O italiano Filippo Ganna (INEOS), campeão do mundo de contra-relógio, 'voou' para a sua quarta vitória na Volta a Itália em bicicleta de 2020 na 21.ª e última etapa da prova, confirmando-se como uma das figuras de um Giro que coroou o seu colega de equipa britânico Tao Geoghegan Hart como grande vencedor, mas que teve em dois portugueses duas das suas maiores estrelas.
Com uma velocidade média de 54,556 km/h, Ganna bateu o ritmo de todos neste patamar por dois quilómetros e foi dos poucos a ficar abaixo dos 18 minutos.
O belga Victor Campenaerts (NTT) foi segundo, a 32 segundos, e australiano Rohan Dennis (INEOS), uma das peças chave da vitória de Geoghegan Hart, que foi terceiro. Em quarto, e em mais uma jornada memorável, ficou João Almeida, que fechou um Giro “de sonho”, como o próprio disse, com nova demonstração de força: recuperou os 23 segundos que o distavam do quarto lugar, do espanhol Pello Bilbao (Bahrain-McLaren), e ainda se distanciou em 12 do adversário, para acabar à porta do pódio.
Na geral final, que Hart conquistou à frente do australiano Jai Hindley (Sunweb) por 39 segundos, o holandês Wilco Kelderman (Sunweb) acabou em terceiro, a 1.29 minutos, e João Almeida ficou a 2.57.
Kelderman, que liderou até à 20.ª etapa após ‘roubar’ a camisola rosa a Almeida, que esteve na frente durante 15 dias, pode bem sentir-se ‘traído’ pela equipa, que deixou Hindley, inicialmente seu ‘domestique’, seguir com Hart no Stelvio, na 18.ª etapa, e de novo em Sestriere.
O australiano até chegou à decisão final em primeiro, mas um ‘crono’ competente de Hart confirmou o seu favoritismo na especialidade e ‘pulverizou’ o adversário, que cortou a meta com 39 segundos de atraso.
Hart, de 25 anos, subiu ao pódio três vezes, pela geral, pela geral por equipas e pela juventude, em que Almeida foi terceiro, com o francês Arnaud Démare (Groupama-FDJ) a levar para casa a ‘maglia ciclamino’, dos pontos, e Ruben Guerreiro (Education First) coroado como ‘rei’ da montanha.
“Nem nos meus sonhos mais malucos podia imaginar que isto seria possível quando arrancámos. [...] Na minha carreira, sonhei com um ‘top 10’, talvez um ‘top 5’. Vai demorar a assentar”, contou o britânico, a caminho do pódio, tendo sido abraçado pelo amigo de há vários anos Ruben Guerreiro (Education First), que se juntou a ele como líder da montanha, instantes depois de saber do resultado.
Hindley, por seu lado, não escondeu que perder a ‘maglia rosa’ nos últimos 15,7 quilómetros da 103.ª foi “muito dececionante”, ainda que admita que não mudaria nada na sua prestação.
“Foi um grande salto em frente na minha carreira”, garantiu.
A prova foi, de resto, um grande sucesso para a INEOS, pressionada desde que perdeu o seu líder, o britânico Geraint Thomas, após a terceira etapa, com um total de sete vitórias em etapa, quatro delas de Ganna, a vitória na geral, na classificação da juventude e por equipas – e salvou a temporada, após o dececionante Tour.
O italiano, de resto, é o caso mais surpreendente: desde 1995 que nenhum ciclista vencia três ‘cronos’ na mesma grande Volta, mas foi ainda integrar uma fuga que vingou, somando um ‘póquer’ de vitórias que já é um feito raro entre candidatos à geral ou ‘sprinters’, mas ainda mais para um contrarrelogista.
Já Hart torna-se na nova ‘estrela’ da INEOS, naquela que foi uma ‘corsa rosa’ vocacionada para jovens, uma vez que, do ‘top 5’, três (Hart, Hindley e Almeida) encimaram também a classificação sub-25.
Ruben Guerreiro, outro português em prova, que também brilhou a grande altura ao longo dos 21 dias de prova, terminou o contra-relógio final no 64.º lugar e acabou o Giro no 33.º lugar, mas pôde subir ao pódio como vencedor da montanha, um feito inédito para o ciclismo português em grandes Voltas, num Giro histórico a todos os níveis para Portugal.
Se Guerreiro é o primeiro português a vencer uma das quatro classificações principais em qualquer uma das três grandes corridas, além de vencer a nona etapa, na chegada a Roccaraso, Almeida registou a melhor prestação de sempre de um português na ‘corsa rosa’.
Este quarto lugar bate o quinto de José Azevedo em 2001, além de ser o terceiro ‘top 10’ luso na história da prova, a que se soma ainda o sétimo lugar de Acácio da Silva em 1986.
Comentários