A Liga Portugal Betclic 2023/2024 trouxe-nos o Sporting como campeão. Numa época em que o Benfica se posicionava como o favorito para a revalidação pela qualidade do plantel e pelo investimento realizado numa equipa que se apresentou muito forte no título de 2022/2023. Acabou por ser o rival da capital a levantar o desejado trofeu. Mas afinal, o que foi determinante neste Sporting de Ruben Amorim na versão de 2023/2024?
1. Estabilidade: A "espinha dorsal"
Se olharmos para o Sporting 2022/2023 e compararmos com o Sporting 2023/2024 podemos verificar que a direção “verde-e-branca” conseguiu manter a espinha dorsal da equipa apesar de não ter conseguido o apuramento para a Liga dos Campeões. Aqui, encontra-se um dos verdadeiros méritos do Sporting na presente época. Como sabemos os principais clubes portugueses necessitam de vender para garantir a sua saúde financeira e este aspeto é mais importante ainda quando não entram os milhões da Liga dos Campeões.
A análise, os protagonistas e as fotos no especial Sporting Campeão 2023-24
Do plantel que terminou 2022/2023 o único jogador realmente determinante que não fez parte do plantel em 2023/2024 foi Ugarte vendido por 60 milhões de euros ao Paris Saint-Germain (fonte: transfermarkt). Pedro Porro tinha sido peça- chave em épocas anteriores contudo desde Janeiro de 2023 que já não fazia parte dos planos de Rúben Amorim que conseguiu manter todos os restantes habituais titulares nos quadros e ainda libertar-se de jogadores que pouco tinham acrescentado como Bellerín, Marsà, Arthur Gomes, André Paulo e ainda Chermiti que apesar de ter tido uma utilização importante estava longe de ser um jogador fundamental, valendo12,5 milhões de euros aos cofres leoninos (fonte: transfermarkt).
No total foram 16 os jogadores que se mantiveram de uma época para a outra, o que permitiu ao treinador leonino ter uma base de trabalho para ser devidamente reforçada na nova temporada. Se fizermos a comparação entre a primeira época completa de Amorim e a atual, verificamos ainda que desde o plantel campeão em 2020/21 mantêm-se jogadores importantes como Adán, Coates, Inácio, Matheus Reis, Pote, Nuno Santos e Paulinho que eram top-15 dos mais utilizados em 2020/2021 e continuam a sê-lo em 2023/2024. Quaresma, Neto, Bragança e Essugo são ainda outros nomes que fizeram parte de ambos os plantéis.
Rúben Amorim entrou no Sporting em 2019/2020 e terminou em 4º lugar. De seguida foi campeão e depois disso ficou em 2º e voltou a ser 4º classificado antes da presente época. Ou seja, em 5 épocas, Amorim, terminou 2 vezes em 1º lugar, 2 vezes em 4º lugar e 1 vez em 2º lugar. A estabilidade também se denota aqui. O trabalho de Rúben Amorim no Sporting é notável para um clube que não era campeão há 20 anos, contudo um segundo 4º lugar em 4 anos e consequente não apuramento para a Liga dos Campeões poderia ter feito qualquer direção se precipitar e decidir que seria necessária uma mudança, algo que não aconteceu, avaliaram-se os erros de parte a parte e construíram-se as bases para 2023/2024 ser, provavelmente, o ano da melhor versão do Sporting de Rúben Amorim.
2. Reforços: O que trouxeram Morten Hjulmand, Viktor Gyökeres e…Geny Catamo
Para a temporada 2023/2024, o Sporting contratou no verão Viktor Gyökeres, Morten Hjulmand e Fresneda e ainda Koba e Pontelo em janeiro. Hjulmand foi o médio escolhido para substituir Ugarte e Gyökeres foi o ponta-de-lança escolhido face às necessidades do plantel que se verificaram em 2022/2023. Geny Catamo acabou por ser o “3º reforço” mais importante apesar de ter sido um regresso de empréstimos.
3.1. O upgrade Hjulmand
Relativamente à troca Ugarte-Hjulmand a comparação é equilibrada. Ugarte é um médio com um raio de ação muito abrangente, que interpreta bem o papel do homem (sozinho) que se posiciona à frente dos 3 centrais em equilíbrio (3+1), dando liberdade ao outro médio, tendo funcionado bem, por exemplo quando Pote jogava como segundo médio. Nesta função principalmente no momento em que a equipa perdia a bola, Ugarte era um exímio recuperador e interpretava muito bem a função também em momento de organização ofensiva.
Contudo quando a opção passava por jogar com um médio como Morita que também procura vir buscar jogo em zonas mais baixas, muitas vezes o posicionamento de 3+1 tornava-se num 3+2 não havendo essa alternância posicional entre os dois médios de forma fluída, algo que exige uma maior interpretação dos timings e do espaço em função do colega de setor tanto no momento com bola como no momento em que a equipa a perde. Vemos algumas vezes, como exemplo dos vídeos a seguir que Ugarte e Morita posicionavam-se demasiado perto dos defesas-centrais acabando por “afundar” o jogo e facilitando a pressão adversária.
