O ténis é muitas vezes visto como uma atividade elitista e destinada a ricos, mas a realidade não é exatamente essa. Por vezes, as raquetes podem ser uma espécie de salva-vidas.

Encontramos Júlio Camará, de 16 anos, sentado num dos sofás da zona destinada aos jornalistas no Millennium Estoril Open. Metemos conversa com o rapaz e percebemos, que para além de ser voluntário, 'Julinho' como também o tratam carinhosamente, pertence à 'Academia dos Champs' - Associação destinada a motivar jovens em situação de vulnerabilidade social.

Foi na Outurela, em Carnaxide, que em 2015, Júlio então com 12 anos, descobriu o ténis por convite de alguns amigos.

"Antes jogava a bola com os meus colegas, e eu perguntei-lhes se o clube de ténis era fixe. Eles disseram-me que sim e a partir daí também disse que queria ir treinar. Falei com o 'mister' para fazer o treino para ver se gostava. Depois passei a vir sempre", recorda.

Como começou do 'zero', Júlio confessa que o início não foi nada fácil  "de principio nem conseguia bater uma bola."

A realidade não é exatamente cor de rosa no meio social de Júlio. E muitos dos seus amigos com quem começou no ténis, acabaram por desistir, enveredando por outros caminhos.

"Eu tinha amigos que também andaram no ténis e já foram presos", contou.

É o querer ser 'fixe' para impressionar, que muitas vezes tira a esperança a alguns dos jovens dos subúrbios da capital.

"Eu penso sempre duas vezes...Eu perdi muito amigos por não fazer aquilo que eles queriam".

O desporto serviu assim de escape, na tentativa de fintar o destino.

"Eu jogo por prazer e por divertimento e também porque o exercício é saudável."

Perguntamos-lhe se gostava de ser profissional. Responde-nos com um tímido sim, antes de afirmar de forma convicta.

"Se praticar muito, talvez".

Julinho não é propriamente um 'rookie' do Estoril Open. Desde 2016 que vem ao torneio para promover a sua associação. Na 'Academia dos Champs' procuram-se padrinhos, que possam pagar as aulas durante um ano a alunos carenciados.

Foi durante o torneio que o jovem de 16 anos acabou por conhecer um dos seus ídolos, com quem trocou algumas palavras.

"Foi o [Frances] Tiafoe. Assinou-me um chapéu e uma bola, tenho lá guardado."

O que é que lhe disseste?

"Não sei falar a língua dele, mas disse-lhe 'thank you'.

Foi curiosamente no ano passado que o norte-americano Frances Tiafoe e João Sousa mediram forças na final, com o português a levar a melhor. Mas Julinho não ficou dividido.

"Eu queria que o João [Sousa] ganhasse, por ser português, ainda por cima a jogar em casa. Por isso acabei por não torcer muito pelo Tiafoe."

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