David Coulthard lançou um olhar sobre o atual grupo de jovens pilotos que compete na Fórmula 1, na extensa entrevista exclusiva que concedeu ao SAPO Desporto antes do Red Bull Showrun Lisboa, que teve lugar no passado fim de semana, em Belém.
O escocês, vice-campeão do Mundo de Fórmula 1 em 2011, falou da dificuldade que é entrar num desporto muito elitista e restrito, onde ser bom pode não ser suficiente.
Se por um lado os pilotos chegam cada vez mais cedo à Fórmula 1, poucos são aqueles que conseguem permanecer por muitos anos na elite. Coulthard, por exemplo, esteve 15 anos no campeonato, numa altura em que "10 épocas era considerado uma carreira grande". Os casos de Lewis Hamilton, que corre há 16 épocas na Fórmula 1, ou de Fernando Alonso, com 18 anos no principal campeonato do Mundo de velocidades, são raros.
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Para Coulthard, ficar mais tempo na Fórmula 1 "significa menos espaço para os novos talentos" mas quem for realmente bom, terá o seu espaço.
"Se alguém chegar da Fórmula 3 ou 2 e claramente se distinguir como Max [Verstappen] ou Lewis [Hamilton], vai encontrar espaço porque nenhuma equipa quer ter um piloto mediano quando pode ter um piloto excecional", garantiu.
Se ser bom é requisito para entrar, ser excecional poderá levar os pilotos aos títulos. Para chegar ao Grande Circo, os melhores são testados na Fórmula 2, onde todos competem com os mesmos carros. Mesmo assim, não significa que os excecionais consigam os melhores resultados. É preciso estar também na equipa certa.
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"A Fórmula 2 pode ser por vezes uma espécie de... é uma má palavra, ia dizer um cemitério para pilotos, mas não gosto de uma analogia que pode ser ligada à morte, pode pensar numa outra palavra. Por vezes pode ser um pântano, onde pode ficar preso, e muitos bons pilotos não conseguem passar porque apesar de serem os mesmos carros se estiver na equipa errada, não tem o nível de performance e o holofote da oportunidade passa para outro", atirou.
Apesar de o talento continuar a ser o principal fator de entrada, nem todos têm a mesma oportunidade para o mostrar. E deu o exemplo da forma como o finlandês Kimmi Raikonnen foi parar ao Grande Circo.
"A oportunidade surge para as pessoas em diferentes alturas [...] Se olhar para Kimi Räikkönen,... ele é um bom exemplo: estava na Fórmula Renault, um nível mais baixo, foi testar um carro Fórmula 1 na pista de Mugello em Itália, uma das pistas mais difíceis como a Suzuka no Japão, e foi logo rápido. E isso para mim mostra que ele tem um grande talento e foi rapidamente para a Fórmula 1. Max [Verstappen] não passou pela Fórmula 2, fez Fórmula 3 e foi diretamente para a Fórmula 1, porque era tão claro que a Fórmula 2 seria só uma perda de tempo, foi para a Fórmula 1 desenvolver as suas capacidades e já conta com dois campeonatos", recordou.
Equipas de elite como Ferrari, Mercedes ou Red Bull conseguem sempre chegar aos melhores pilotos. Depois é uma questão de cada um agarrar a sua oportunidade.
"Nas equipas de topo, há sempre a possibilidade de alguém sugerir que seja dada a oportunidade a um piloto excecional que depois pode mostrar as suas capacidades. Mas não me preocupa que pilotos excecionais encontrem o seu caminho para a fórmula 1. Os bons? bem, há milhares de bons pilotos, por isso alinhem-se. Todos pensam que são são bons pilotos, mas estamos à procura dos excecionais", recordou.
Questionado sobre qual o piloto da atual geração que está mais perto de vir sagrar-se campeão Mundial, David Coulthard disse que não faz apostas porque não tem "uma bola de cristal", mas há alguns nomes que lhe agrada no atual campeonato.
"Dos jovens pilotos temos George Russel [Mercedes], Charles Leclerc [Ferrari] Lando Norris [McLaren], talvez o Carlos [Sainz, da Ferrari]... Bem o Carlos é difícil vê-lo a ter o mesmo nível nas qualificações que Charles, que tem conseguido melhores posições nas qualificações na Ferrari, atingindo bons tempos... e normalmente o melhor é quem é capaz de atingir esses tempos nas qualificações", analisou.
"Há outros pilotos mas estão em equipas mais pequenas e é difícil dizer. O Alex Albon, teve uma oportunidade na Red Bull que deixou escapar e agora parece estar bem na Williams, mas não quer dizer que se estivesse na Red Bull seria melhor do que o Max. Estamos sempre à procura de melhores do que temos, mas todos os que mencionei são potenciais campeões daqui a alguns anos no carro certo", finalizou.
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