20 perguntas a Inês Henriques: A luta pelos 50km marcha nos JO e as dificuldades da modalidade

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Desde o superpoder que escolheria às três coisas sem as quais não consegue viver, fique a saber mais sobre a marchadora portuguesa.
20 perguntas a Inês Henriques: A luta pelos 50km marcha nos JO e as dificuldades da modalidade
Antes de cortar a meta, já vinha enrolada na bandeira de Portugal AFP or licensors

Aos 40 anos, Inês Henriques é um dos nomes incontornáveis do atletismo a nível nacional. Numa altura em que a modalidade continua parada devido à pandemia de coronavírus que assolou o mundo, o SAPO Desporto falou com a marchadora portuguesa (através de videoconferência).

Num formato com 20 perguntas (dez relacionadas com a vida profissional e dez com a vida pessoal), a atleta do Clube de Natação de Rio Maior deu-se a conhecer ao público.

Desde o superpoder que escolheria às três coisas sem as quais não consegue viver, fique a saber mais sobre a marchadora portuguesa.

Veja o vídeo.

A história de Inês Henriques 

Inês Henriques, de 40 anos, foi recordista do mundo, campeã do mundo e da Europa nos 50 quilómetros, depois de presenças em três edições de Jogos Olímpicos, com o 25.º lugar em Atenas 2004, o 15.º em Londres 2012 e o 12.º no Rio 2016, sempre nos 20 quilómetros marcha.

A marchadora defendeu o Clube de Natação de Rio Maior desde que se iniciou no atletismo, aos 12 anos, e, numa anterior entrevista ao SAPO Desporto, tinha já explicado porquê.

"Em Rio Maior tenho todas as condições para treinar e recuperar. Num clube grande iria ter benefícios que eram apenas financeiros. Foi contactada por outros clubes, mas tendo em conta que fiz todo o meu percurso no meu clube, o Clube de Natação de Rio Maior, não fazia nos últimos anos da minha carreira sair de Rio Maior. Por opção mantive-me no clube e, neste momento, vou ter um apoio do complexo desportivo de Rio Maior para os próximos anos", referiu a marchadora portuguesa, em entrevista em março de 2019.

A grande marca da atleta de Rio Maior é a medalha de ouro nos 50 quilómetros marcha dos Mundiais de atletismo, que decorrem em Londres, em 2017.

A atleta portuguesa foi cronometrada em 4:05.56 horas, pulverizando o seu recorde mundial, que estava fixado nas 4:08.25 horas e datava de 15 de janeiro de 2017, em Porto de Mós.

Além disso, Inês Henriques foi também campeã europeia nos 50 km marcha femininos, no segundo dia de competições dos Europeus de atletismo de Berlim de 2018.

Numa final quente que arrancou às 07h30 da manhã (hora portuguesa), a marchadora do CN Rio Maior liderou a prova desde o início, concluindo a distância em 4:09.21 horas, impondo-se à ucraniana Alina Tsviliy e à espanhola Julia Takács, segunda e terceira classificadas, respetivamente.

As dificuldades do atletismo em Portugal

Inês Henriques falou ainda sobre as principais dificuldades no atletismo no nosso país. A marchadora portuguesa lamentou que os jovens universitários não recebam apoio suficiente para conciliar os estudos com o desporto e admitiu que essa situação leva a algumas desistências.

"Eu não me costumo queixar, acho que temos de trabalhar para mostrar resultados e para receber apoios e termos os nossos direitos. Não estando integrados na preparação olímpica a vida fica mais tranquilo porque temos uma bolsa mensal e apoio nos estágios, mas se não tivermos é extremamente difícil. Eu licenciei-me em enfermagem e foi muito difícil, porque se estava fora da preparação olímpica as verbas nem sempre chegavam a horas. Eu tinha o dilema de apostar no atletismo e ter dificuldades, ou apostar na minha carreira como enfermeira. É um dilema para os jovens que estão a entrar na universidade porque é difícil de conciliar. No ensino secundário os atletas têm todo o apoio, mas quando entram na faculdade são lançados aos bichos para se desenrascarem", explicou Inês Henriques.

A atleta esclareceu ainda que os jovens têm ainda mais dificuldades se não estiverem integrados num clube que consiga providenciar o apoio necessário e que, por vezes, os pais acabam por pressionar os filhos a desistir por não terem condições de sustentar a vida de atleta.

A luta pelos 50km de marcha femininos no Jogos Olímpicos
 No final de 2018, a Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF) submeteu um pedido para que os 50 km marcha femininos fizessem parte do programa olímpico. Inês Henriques foi desde o início uma voz ativa nesta luta, sendo que os 50 km marcha masculinos já existem nos Jogos Olímpicos, mas a vertente feminina ainda não.
A prova feminina de 50 km marcha foi, pela primeira vez, incluída nos Mundiais de atletismo de 2017, em Londres, e a marchadora portuguesa conquistou a medalha de ouro e estabeleceu um novo recorde do mundo, com o tempo de 4:05.56 horas.
No entanto, esta tem-se revelado uma luta difícil. Já este ano, o Tribunal Arbitral do Desporto (TAS) encerrou o processo de inclusão da modalidade no feminino em Tóquio2020 com um parecer negativo, por considerar não ter jurisdição para julgar o recurso de um grupo de atletas.
"Eles dizem que são a favor da igualdade de género, mas efetivamente não são. Eu sei que há modalidades que existem nas mulheres e não existem nos homens. Mas, no atletismo só os 50 km de marcha é que existem nos homens e não nas mulheres. Nós solicitamos 30 mulheres enquanto os homens são 60. A prova não seria muita alterada, era uma questão de boa vontade. Mas tanto o Comité Olímpico Internacional como a minha federação internacional e o Tribunal Arbitral do Desporto trabalharam em conjunto para nós não conseguirmos essa vitória", lamentou Inês Henriques.
O reagendamento de Tóquio2020 para o período entre 23 de julho e 08 de agosto de 2021 vai permitir, além da possível ‘batalha’ pela introdução da distância maior no programa de atletismo feminino dos Jogos, uma preparação mais atempada da marchadora.
 

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