Os atletas portugueses que aspiram qualificar-se para Paris2024 estão “todos muito ansiosos” e com “muita vontade” de estarem nos próximos Jogos Olímpicos, garantiu a presidente da Comissão de Atletas Olímpicos (CAO), em entrevista à Lusa.
“Tenho sentido que estão todos muito ansiosos, que estão com muita vontade de se qualificar, obviamente, porque é o momento, a prova de fogo está a chegar. Os que já se qualificaram, certamente que já estão mais tranquilos, apesar de sentirem que ainda têm um ano até o objetivo final, mas os que ainda estão para se qualificar estão cheios de força, cheios de motivação, estão ali a ficar prontíssimos para se qualificar e estão, certamente, cheios de ambição para conseguir esse resultado”, relatou.
Diana Gomes, olímpica em Atenas2004 e Pequim2008, vê os ‘aspirantes’ a Paris2024 muito concentrados, até porque o ciclo foi “mais curto” (apenas três anos devido ao adiamento de Tóquio2020 para 2021 devido à pandemia de covid-19).
“Houve atletas que ficaram bastante cansados do ciclo anterior, por ter sido tão longo, por ter sido tão imprevisível, e se calhar ainda notam algum cansaço acumulado desse ciclo anterior. Por outro lado, o facto de ter sido um ciclo mais curto fez com que alguns atletas que, se calhar, teriam deixado as carreiras, pensassem ‘são só mais três anos, é só mais um bocadinho e eu vou continuar’. E Paris vai ser uma celebração incrível. Portanto, acho que isso também é uma motivação”, defendeu.
A antiga nadadora nota que o papel da CAO, a que preside, é o de “acompanhar e ser a voz dos atletas”, “um trabalho de formiguinha” que obriga todos os que compõem a comissão a estarem “extremamente presentes em todos os momentos da carreira do atleta”, desde o momento em que ele é uma esperança olímpica até ao pós-carreira.
“É um trabalho que tem vindo a crescer, é um trabalho que tem vindo a ser significativo e, cada vez mais, nós vemos que os atletas se sentem bem representados e que sentem que o nosso trabalho é profícuo, dentro da sua carreira desportiva, mas também a longo prazo”, defendeu.
Nesse trabalho de proximidade, Diana Gomes tem notado “alguma dualidade” entre o aumento das bolsas olímpicas para o ciclo Paris2024, que por si só é “fantástico”, e o verdadeiro impacto desse crescimento nos custos de preparação dos atletas.
“Estamos a assistir a uma inflação incrível. O preço de tudo aumentou. Portanto, o aumento que tivemos das bolsas acaba por ficar um pouco diluído nessa inflação que se fez sentir. No entanto, acho que, acima de tudo, aquilo que nós tentamos transparecer é que está a haver um interesse no desporto. Não está esquecido. Pelo contrário, houve esse interesse de nos motivar, de aumentar e de nos dar mais verba”, destacou.
Apesar de enaltecer que “um aumento é sempre bom, é sempre positivo”, a presidente da CAO reconheceu que, com a inflação, “as preparações ficam mais caras, os transportes ficam mais caros, a própria alimentação, a suplementação, tudo aumentou”.
A um ano de Paris2024, que decorre entre 26 de julho e 11 de agosto do próximo ano, a grande preocupação da CAO, segundo Diana Gomes, é capacitar os atletas para o que vai ser a sua missão dentro dos Jogos Olímpicos
“Além do resultado, objetivamente, nós temos uma série de formações que temos em mãos para os ajudar, para os dotar, para os capacitar a estarem mais prontos, mais preparados. Temos, por exemplo, uma formação a nível do marketing, da sua projeção a nível de comunicação nas redes sociais. Acho que isso é fantástico, porque o atleta nem sempre tem noção do poder das redes sociais e da imagem que pode passar através delas. Essa é já uma formação que nós vamos ter exatamente neste ano antes, para a matéria estar ‘fresquinha’ e para o atleta conseguir pensar ‘como é que eu vou projetar a minha imagem e a minha marca para fora’”, detalhou.
Mas os projetos da CAO não ficam por aí: vão desde um curso de literacia financeira, aos Athlete Speakers, “que ensinam o atleta a poder contar a sua história, a projetar-se para empresas, ou até numa pequena entrevista, a ter algumas ferramentas-chave”, passando ainda por eventos dedicados à saúde mental, como o Power Talks, essenciais para o desportista “saber como se comportar com momentos de stress, de tensão, de perda, até o momento alto”.
“Em Portugal, infelizmente, ainda existe um bocadinho o estigma de que a saúde mental é só para o problema, só para a patologia. Felizmente, já temos atletas muito bem preparados e que já conseguem transmitir essa mensagem de que a performance também se prepara mentalmente. Não é só o físico. Grande parte será mental. Podemos preparar muito bem a caixinha, mas se o interior não estiver bem, sabemos que o resultado não será tão bom. Portanto, a performance desportiva, a nível da psicologia, cada vez mais tem lugar e cada vez mais os atletas têm noção da importância que isso tem”, estimou.
Uma das iniciativas mais recentes da CAO, que é composta exclusivamente por atletas que estiveram nas últimas quatro edições dos Jogos Olímpicos, é um projeto de mentoria.
“Solicitámos aos atletas olímpicos desde Sydney 2000 que se propusessem como mentores para poder, um para um, acompanhar estas esperanças olímpicas e fazer partilhas de experiências. [Para que] se o atleta que tem a ambição de ir para os Jogos Olímpicos tiver alguma dúvida, ou tiver alguma ansiedade, ou não souber lidar com alguma sensação, ou precisa ali de alguma motivação extra, tenha um contacto direto. Tenha o telefone, tenha o e-mail, tenha o WhatsApp, o que seja, que possa comunicar com um atleta que já passou pela experiência”, revelou.
A antiga nadadora congratulou-se ainda por a comissão à qual preside fazer cada vez mais parte do processo de tomada de decisão, nomeadamente do Comité Olímpico de Portugal, com o qual há uma grande “proximidade”.
“Até a nível governamental, temos tido o nosso lugar, temos tido a nossa representação. Obviamente que é muito difícil responder a tudo o que nós pedimos, mas temos sido ouvidos, temos sido chamados a falar. […] O nosso trabalho tem vindo a evoluir e sentimos que o atleta tem vindo a ser ouvido. Não é um trabalho fácil, nem tudo é ouvido, nem tudo é respondido, mas pouco a pouco estamos lá a chegar”, concluiu.
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