento da Operação Pretoriano, o antigo funcionário dos 'azuis e brancos' considerou que essa avaliação por parte dos apoiantes à então putativa candidatura de André Villas-Boas à presidência do clube fez com que se gerasse uma grande afluência à reunião magna, em medida que nunca havia presenciado.
"Fui a todas as assembleias desde 2011 e o auditório do Estádio do Dragão, com capacidade para cerca de 200 pessoas, nunca esteve cheio. Havia uma enorme contestação da parte dos sócios à direção e criou-se a ideia de que a alteração dos estatutos servia para beneficiá-la. Então, quem era contra a direção tinha de comparecer para votar", começou por testemunhar, na sala de audiências do Tribunal de São João Novo, no Porto.
Ainda assim, manifestou-se contra alguns dos aspetos da proposta e considerou o período pré-eleitoral um mau momento para que esta fosse aplicada.
"Eu era a favor de alguns aspetos e contra outros, tal como Pinto da Costa manifestou no discurso. Havia a ideia de que se tinha de votar da mesma forma para tudo. Os estatutos votavam-se na generalidade e depois um a um. É frequente em reuniões deste tipo a alteração ser aprovada no seu todo, mas depois alguns pontos, na especialidade, serem chumbados", explicou.
No entender de Francisco J. Marques, a 'fação' de Villas-Boas estava substancialmente em maior número, um indicador para o que seriam os resultados do sufrágio de abril de 2024.
"Depois do discurso, houve muitos assobios, o que não era normal desde que Pinto da Costa assumiu a presidência do FC Porto. Ouvi mais assobios do que aplausos. Houve várias discussões entre pessoas dos dois lados. Havia uma enorme contestação da parte dos sócios à direção em funções e o início de uma candidatura [de Villas-Boas] que se estava a formar e acabaria vencedora das eleições por larga margem", descreveu.
Quanto ao ambiente vivido na noite dos desacatos, no Dragão Arena, negou ter notado intimidações dirigidas a quem não se manifestasse a favor do malogrado dirigente portista e apenas avistou altercações físicas após o discurso de Henrique Ramos.
"A única estranheza que senti foi ter visto muito poucos seguranças no interior no Dragão Arena, depois de ter notado uma forte presença da polícia no exterior, quando cheguei de carro. Não percebi o motivo para a polícia não ter entrado no pavilhão", classificando o ambiente de confrontos patente como tendo sido uma "benfiquização" da AG portista.
Ademais, revelou que já sabia que o Dragão Arena seria um local em hipótese para a realização do ato na "semana anterior" ao mesmo, informação que lhe foi avançada por Tiago Gouveia, diretor de marketing dos 'dragões'.
Carlos Carvalho, chefe de segurança do clube, havia testemunhado na segunda-feira ter tido apenas conhecimento do cenário no próprio dia da AG, o que terá impedido o funcionário de conceber um plano de segurança prévio.
Os 12 arguidos da Operação Pretoriano, entre os quais o antigo líder dos Super Dragões Fernando Madureira, começaram em 17 de março a responder por 31 crimes no Tribunal de São João Novo, no Porto, sob forte aparato policial nas imediações.
Em causa estão 19 crimes de coação e ameaça agravada, sete de ofensa à integridade física no âmbito de espetáculo desportivo, um de instigação pública a um crime, outro de arremesso de objetos ou produtos líquidos e ainda três de atentado à liberdade de informação, em torno de uma AG do FC Porto, em novembro de 2023.
Entre a dúzia de arguidos, Fernando Madureira é o único em prisão preventiva, a medida de coação mais forte, enquanto os restantes foram sendo libertados em diferentes fases.
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