
O relógio já ia bem depois das 20h quando a rotunda da Boavista, no Porto, se transformou num autêntico reduto leonino. Cerca de mil adeptos do Sporting, vindos de vários pontos do norte do país, concentraram-se em frente à Casa da Música para celebrar o bicampeonato nacional com tudo a que tinham direito: cachecóis ao alto, buzinas, tambores, tochas verdes e cânticos em uníssono que ecoaram pelas avenidas mais emblemáticas da cidade.
O trânsito foi cortado junto à Casa da Música — e com razão: entre o entusiasmo coletivo e a intensidade dos festejos, o asfalto foi rapidamente tomado por famílias inteiras, jovens com bandeiras à cintura, amigos abraçados e até um grupo que improvisou uma coreografia com fumos verdes.
Para dar apoio logístico à euforia, uma pequena barraca vendia produtos do clube — camisolas, bonés, bandeiras — e uma roulote de comida saciava os estômagos mais exigentes com bifanas, hambúrgueres e cachorros. “Campeões com molho!” dizia-se em tom de brincadeira.
Mas o momento mais insólito da noite estava reservado para o final do concerto de Valter Lobo na Casa da Música. Enquanto na rua os sportinguistas vibravam ao som de “O Mundo Sabe Que”, lá dentro vivia-se um registo bem mais sereno e introspectivo: o artista apresentava o novo álbum Melancólico Dançante. À saída, muitos espetadores ficaram boquiabertos ao dar de caras com a festa leonina em pleno andamento. “Lá dentro não se ouvia nada!”, garantia João, que saía de um dos acessos laterais com um ar entre o pasmo e o fascínio. Já a amiga, Mariana, não pensou duas vezes: “Vim para ouvir Valter Lobo, fiquei para festejar o Sporting!”.
Entre os adeptos, reinava o orgulho de fazer parte de uma minoria resistente numa cidade marcada por outras cores. “Ser sportinguista no Porto é um ato de fé”, dizia com riso aberto Miguel, de Gondomar. “Mas dias como este fazem tudo valer a pena.” Catarina, com uma bandeira às costas e as lágrimas ainda frescas no rosto, confessava: “Vim de Braga só para isto. O meu avô era do Sporting, o meu pai também, e agora sou eu que trago o nome dele comigo nesta festa”.
A festa prolongou-se noite dentro com a PSP a acompanhar discretamente os festejos, sem qualquer registo de incidentes. A cidade dormiu com mais verde do que é habitual — e o leão voltou a rugir forte, mesmo no coração da Invicta.
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