Ugarte e Morita em conjunto acabam por não interpretar tão bem o espaço, tirando um jogador entrelinhas para uma zona onde é facilmente controlado pelo adversário
Situação semelhante, a solução acaba por ser o jogo longo e mesmo com 2 médios próximos aos 3 DC’s a equipa sofre uma situação perigosa.
Hjulmand vinha rotinado a jogar mais adiantado no Lecce e combinou melhor com Morita devido à maior versatilidade nos terrenos que ocupa, permitindo alternar com o médio japonês o seu posicionamento. Como podemos ver no vídeo seguinte, este aspeto permitiu desbloquear diversas vezes a pressão adversária. Diria que ofensivamente o dinamarquês foi um upgrade pela melhor
interpretação de dinâmicas posicionais, contudo relativamente ao potencial defensivo nomeadamente na transição defensiva considero Ugarte ainda assim ligeiramente superior, apesar de reconhecer muitas qualidades em Hjulmand também neste momento do jogo pela capacidade de leitura do jogo.
Exemplo da dinâmica que Hjulmand consegue criar com o 2º médio, atração da marcação e no timing perfeito desbloqueia a decisão de Coates – Situação exemplo do upgrade quando comparado com Ugarte.
Mesmo com Morita próximo de Hjulmand, o dinamarquês consegue criar espaço e temporizar de forma a permitir que os DC’s encontrem o espaço dentro.
A temporização de Hjulmand e Morita permite que no momento seguinte, o dinamarquês receba entrelinhas uma bola descoberta para lançar ataque perigoso do Sporting – O principal upgrade quando comparando com Ugarte.
3.2. O inevitável Gyökeres
Por sua vez, quanto a Gyökeres não há grandes dúvidas sobre aquilo que o avançado sueco acrescentou ao Sporting. Mais de 40 golos na temporada e mais de uma dezena de assistência são dados demasiado objetivos que dizem muito da importância do avançado no Sporting.
Quando em 2022/2023 o Sporting tinha Paulinho e Chermiti que eram acima de tudo avançados que procuravam o apoio frontal ou o jogo associativo através de combinações, o sueco veio acrescentar a capacidade de movimentos de rutura, procura da profundidade, ganhar metros e tempo de ataque. Gyökeres em diversas vezes criou ocasiões de golo em lances individuais.
A presença de um avançado como Gyökeres permitiu ainda a Amorim a possibilidade de atuar em vários jogos com 2 avançados juntando-lhe Paulinho na frente de ataque. Esta “dupla” referência ofensiva foi utilizada para atuar contra linhas de 5 ou blocos baixos (como aconteceu na última jornada contra o Portimonense) fazendo saltar um médio para o espaço entre linhas.
Exemplo de jogo com a presença com Paulinho e Gyökeres – a dupla referência ofensiva com Gyökeres na constante procura da profundidade.
Além dos golos marcados e assistências, Gyökeres foi sempre fundamental na procura da profundidade e na capacidade para, de forma individual criar oportunidades de golo.
3.3. O talismã no jogo do título
Finalmente, Geny Catamo. O ala sendo um extremo de origem acrescentou a capacidade de desequilibrar no 1x1 através do lado direito que a equipa perdeu com a saída de Porro, algo que foi fundamental em vários jogos, nomeadamente na importante vitória contra o Benfica por 2-1 em Alvalade. Principalmente em jogos contra adversários mais “fechados”, posicionados em blocos mais baixos, tornou-se fundamental a capacidade do Moçambicano em definir no último terço assim como a capacidade de chegada à área com 6 golos e 5 assistências na temporada.
3. Crescimento: Trincão, Morita, Bragança e Diomande
Por fim, o crescimento de alguns jogadores foi fundamental. Daniel Bragança praticamente não tinha jogado devido a lesão em 2022/2023 e apareceu de forma preponderante principalmente na segunda metade da época 2023/2024 sendo um “reforço” para o meio-campo onde foi quase sempre a alternativa a Hjulmand e Morita. Diomande confirmou o seu potencial, depois de ter chegado em janeiro de 2022/2023 vindo do Mafra. A sua natural evolução foi evidente e naturalmente conseguiu aumentar a sua estabilidade em campo na época 2023/2024.
Morita embora não tenha sido tão determinante na segunda metade de 2023/2024 foi muito importante em vários momentos da época e foi o principal beneficiado na troca Hjulmand-Ugarte.
O facto de ter acumulado um ano de trabalho às ordens de Amorim numa equipa com a qualidade individual do Sporting proporcionou-lhe esse crescimento quando no início de 2022/2023 tinha acabado de chegar do Santa Clara.
Trincão tornou-se preponderante ao crescer na segunda parte da época. Começando a época como suplente de Edwards, acabou por lhe roubar muitos minutos de jogo e foi também no seu “ressurgimento” através de golos e assistência que o Sporting ganhou embalo para o título 2023/2024.
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