Um erro de principiante custou hoje a camisola amarela a Julian Alaphilippe (Deceuninck-QuickStep), numa quinta etapa da Volta a França, conquistada pelo belga Wout van Aert (Jumbo-Visma), em que os ciclistas ‘passearam’ até à meta.
A culpa pelo clamoroso lapso que hipotecou a liderança do francês terá de ser repartida entre o próprio, que ignorou uma das regras básicas do ciclismo – o abastecimento não é permitido nos últimos 20 quilómetros – e pela Deceuninck-QuickStep, que colocou um elemento do seu ‘staff’ na berma da estrada, a 17 quilómetros da meta, para entregar um ‘bidon’ ao camisola amarela.
A emissão televisiva captou o momento, o colégio de comissários viu, penalizou o infrator em 20 segundos, como indicam os regulamentos, e Julian Alaphilippe perdeu a liderança da geral, um dia antes do esperado, e depois de ter concluído a quinta etapa no pelotão, onde também chegou o ‘sortudo’ da jornada, o novo camisola amarela Adam Yates (Mitchelton-Scott).
“Ninguém quer vestir a amarela desta maneira, mas sim conquistando-a ou ganhando tempo” aos adversários, assumiu o britânico que “estava no autocarro, já tinha tomado banho” quando alguém telefonou ao seu diretor desportivo para pedir-lhe que o levasse ao pódio”. “É a segunda vez que isto me acontece”, recordou, referindo-se ao dia em que Chris Froome subiu o Mont Ventoux (2016) a correr e em que Yates foi por breves instantes o novo líder da geral.
Até este inesperado desfecho, não havia muito para contar da quinta etapa da Volta a França e, por isso mesmo, havia tanto para contar: os 172 ciclistas deram uma má imagem de si próprios, adotando um ritmo de cicloturismo domingueiro, sem que ninguém tivesse, sequer, tentado formar uma fuga, algo certamente inédito na Volta a França.
Após quase cinco meses de paragem, e de muitos lamentos pelo impacto da covid-19 na sua profissão, o pelotão do Tour desaproveitou, pelo segundo dia consecutivo, depois da dececionante primeira chegada em alto (e da ‘neutralização’ combinada na primeira etapa), mais uma oportunidade para se mostrar, com os motivos de interesse dos 183 quilómetros entre Gap e Privas a resumirem-se à luta pela camisola verde, com Sam Bennett (Deceuninck-QuickStep) a levar a melhor sobre um irreconhecível Peter Sagan (Bora-Hansgrohe).
Nem a ameaça de vento lateral, e a perspetiva de possíveis ‘abanicos’, quebrou a letargia da caravana, que só na aproximação à meta, a seis quilómetros do final, se separou, quando Michał Kwiatkowski (INEOS) acelerou para causar cortes no grupo e, quem sabe, apanhar desprevenidos os pretendentes a destronar o campeão em título, o colombiano Egan Bernal, mas só conseguiu deixar para trás homens sem pretensões na geral.
No falso plano de Privas, impôs-se Wout Van Aert, diante do holandês Cees Bol (Sunweb), e de Bennett e Sagan, respetivamente terceiro e quarto, naquela que o belga da Jumbo-Visma descreveu como “a etapa mais fácil desde o início da sua carreira profissional”.
Com as mesmas 04:21.22 horas do vencedor, cortaram a meta todos os favoritos, assim como o português Nelson Oliveira (Movistar), que é 62.º na geral, a 17.40 minutos do novo camisola amarela.
“É uma decisão oficial do júri, não posso fazer nada. É como é, não há problema”, reagiu Alaphilippe depois de saber que caiu para a 16.ª posição da geral, liderada por Yates, com os eslovenos Primoz Roglic (Jumbo-Visma), segundo a 03 segundos, e Tadej Pogacar (UAE Emirates), terceiro a 07, imediatamente atrás de si.
O ciclista da Mitchelton-Scott irá enfrentar os 191 quilómetros da sexta etapa, que parte de Le Teil e inclui uma contagem de primeira categoria a 13,5 quilómetros da meta, instalada em Mont Aigoual, com uma vantagem de 13 segundos para os restantes candidatos à vitória final no Tour, como o caso de Egan Bernal, vencedor em 2019.
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