Chris Froome, ciclista britânico da Sky, incorre numa suspensão por ter valores acima dos autorizados na urina de salbutamol, uma substância utilizada para o tratamento da asma e utilizada por desportistas, entre os quais ciclistas. A análise à urina de Froome realizada em 07 de setembro, após a 18.ª etapa da Volta a Espanha, revelou uma concentração de 2.000 nanogramas por militro, o dobro do autorizado pela AMA, acrescentou a equipa britânica.
Salbutamol: estimulante e agente anabolizante
Mais conhecido por Ventoline, um dos medicamentos mais utilizados no tratamento da asma, o salbutamol (um estimulante do aparelho respiratório) está inscrito nos medicamentos de classe A (estimulantes) e também da classe C (agentes anabolizantes). A sua presença na urina, numa concentração superior a mil nanogramas por mililitro de urina, coloca-o fora da utilização terapêutica intencional e será considerado como um resultado anormal pela Agência Mundial Antidoping (AMA). Em doses elevadas, tem efeitos anabolizantes, permitindo o aumento da massa muscular e a diminuição da gordura corporal.
A Sky refere que as regras da Agência Mundial Antidopagem (AMA) permitem o recurso ao salbutamol sem isenções de uso terapêutico (TUE) quando inalado até 1.600 microgramas num período de 24 horas e não mais do que 800 em 12 horas.
Quando usado em grandes quantidades, o salbutamol cai na categoria de anabolizantes, que pode secar o corpo de atletas e aumentar a sua massa muscular. O salbutamol tem sido um dos temas em conversas sobre doping. Miguel Indurain e Oscar Pereiro, por exemplo, também foram apanhados a usar este fármaco em doses excessivas, mas conseguiram ser ilibados já que provaram que usaram o salbutamol para fins terapêuticos (o salbutamol está no grupo de medicamentos autorizados para uso terapêutico).
Atividade física promove asma
“O Ventilan melhora a respiração mesmo aos não asmáticos. Uma simples inalação dos vasodilatadores aumenta o consumo de oxigénio em 0,3 litros”, disse em junho o médico Jean-Pierre de Mondenard, sobre as ambiguidades da asma ligada ao desporto.
O médico francês, citado pela agência AFP, justificou o aumento de desportistas a contas com esta doença, como consequência da própria atividade física: “Estudos mostram que o desporto promove a asma e que há mais asmáticos nos desportos de alta competição do que na população em geral, porque as enormes necessidades de oxigénio são causadoras de asma”.
Froome culpa asma pela dose elevada de salbutamol
“A minha asma piorou na Vuelta, pelo que segui os conselhos do médico da equipa para aumentar as minhas doses de salbutamol. Como sempre, tomei as maiores precauções para garantir que não excedia as doses permitidas”, afirmou Froome, que venceu a Vuelta, em setembro, depois de, em julho, ter reeditado os triunfos no Tour de 2013, 2015 e 2016.
Pouco depois da Vuelta, também em 20 de setembro, Froome conquistou a medalha de bronze na prova de contrarrelógio individual dos Mundiais de estrada, em Bergen, na Noruega, deixando o português Nelson Oliveira (Movistar), na quarta posição.
Com este controlo adverso, confirmado pela contra-análise, Froome terá de provar “num estudo farmacocinético controlo que este resultado anormal é efetivamente consequência do uso de uma dose terapêutica [por inalação]”, esclarecem as regras antidopagem.
Mesmo produto, diferentes decisões
Mais recentemente, o italiano Alessandro Petacchi foi suspenso num caso semelhante ao de Chris Froome. O velocista italiano, então em Milram, sofria de asma, mas ultrapassou o teto de 1.000 ng / ml. Recorreu da suspensão ao TAS (Tribunal Arbitral do Desporto) mas este tribunal declarou que o ciclista não conseguiu provar o uso terapêutico do produto e condenou o atleta a uma suspensão de um ano.
O espanhol Miguel Indurain passou por uma situação semelhante à de Froome em 1994, mas antes de conquistar o seu quarto Tour – tal como o britânico viria a fazer –, teve um controlo antidoping “anormal” no Tour de Picardie, em França, acusando, também, salbutamol.
Indurain compareceu perante a comissão de disciplina da federação francesa de ciclismo, que ficou com o processo e o inocentou.
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