A atleta Marta Pen regressou no domingo à competição pela seleção portuguesa, nos Europeus de corta-mato, depois de ser diagnosticada com cancro da mama, e já aponta aos Mundiais Tóquio2025 e a uma mudança nas distâncias.

“Estou contente. Treinar com calma tem pago os seus dividendos e, apesar das incertezas, hoje [no domingo] foi um momento muito especial. Foi bom poder voltar a testar o meu corpo em competição. Claro que gostava de fazer melhor do que um 50.º lugar, mas uma das coisas que aprendi com a experiência é que os atletas estão tão focados no melhor que vem a seguir que se esquecem de estar presentes, absorver e celebrar o que é”, disse Marta Pen, em entrevista à Lusa.

Gabando o “ambiente fantástico” da seleção portuguesa, que este ano esteve nos Europeus com 39 atletas em Antalya, na Turquia, nota ter saído “muito, muito, da zona de conforto”, como atleta de pista, especializada nos 1.500 metros, para conseguir a qualificação para estes Europeus, mas também “orgulhosa e contente”.

“O terreno [do percurso] era particularmente desafiante. (...) Sendo tão irregular, com tanta mudança de ritmo, para atletas com mais musculatura, como é o meu caso, é um teste muito exigente, não só a nível aeróbico como muscular”, analisa.

Ainda assim, considera ter feito “uma preparação tranquila dentro do possível”, numa vertente em que, apesar da qualificação, tem feito “um trabalho muito de base, com pouco específico”, também tendo em conta a situação que tem vivido nos últimos meses.

“Também me deixa encorajada, porque a verdade é que é uma distância muito exigente para mim. Em 2023, fiz um corta-mato nesta distância e não correu tão bem”, diz.

Este regresso, admite, está enquadrado “numa preparação maior, numa visão maior, do ponto de vista técnico, de objetivos”, em particular a transição dos 1.500 metros, que a levaram a dois Jogos Olímpicos e em que tem 4.03,79 minutos, em 2022, como melhor marca, para os 3.000, no ‘indoor’, e os 5.000 ao ar livre.

“A verdade é que os 5.000 têm sido um grande fantasma nos últimos anos. É uma distância muito exigente, exige muita paciência. Costumo dizer que os 5.000 são uma morte lenta, os 1.500 uma morte rápida, e tem um ‘sniper’ bêbedo. Dá um tiro falhado várias voltas, e vai custando muito durante muito tempo. Nos 1.500, é um ‘sniper’ mais certeiro, quando estoira estoira”, compara.

Depois de sentir, num “terreno tão exigente”, que foi “uma Marta diferente”, em termos mentais, sai com vontade de “consolidar e levar a aprendizagem para a pista coberta e ar livre” e para os próximos objetivos, já definidos.

“Obviamente, [é] conseguir fazer a transição para os 3.000/5.000. Tenho esse potencial, é uma parede que tenho de partir. Tem custado muito, mas sinto que quando ultrapassar essa parede, vou tornar-me uma atleta diferente. Pelo desafio pessoal, quero muito”, afirma.

Ambiciosa, tem como “grande objetivo voltar aos grandes palcos”, e por isso treinou mesmo durante tratamentos, em busca de superar, nas novas distâncias, as marcas que tem de 8.47,07 minutos, em 2023 nos 3.000, e 15.58,87, em 2021 nos 5.000.

“Estou a fazer tudo o que está ao meu alcance para voltar a Tóquio, em 2025, para os Campeonatos do Mundo. Os Jogos Olímpicos existem de quatro em quatro anos, mas há sempre uma onda para apanhar. Os Jogos não foram a minha onda, tive de mergulhar, cuidar de outras coisas, mas espero estar a surfar em 2025. É o meu objetivo mais ambicioso, os mínimos estão mais difíceis do que nunca. Mas os objetivos não garantem que chegamos lá, dão-nos direção para o caminho”, atira.

Ainda assim, e com a questão de saúde ainda muito em cima da mesa, tem como outro objetivo “continuar a viver com a presença de espírito necessária”, levar tudo “num dia a dia”, numa fase em que faz quimioterapia por via oral.

“Está a funcionar bem, mas tenho de estar presente para, se houver uma altura em que tenho de pôr a preparação em pausa em prol da saúde, fazer isso. Não quero ser obcecada com os objetivos, quero estar alinhada com eles”, remata.

A atleta olímpica, que em julho anunciou estar a recuperar de cancro da mama, foi 36.ª nos 1.500 metros no Rio2016 e 19.ª em Tóquio2020, tendo participado nos Mundiais Londres2017 (32.ª), Oregon2022 (30.ª) e Budapeste2023 (42.ª) e nos Europeus Amesterdão2016, nos quais foi quinta, Berlim2018, sexta, e Munique2022 (19.ª).