Pedro Martins defende que é premente inverter a desvalorização do ciclismo nacional, apostando no diálogo, na transparência e na valorização para o conseguir, numa “altura chave” para clamar por um contrato-programa específico para a pista.
Em entrevista à agência Lusa, o presidente da Associação de Ciclismo da Beira Alta explicou que decidiu candidatar-se à presidência da Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC) “pela necessidade que há na mudança do futuro da modalidade em Portugal”.
“A modalidade tem estado em desvalorização, ano após ano, e isso tem de mudar urgentemente. O ciclismo em Portugal tem de estar alinhado com a modalidade noutros países do mundo. Temos condições para isso”, argumentou.
Pedro Martins indicou que a candidatura da sua lista, a B, está assente em três eixos, o primeiro dos quais a valorização “do ciclismo enquanto modalidade desportiva, enquanto prática de lazer”.
“É a valorização das carreiras desportivas, a valorização das carreiras dos atletas, dos treinadores, dos comissários, das associações regionais. A valorização da cultura do ciclismo em Portugal, acima de tudo. Porque enquanto nós não começarmos a trabalhar mais o aumento da cultura do ciclismo em Portugal, vai ser muito difícil evoluir”, afirmou.
Para o candidato, “o ciclismo nos últimos anos tem sido uma modalidade desportiva fechada sobre si”, e que, “normalmente, só é promovida dentro de uma determinada comunidade”.
“O que tem saído cá para fora é o mau: os casos de doping, maioritariamente. Mas nós somos muito mais do que isso”, defendeu.
Assim, Martins quer criar um canal de televisão próprio, “onde todos os dias há programação relacionada com ciclismo, entrevistas a atletas, entrevistas a treinadores, a transmissão de competições nacionais e internacionais”.
Já no eixo da transparência, o dirigente acredita que é “extremamente importante” perceber como é gerido o dinheiro da FPC.
“Como é que os órgãos sociais, por exemplo, gastam ou têm despesas com as representações da federação? Quem é que sabe? Ninguém sabe. Havendo transparência, há confiança. Uma das coisas que nós queremos introduzir é um programa de transparência, que nos obriga a nós, enquanto órgãos sociais, a publicitar no site da federação o quanto é que foi gasto e como é que foi gasto, por exemplo”, avançou.
A transparência estende-se à “forma como são feitas as nomeações dos comissários para as provas nacionais”, mas também a como são escolhidos os ciclistas que vão representar Portugal nas seleções nacionais. “Não há um critério de seleção. Nós vamos criar esses critérios”, pontuou.
Para promover o diálogo, Martins quer reuniões mensais ou trimestrais com a comunidade: “Ao longo do ano, nós como direção, eu como presidente, vou querer saber qual é o estado da comunidade. O que é que está a acontecer no dia-a-dia deles? O que é que é bom? O que é que é mau? O que é que temos que corrigir? No final do ano, fazemos uma reunião novamente para fazer um resumo do que aconteceu durante a época”.
Com a pista em ascensão, o candidato acredita que esta é a “altura chave” para “tocar à campainha do nosso primeiro-ministro” e dizer que é preciso mais “qualquer coisa” para esta vertente.
“Por várias vezes, perguntei por que é que a FPC não fez ainda um contrato-programa com o Estado para financiamento do ciclismo de pista. Por que temos necessidade de ir buscar dinheiro a outros programas, a outras vertentes, para meter na pista? Se a pista é importante, e é tanto que foi a nossa medalha de ouro nos Jogos Olímpicos deste ano, porque é que não tem um programa de financiamento próprio?”, interrogou.
No entanto, Martins defende que também outras vertentes, como o BTT, e mais especificamente o cross country olímpico (XCO), têm de ser mais trabalhadas.
“A federação tem de deixar de olhar para aquilo como uma vertente amadora, porque nos outros países ela não é amadora. Há atletas que têm carreiras profissionais de XCO, que têm vencimentos […]. Não podemos tirar-lhes o tapete e dizer ‘ se só gostas de BTT, vais ser amador para o resto da tua vida’. Temos que lhes dar condições”, advogou.
Já quanto à estrada, o líder da lista B assume que o protocolo com a Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP), que estende o passaporte biológico a todas as equipas profissionais, “sem dúvida” que é para continuar, ao contrário do contrato de concessão da Volta a Portugal, “o evento-âncora do ciclismo em Portugal”, que termina em 2026.
“Está bastante desvalorizada a Volta a Portugal e muito fruto da forma como a competição tem sido gerida nos últimos anos. Portanto, se me diz que a renovação do contrato de concessão com a Podium é uma hipótese, é. Nos moldes atuais, jamais, porque a desvalorização da Volta, em parte, é culpa de quem a está a organizar”, notou, considerando que o organizador se preocupa mais com a “obtenção de lucro” do que com a prova em si.
Se não vencer as eleições de sábado, Pedro Martins ficará “extremamente preocupado com quem ganhar, independentemente de quem seja”, revelando ter sido convidado para estar nos dois projetos e ter recusado por não se identificar “com nenhum dos dois”.
“Claro que vou estar disponível para contribuir e para ajudar a melhorar, conforme tenho feito desde 2019 até agora, porque eu vou continuar a ser presidente da Associação Regional pelo menos até daqui a mais três anos”, finalizou.
Comentários