Martina Navratilova é um dos nomes incontornáveis da história do ténis. A antiga tenista checa, que se viria a naturalizar norte-americana, continua a ser muitos anos depois da sua retirada a terceira melhor de sempre em títulos do Grand Slam (atrás de Steffi Graff e Serena Williams) e é agora membro do júri dos prestigiados prémios Laureus (além de treinadora da tenista Agniezka Radwanska). Numa entrevista exclusiva ao SAPO Desporto, a antiga atleta passa em revista um pouco da sua carreira, da vida pessoal, do futuro do ténis e, até, de Cristiano Ronaldo…
- Apesar de retirada do circuito profissional há já bastantes anos, continua a ser a terceira tenista com mais vitórias em Grand Slam. Que significado tem isso para si e se acredita que o seu nome vai continuar por muito tempo nos livros dos recordes?
Estarei morta por essa altura, por isso não me importa muito. (risos) Significa que joguei muito tempo e que ganhei muitos troféus ao longo da carreira. Não penso muito nos meus recordes a não ser quando vocês me perguntam por eles. Foi o meu trabalho e tenho orgulho de poder ter vencido muito.
- É mais difícil ser tenista profissional, por todos os sacrifícios que são exigidos, ou uma ex-tenista profissional, que se caracterizou sempre pela “vício” competitivo e que deixou de poder alimentar esse “vício”?
Competi o suficiente para uma vida e mais alguma coisa. Não tenho saudades. Adoro competir, adoro jogar ténis, adoro tentar fazer o melhor que posso no court e adoro o desporto. Penso que é um desporto fascinante. É um grande jogo e é sempre desafiador, e julgo que foi isso que fez continuar neste desporto por tanto tempo. Nunca me aborreci, tentei sempre dar o meu melhor e nunca senti que tivesse sacrificado o que quer que fosse. Era uma vida que eu conhecia. Tive uma grande infância. Naquela altura não se jogava ténis como se joga agora. Os miúdos com dez anos de idade jogam três a quatro horas por dia, enquanto eu estava ocupada a subir às árvores, a patinar no gelo, a nadar no rio e ainda jogava ténis. Quando tinha 10 anos jogava uma vez por semana no inverno e um pouco mais no verão. Nunca foi muito sério até aos 14 ou 15 anos, por isso sinto que nunca tive de fazer sacrifícios. Sempre quis ir para os ‘courts’ e divertir-me. Para mim, o ténis era um divertimento e nunca deixou de ser divertido, por isso é que a minha carreira durou tanto tempo.
- Como é que pensa que se sairia num jogo com Serena Williams?
Eu adoraria ter a oportunidade de jogar contra Serena Williams. Ela aperfeiçoou o jogo. Acho que seria um grande jogo, com diferentes forças e fraquezas.
– Quem pensa que pode substituir Serena como número um do ranking feminino?
Substituir Serena? Quem sabe, há várias jogadoras que têm possibilidade e capacidade para ocupar o primeiro lugar, mas quem é que consegue? É um lugar muito difícil de ocupar. Ela tem de sair primeiro para dar alguma chance às outras.
– Portugal não tem uma tradição forte no ténis. O que é possível fazer para que uma nação sem história no ténis consiga formar potencial para o futuro?
É difícil em muitas maneiras, sobretudo a nível económico e de oportunidades. Para se jogar futebol apenas é preciso uma bola e algumas pessoas; já para jogar ténis é preciso um court, uma rede, raquetes, bola… É um desporto caro e é raro existir essa oportunidade. Num país em que as pessoas têm dificuldades financeiras, o ténis não é a primeira coisa na mente das pessoas. Tem muito a ver com desenvolvimento económico e então mais miúdos poderão ter uma chance de jogar ténis. Vai levar gerações até o ténis atingir todos os países do Mundo.
- Além do sucesso no ténis, foi um rosto importante na defesa de várias causas sociais, como os direitos dos homossexuais, a proteção dos animais e o apoio a crianças desfavorecidas. Em que medida é que o ténis foi importante para travar essas batalhas e de que forma é que o ténis a define enquanto pessoa?
O ténis não me define, mas ajudou-me a ser a pessoa que sou hoje. Deu-me uma vida fantástica e a plataforma para poder tocar a vida das pessoas de uma maneira positiva fora dos courts. É um grande privilégio e que também tem sido uma grande responsabilidade. Tentei fazer o melhor que pude com isso. Nunca me defini como uma pessoa melhor ou pior por ganhar ou perder um jogo, mas ajudou a definir-me como ser humano, porque deu-me as ferramentas para me moldar.
- O sérvio Novak Djokovic é o único tenista nomeado para o prémio de atleta do ano dos Laureus, onde compete com Cristiano Ronaldo. Pensa que o futebolista português pode ser o primeiro jogador de futebol a vencer este galardão?
Sei como votei, mas não posso dizer-te. Cristiano teve um ano impressionante e de certa forma é mais difícil dominar quando se está num desporto coletivo e que tem 11 jogadores na equipa. Conseguir brilhar tanto merece um grande reconhecimento. Pensava que se surgisse um futebolista a ganhar este prémio seria Lionel Messi, mas o ano que Ronaldo teve em 2014 foi fantástico e é claramente possível ele ganhar. É um grande feito.
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