O ex-presidente da União Ciclista de Sobrado (UCS) Nuno Ribeiro disse hoje em tribunal que o antigo diretor desportivo da OFM-Quinta da Lixa José Barros desviou milhares de euros da equipa e falsificou cheques em seu nome.
O ex-ciclista e atual diretor desportivo da W52-FC Porto era, à data dos factos, presidente da UCS, e foi ouvido como testemunha na primeira sessão do julgamento de José Barros (ausente devido a doença), acusado pelo Ministério Público (MP) do crime de abuso de confiança e de desviar, para benefício próprio, entre 2013 e 2014, cerca de 130 mil euros da coletividade, valor do Pedido de Indemnização Cível apresentado pela UCS, que se constituiu assistente no processo.
Nuno Ribeiro contou ao Tribunal de Valongo, distrito do Porto, que, em novembro de 2012, outorgou uma procuração a José Barros, então treinador na formação da equipa de ciclismo, para que assumisse a gestão da UCS, pois assinara contrato com a equipa Efapel.
O ex-ciclista explicou que era “incompatível” representar uma equipa que, em 2013, iria competir com aquela da qual era presidente, sublinhando que a procuração permitia a José Barros “fazer tudo”, inclusive contratar ciclistas.
Segundo a acusação do MP, José Barros apropriou-se de cerca de 130 mil euros da UCS, através de transferências para a sua conta bancária, do uso do cartão multibanco da coletividade ou pela emissão de cheques em nome de pessoas próximas de si.
Nuno Ribeiro contou que deixou três cheques por si assinados para que José Barros, pessoa “em quem confiava”, os usasse na gestão da UCS, sendo que um deles foi passado à ordem “de um primo” do arguido.
A testemunha relatou que José Barros também ficou com cerca de 80 mil euros do principal patrocinador da equipa.
O antigo vencedor da Volta a Portugal em bicicleta afirmou que o arguido também “falsificou” a sua assinatura noutros cheques, supostamente para “pagar despesas”, lembrando as “dívidas” que José Barros deixou acumular, nomeadamente a fornecedores de equipamentos, 60 mil euros às finanças devido a portagens e ordenados em atraso aos ciclistas.
Nuno Ribeiro, que regressou à UCS em 2014, para competir como ciclista, mantendo o cargo de presidente, do qual nunca abdicou por ser “a imagem” da equipa para a angariação de patrocínios, contou que José Barros deixou de pagar os ordenados aos ciclistas entre agosto de 2013 e julho de 2014, levando ao seu despedimento dois dias antes (02 de agosto de 2014) do início da Volta a Portugal desse ano.
José Barros foi afastado da OFM-Quinta da Lixa na véspera da apresentação da equipa que iria participar na Volta a Portugal, entre 30 de julho e 10 de agosto de 2014, depois de os ciclistas terem feito um ultimato à direção da União Ciclista de Sobrado, garantindo que teria de escolher entre eles e o então diretor desportivo.
“O meu afastamento da Volta a Portugal foi consequência de diversas situações/acontecimentos que tratarei internamente com a equipa, como tal, não deverei opinar, para já, publicamente sobre elas”, referia José Barros, em comunicado enviado nesse dia à agência Lusa.
Na ocasião, José Barros assumiu que o seu comportamento, enquanto diretor da União Ciclista de Sobrado, “sempre foi pautado pelo maior profissionalismo”, remetendo mais esclarecimentos para o fim da Volta a Portugal em bicicleta desse ano, o que nunca aconteceu.
Nuno Ribeiro explicou que conseguiram arranjar entre 10 a 11 mil euros através de um patrocinador, o que permitiu à OFM-Quinta da Lixa participar na Volta a Portugal desse ano.
O antigo ciclista contou ainda um episódio em que José Barros “deu uma bicicleta e duas rodas”, avaliadas em mais de “cinco mil euros” a Alejandre Marque, como forma de completar o ordenado em atraso ao ciclista espanhol.
Após mais de duas horas e meia de inquirição, já perto do final da sessão, a juíza, com sinais de impaciência, questionou Nuno Ribeiro sobre o facto de ser presidente de uma instituição e de “tudo lhe passar ao lado”.
“O senhor era presidente, mas passava-lhe tudo ao lado, desinteressava-se disso, não sabia a quantas é que aquilo [gestão da UCS] andava, quando era o seu nome [que estava em causa]”, afirmou a juíza.
Nuno Ribeiro reiterou que “nunca fiscalizou nada” nem “nunca pediu qualquer satisfação” a José Barros.
O julgamento prossegue a partir das 13:30 de segunda-feira com as inquirições de mais testemunhas, entre as quais os ciclistas Gustavo Veloso e Rui Vinhas.
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