As autoridades locais e o FBI investigam o aparecimento de uma corda para enforcamento na garagem de Darrell 'Bubba' Wallace, o único piloto negro da Nascar, que esta segunda-feira (22) foi acolhido pelos seus adversários no início de uma corrida no circuito do Alabama.

Os pilotos homenagearam Wallace, emocionado, acompanhando o seu carro até a linha de partida da prova GEICO 500, disputada no circuito Superspeedway de Talladega (Alabama).

Na noite de domingo, a Nascar informou que uma corda para enforcamento tinha sido encontrada na garagem de Wallace, que, há menos de duas semanas, foi peça-chave para convencer o organismo a proibir a Bandeira da Confederação, símbolo de divisão entre norte-americanos, nos circuitos e nas suas instalações.

"Estamos com nojo, indignados e não podemos expressar mais firmemente a seriedade com a qual recebemos esse ato atroz. Iniciamos uma imediata investigação e faremos todos os possíveis para identificar a pessoa responsável e eliminá-la do desporto. Não há lugar para o racismo na Nascar", declarou a Nascar em comunicado.

Na manhã desta segunda-feira, a procuradoria estatal informou que, em conjunto com o FBI, iniciou "a revisão da situação envolvendo a corda para enforcamento encontrada na garagem de Bubba Wallace para determinar se há violações da lei federal".

Darrell 'Bubba' Wallace, o único piloto negro da Nascar
Darrell 'Bubba' Wallace, o único piloto negro da Nascar créditos: CHRIS GRAYTHEN / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / GETTY IMAGES VIA AFP

"Independentemente de se poder apresentar acusações federais, este tipo de ações não tem lugar na nossa sociedade", afirmou, em comunicado Jay E. Town, procurador-geral do Distrito Norte do Alabama.

Wallace, 26 anos, foi um dos muitos atletas norte-americanos que se manifestaram contra a morte de George Floyd, assassinado pelo polícia de Minneapolis em 25 de maio, um ato que desencadeou a maior onda de protestos contra o racismo no país nas últimas décadas.

"O desprezível ato de racismo e ódio de hoje deixa-me incrivelmente triste e serve como uma dolorosa lembrança do muito que nos resta a percorrer como sociedade e da persistência que temos que ter na luta contra o racismo", escreveu Wallace na noite de domingo, na sua conta no Twitter.

No início do mês, no auge do clima de indignação nacional pelo assassinato de Floyd, Wallace protestou energicamente pela proibição nas instalações da Nascar da Bandeira da Confederação, associada por muitos ao racismo e à escravatura nos Estados Unidos da América. O pedido do piloto foi acatado e a proibição oficializada pela Nascar a 10 de junho.

"Nas últimas semanas, vi-me arrebatado pelo apoio das pessoas na indústria da Nascar, inclusive de outros pilotos e membros da equipa. Juntos, o nosso desporte comprometeu-se a impulsionar uma mudança real e a defender uma comunidade que aceita e acolhe a todos", declarou Wallace.

"Nada é mais importante e ações reprováveis dos que procuram difundir o ódio não vão nos dissuadir (...) Isso não me fará desistir, não irei render-me nem esconder-me. Vou continuara a defender com orgulho o que acredito", concluiu o piloto.

Nas últimas semanas, Wallace exibiu no seu carro várias mensagens de apoio aos protestos contra o racismo, como o lema 'Black Lives Matter' (As vidas dos negros também tem importância).

- Apoio de atletas -

Wallace, da equipa Richard Petty Motorsports, competiria no domingo na corrida GEICO 500 no circuito Superspeedway de Talladega, no Alabama, mas a prova foi adiada devido a problemas meteorológicos.

O início da prova tornou-se numa demonstração maciça do apoio dos pilotos a Wallace, visivelmente emocionado.

Dezenas de pilotos juntaram força para empurrar o carro número 43 de Wallace até a parte dianteira da grelha de largada.

Darrell 'Bubba' Wallace, o único piloto negro da Nascar
Darrell 'Bubba' Wallace, o único piloto negro da Nascar créditos: CHRIS GRAYTHEN / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / GETTY IMAGES VIA AFP

Wallace saiu do carro a chorar, enquanto os colega, um a um, abraçavam-no, em solidariedade. Entre eles também estava a lenda da Nascar e dono da equipa de Wallace, Richard Petty, que viajou para o Alabama aos 82 anos para acompanhar O seu piloto.

No final da corrida, vencida pelo americano Ryan Blaneu (Team Penske) numa final emocionante, Wallace aproximou-se das grades para agradecer o apoio de um grupo de adeptos.

"O desporto está a mudar. Lamento por não estar a usar máscara, mas quero que, quem quer que tenha sido, veja que não vai tirar o meu sorriso. Vou seguir em frente", disse Wallace no fnial fim da prova, que concluiu na 14ª posição.

A GEICO 500 é a segunda corrida da Nascar que será realizada com público nas bancadas desde que a competição voltou, em meados de maio, após dois meses suspensa devido à pandemia de COVID-19.

A 14 de junho, mil adeptos puderam presenciar das bancadas as 400 Milhas de Miami.

A corrida no Alabama é vista como o primeiro grande desafio para a proibição da Bandeira da Confederação. tradicionalmente exibida nos circuitos da Nascar, principalmente no sul do país.

A Nascar prevê que até cinco mil pessoas presenciem a corrida no circuito de Talladega. Pouco antes da suspensão da prova devido à chuva, um avião rebocando uma Bandeira da Confederação sobrevoou o circuito.

O mundo desportivo americano vem apoiando o movimento contra a desigualdade racial e a brutalidade policial contra os negros, em resposta ao assassinato de George Floyd.

Diversos atletas manifestaram o seu apoio a Wallace nas últimas horas, como LeBron James, maior estrela da NBA, e o piloto de Fórmula 1 Lewis Hamilton.

"É repugnante que isto esteja a acontecer, cuidado e fique alerta, irmão", escreveu Hamilton no Instagram. "Apoiando-te de longe, orgulhoso de que fizeste", acrescentou.

"Bubba Wallace, meu irmão! Sabes que não estás só! Estou contigo, assim como todos os outros atletas", escreveu no Twitter o craque dos Los Angeles Lakers. "Só quero continuar a dizer o quão orgulhoso estou de ti por teres adotado uma posição para a mudança aqui nos Estados Unidos e nos desportos".

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