Jonas Vingegaard escudou-se hoje na sua forma inteligente de correr para responder às críticas de Tadej Pogacar e Remco Evenepoel, que recriminaram a postura defensiva do ciclista dinamarquês na nona etapa da Volta a França.
“Mais do que ‘falta de coragem’, falaria mais em inteligência de corrida”, defendeu hoje Vingegaard, em conferência de imprensa, no primeiro dia de descanso da 111.ª ‘Grande Boucle’.
A expressão usada pelo atual bicampeão do Tour, e terceiro classificado da geral desta edição, foi, na realidade, bem menos elegante do que a tradução indica, remetendo para a frase ‘crua’ usada por um muito descontente Remco Evenepoel na véspera.
O belga da Soudal Quick-Step uniu-se ao camisola amarela Tadej Pogacar (UAE Emirates) para criticar Vingegaard, que recusou colaborar quando, durante a nona etapa, os três fugiram do grupo de favoritos a mais de 70 quilómetros da meta, ganharam uma vantagem de cerca de 40 segundos e ‘engataram’ na fuga, antes de abdicarem dada a passividade do corredor da Visma-Lease a Bike.
“Se parto a 70 quilómetros da meta, e eles me fazem deslocar na última secção de gravilha, perderia o Tour ontem [domingo]. O meu objetivo era segui-los. Não queríamos perder tempo e conseguimos. As pessoas podem não compreender, mas é um problema delas”, insistiu Vingegaard.
Bem mais calculista do que os ciclistas que o precedem na geral, o líder da Visma-Lease a Bike, que só segue indicações da sua equipa e nunca instintos, limitou-se sempre a responder a Pogacar e Evenepoel, que tentaram usar os inéditos troços de estrada por asfaltar para sentenciar a geral.
“Podíamos ter ganhado tempo e consolidar o pódio. A Visma está fixada em mim e isso pode sair-lhes caro”, avisou o camisola amarela, enquanto o líder da juventude e segundo da geral lamentou a falta de colaboração de Vingegaard: “A corrida podia ter terminado ali”.
Perante as críticas dos seus mais diretos adversários, o dinamarquês preferiu sorrir e dizer sentir-se melhor do que esperava, numa alusão ao período de recuperação que enfrentou depois da Volta ao País Basco, no início de abril.
“Sinto-me cada vez melhor. Encontrei-me a um muito alto nível, muito mais elevado do que eu poderia imaginar”, reiterou, ressalvando não poder precisar exatamente qual é o seu estado de forma: “Talvez um pouco inferior ao do ano passado”.
Vingegaard passou duas semanas no hospital, após sofrer fratura de clavícula e várias costelas, uma contusão pulmonar e um pneumotórax, e, por isso, não sabe como o seu corpo vai reagir na última semana da 111.ª edição, na qual estão concentradas as etapas de alta montanha.
“O meu acidente mudou a minha perspetiva sobre as coisas. Há sempre ambição, mas sei que a vida continua quer eu ganhe, quer eu perca. Não é algo mau, pelo contrário. Sinto menos pressão. Estou contente de estar aqui e, simplesmente, de ainda estar vivo”, confessou.
O bicampeão em título é terceiro da geral, a 01.15 minutos do esloveno da UAE Emirates, com Evenepoel na segunda posição, a 33 segundos do camisola amarela.
A Volta a França cumpre hoje o seu primeiro dia de descanso e termina com um contrarrelógio em Nice, em 21 de julho.
Comentários