Continuar a surfar até se cansar. Este é o mote de Jordi Smith, surfista sul-africano, que teima em adiar o ato de pendurar a prancha.

Residente no circuito mundial de surf nos últimos 17 anos, o mais “velho” no Championship Tour (CT), depois da reforma de Kelly Slatter em 2024, limita-se a um seco: “Amo isto”, declaração de amor disparada após fechar uma das baterias do MEO Rip Curl Pro Portugal, em Peniche, Supertubos.

"Levanto-me todas as manhãs e digo que adoro isso”, reforçou com os pés bem assentes na areia e a água salgada ainda bem visível na ponta dos lábios. Enquanto este sentimento não se for embora, vou fazer isto o tempo que puder", assegurou o veterano surfista, 37 anos.

Eliminado em Supertubos por Felipe Toledo, despediu-se em 9.º lugar da etapa portuguesa do circuito de elite da Liga Mundial de Surf (WSL). Nos tubos da Capital da Onda, foi vice-campeão por três vezes, 2010 e 2014 e 2019, e falhou numa só ocasião, em 2015, por lesão.

Obcecado pelo treino, sair como campeão, tal como o seu compatriota Shaun Tomson (1977), até à data o único sul africano coroado, poderia ser a melhor forma de fechar a longa carreira. “Seria bom”, sorriu o sul africano que ficou à porta do céu em 2010, perdeu para Kelly Slater num momento precoce da sua carreira e 2016 (atrás de John John Florence).

MEO Rip Curl Pro Portugal
MEO Rip Curl Pro Portugal SUPERTUBOS, PENICHE, PORTUGAL - MARCH 23: Jordy Smith of South Africa prior to surfing in Heat 4 of the Round of 16 at the MEO Rip Curl Pro Portugal on March 23, 2025 at Supertubos, Peniche, Portugal. (Photo by Manel Geada/World Surf League) créditos: 2025 World Surf League

Falta-lhe esse pináculo, mas a vitrine de casa de Jordy Smith está bem preenchida. Natural de Durban, na província de KwaZulu-Natal, foi campeão mundial júnior WSL e campeão mundial ISA (World Surfing Championship), em 2006, venceu, no ano seguinte, o Circuito de Qualificação Mundial garantindo uma vaga no Championship Tour (CT), onde foi rookie do ano, em 2028.

Soma seis vitórias em etapas ao longo do globo. Billabong Pro J-Bay (2010 e 2011),  Billabong Rio Pro (2013), the Hurley Pro Trestles (2014 e 2016) e o Rip Curl Pro Bells Beach (2017).

Falhou a estreia olímpica em Tóquio 2020, devido a lesão. Foi nono em Paris2024. Não regressou de ouro ao peito e, talvez por essa razão, não atirou para trás das costas o surf profissional como chegou a equacionar a revista australiana “Stab”.

A ajuda da Internet na globalização do surf 

De fato vestido e prancha na mão, no areal da Praia do Medão, instantes antes de subir a escadaria que o levaria à banheira de água quente reservada aos atletas, recorda os primeiros tempos do Tour.

“Quando comecei, era dominado por americanos e australianos. Agora, vemos surfistas da África do Sul, México, Marrocos ou Portugal”, apontou. “Há gente de todos os lugares, de países diferentes”, realçou.

Uma invasão de nacionalidades no CT cuja razão pode ser explicada, de acordo com Jordi Smith, pelas explosão democrática do uso das novas tecnologias. “A internet é uma boa ferramenta para aprender, as pessoas podem assistir a vídeos de qualquer lugar do mundo e aprender”, disse do alto do seu 1,90 de altura. “E, isso, é ótimo. A cultura está a crescer e acho que o apoio e o surf, em geral, está cada vez maior”, atestou.

O sul-africano contribui ele mesmo para a globalização mediática do desporto que, em boa hora, escolheu em detrimento do futebol.

É um dos protagonistas do filme “Plus27”, anteriormente lançado no Red Bull TV e recolocado nos ecrãs, de novo, no início do ano.  Um vídeo de 23 minutos que retrata a viagem do surfista de elite na costa sul-africana nas “férias” da temporada 2024.

Adepto do Sport Lisboa e Benfica, deixa, mais um vez Portugal sem atingir a glória, mas não deixa em pés alheios os elogios à paragem portuguesa do circuito mundial de elite.

"Portugal e Peniche têm um dos melhores beach breaks. É incrível”, reconheceu. "Os dois dias antes do começo da competição foram insanos. Numa escala de 0 a 10 pontos, seria um 9,5 , e em qualquer lugar do mundo, seria um A+", rematou.