Nelson Oliveira, o único português na 107.ª Volta a França, reconheceu sentir-se “bastante feliz” por ter merecido a confiança da Movistar, num ano "diferente”, em que espera que todos os ciclistas possam chegar a Paris imunes à covid-19.
“Sinto-me bastante feliz por, mais uma vez, estar ao lado desta equipa e, como todos os anos, estou preparado para a ‘guerra’ e para dar tudo pelos meus companheiros. Já sabemos que vou normalmente para trabalhar para os meus colegas. Este ano, poucos contrarrelógios há – só um, no penúltimo dia -, por isso vamos dia-a-dia e vendo como se vai desenrolar este Tour”, começou por dizer à agência Lusa.
Aos 31 anos, o ciclista de Vilarinho do Bairro (Anadia) vai para a sua quinta Volta a França, depois das presenças em 2014 e 2015, ainda em representação da Lampre-Merida, e em 2016 e 2019, já na equipa espanhola, mantendo as metas de sempre.
“Não tenho objetivos, o meu objetivo principal é ajudar a equipa. Se me derem uma oportunidade de ir para uma fuga e se tiver a oportunidade de ganhar uma etapa, ganho-a com todo o gosto”, confessou, a rir-se.
O quatro vezes campeão nacional de contrarrelógio (elites) e medalha de prata na especialidade nos Jogos Europeus Minsk2019 tinha previsto regressar este ano à Volta a Itália, após sete anos de ausência, mas viu a pandemia de covid-19 alterar o seu plano, que incluía a presença nos Jogos Olímpicos Tóquio2020, adiados para o verão de 2021.
“É um ano bastante diferente de todos os outros, porque a pandemia provocou grandes alterações de calendário. A opção de eu apontar para o Giro era para mais tarde poder fazer os Jogos Olímpicos, para ter tempo de treinar e de me preparar sem ter a Volta a França. Este foi o calendário proposto pela equipa e eu aceitei com muito agrado”, assumiu.
Um ano depois de subir ao pódio nos Campos Elísios, para festejar o triunfo da Movistar na classificação por equipas, Nelson Oliveira não esconde o orgulho por fazer parte do ‘oito’ da formação espanhola nesta edição, algo que encara como um sinal de confiança, nem a alegria de ver a prova mais importante do calendário velocipédico internacional a sair para a estrada, no sábado, em Nice.
“Ao início, estávamos todos confiantes de que se fazia [o Tour], mas depois foram-se passando os meses e tivemos a sensação de que não ia acontecer, porque começaram a cancelar e a adiar bastantes corridas. Creio que todos ficámos a duvidar se seria possível o Tour ir para a estrada este ano. Felizmente, as coisas vão para a frente, pelo bem do ciclismo em geral. Estamos a conseguir sobreviver e vamos indo e vamos vendo dia-a-dia se chegamos a Paris”, notou.
Admitindo que todos estão preocupados com o novo coronavírus, um sentimento agravado nas últimas semanas com o aumento de casos de infeção em França, o também vencedor de uma etapa na Volta a Espanha (2015) garantiu que irá abstrair-se completamente da pandemia assim que a 107.ª edição da ‘Grande Boucle’ começar, a menos que surjam casos positivos no pelotão.
Nesse sentido, parece “bastante óbvio” a Oliveira que a organização da prova francesa tenha desenhado um protocolo sanitário, no qual se inclui uma diretriz segundo a qual dois casos de covid-19 numa equipa no espaço de sete dias implicam a exclusão da mesma da competição.
“Se há um positivo ou há dois, já estamos a meter em perigo toda uma grande Volta e muitas equipas. O que me parece é que tem de ser assim: há regras a cumprir e temos de as cumprir todos. Esperemos que nada aconteça e que possamos terminar todos este Tour”, resumiu.
Num ano atípico no ciclismo, e também na Volta a França, que foi adiada das suas datas originais (27 de junho a 19 de julho), decorrendo agora entre sábado e 20 de setembro, ‘Nelsinho’, como lhe chamam, terá ainda de acostumar-se a outra realidade: a de ser o único representante nacional.
“Vai ser um bocado estranho, porque não posso falar o meu português durante a etapa, mas são fases e esperemos que para o ano estejamos aqui dois, três, quatro, quanto mais melhor. Mas vou ter saudades de falar o meu português no pelotão”, concluiu.
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