Polémica na II Liga e no Campeonato de Portugal
O mês de maio começou dias depois do governo autorizar o regresso da Primeira Liga e a realização da final da Taça de Portugal entre FC Porto e Benfica. Mas a decisão do executivo liderado por António Costa acabaria por fazer correr muita tinta, uma vez que a autorização não se estendeu à Segunda Liga que foi dada como terminada.
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Os emblemas do segundo escalão depressa reagiram, manifestando o seu desagrado com a decisão, acusando o governo, a Federação e a Liga de Clubes de discriminação. Além das críticas, vários ameaçaram recorrer aos tribunais para impugnar a decisão, um dos quais o Cova da Piedade, que foi indicado para despromoção ao Campeonato de Portugal, juntamente com o Casa Pia.
Os processos judiciais e desportivos acabaram por não surtir efeito, mas os dois emblemas da II Liga acabariam por permanecer no segundo escalão, num episódio que fica para os meses mais à frente. Quem não ficou mesmo no segundo escalão foram Farense e Nacional da Madeira que viram o seu regresso à Primeira Liga confirmado, mesmo depois do mesmo ter sido ameaçado com impugnações por parte de Feirense e Marítimo.
Também no Campeonato de Portugal foi colocado um ponto final, com a Federação Portuguesa de Futebol a decidir terminar a prova e indicar para promoção à II Liga o Arouca e o Vizela, os dois dos quatro clubes que lideravam as quatro séries do Campeonato de Portugal com mais pontos somados até à suspensão da prova.
Esta revelou-se uma decisão igualmente polémica, com os restantes seis clubes que ocupavam lugares de acesso ao playoff de promoção - Fafe, Lourosa, Benfica e Castelo Branco, Praiense, Olhanense e Real Massamá - a ameaçarem com a impugnação da decisão, protestando junto da Federação Portuguesa de Futebol, exigindo a realização do habitual playoff, algo que afirmaram ter sido prometido pela Federação. Aqui, tal como na II Liga, os processos não surtiram efeito e a decisão manteve-se.
No meio da polémica, houve tempo ainda para a Federação anunciar mudanças nos escalões secundários do futebol português: a partir de 2021/2022 será criada a III Liga, que ocupará o lugar do Campeonato de Portugal no terceiro nível do futebol nacional. O CP passará a ser a prova do quarto escalão, descendo um nível na próxima época.
O Protocolo da DGS, os Estádios e a retoma... das polémicas
Apesar do regresso da Primeira Liga estar autorizado, o mesmo estava dependente da aprovação por parte da Direção-Geral de Saúde do plano sanitário para a retoma do campeonato. No dia 10 de maio, a DGS deu a conhecer à Federação Portuguesa de Futebol quais as condições exigidas para que o regresso acontecesse, com alguns jogadores a criticarem o primeiro de 14 pontos exigidos.
Seguiu-se depois a avaliação dos estádios para descobrir, afinal, quais eram os que estavam em condições de receber os últimos jogos da época. Se ao princípio se pensou que o número seria muito menor aos normais 18 recintos, com o passar do tempo viu-se um aumento dos estádios aprovados e as equipas acabaram por viajar de norte a sul do país, incluindo à Madeira. Dos 18 clubes da I Liga, só o Santa Clara e o Belenenses SAD não jogaram as últimas jornadas em casa, com os dois emblemas a jogarem na Cidade do Futebol, casa emprestada de açorianos e azuis.
Com os recintos quase todos escolhidos, o calendário da retoma ficou conhecido a 22 de maio: de 3 de junho a 21 de julho, os adeptos de futebol encheram a barriga de futebol, com apenas nove dias sem jogos do principal escalão do futebol português.
Mas desengane-se se pensou que o regresso da Primeira Liga se fez sem o regresso das polémicas: Pedro Proença viu-se envolvido numa delas quando apelou à transmissão dos jogos da retoma em sinal aberto, o que não caiu bem junto dos clubes e o ex-árbitro chegou a ter mesmo o seu lugar na presidência da Liga na corda bamba.
O Marítimo além de impugnar a suspensão da II Liga, ameaçou a impugnação do campeonato caso não lhe fosse permitido jogar no Funchal o que restava da I Liga e impediu ainda o uso das cinco substituições na primeira jornada pós-suspensão, rejeitando ser “coagido” a assinar uma declaração que considerou “ilegal”.
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Quaresma vs. Ventura
O início de maio trouxe ainda uma demonstração de como o futebol não podem ser só 22 jogadores a correr atrás de uma bola num campo. Depois de André Ventura, deputado do Chega, ter sugerido um “plano de confinamento específico para a comunidade cigana”, Ricardo Quaresma não escondeu a sua condenação à ideia do partido e através de uma publicação no Facebook deixou o alerta aos portugueses.
“O populismo racista do André Ventura apenas serve para virar homens contra homens em nome de uma ambição pelo poder que a história já provou ser um caminho de perdição para a humanidade”
A publicação motivou reações por parte do líder e deputado único do Chega, que considerou, em declarações ao jornal ‘Correio da Manhã’, “lamentável que um jogador da seleção nacional se envolva em política”.
Ventura não ficou sem resposta, com Quaresma a recordar-lhe que “não se pode esquecer que ficou conhecido por defender o clube dele, ficou conhecido por falar de futebol”, recordando a presença do deputado do Chega em programas de comentário desportivo.
O assunto chegou mesmo à Assembleia da República, com o primeiro-ministro António Costa a responder a uma pergunta de Ventura sobre a comunidade cigana fazendo referência à famosa trivela do jogador campeão da Europa por Portugal.
“Não, não há um problema com a comunidade cigana em Portugal. Agora o senhor deputado é que tem um problema, é que já foi de trivela. (...) é ter muito mau perder quando, depois de levar um baile do Quaresma, a única resposta que teve para dar foi dizer que, sendo jogador da seleção nacional, só tinha obrigação de estar calado”, disse.
Fim do Julgamento do Ataque a Alcochete
O final do mês ficou marcado pela conclusão do julgamento do ataque à Academia do Sporting, em Alcochete a 12 de maio de 2018, em vésperas da final da Taça de Portugal. Depois de seis meses de julgamento em Monsanto - começou em dezembro de 2019 - o coletivo de juízes deu a conhecer as condenações.
Bruno de Carvalho, ex-presidente do Sporting, foi absolvido da autoria moral da invasão à academia do clube, juntamente com Bruno Jacinto, ex-Oficial de Ligação aos Adeptos, e Nuno Mendes, conhecido por 'Mustafá', líder da JuveLeo.
Não foi provado que as críticas de Bruno de Carvalho, que liderou os ‘leões’ entre 2013 e 2018, nas redes sociais tivessem incentivado os adeptos a agredirem alguém, nem de forma implícita, assim como não foi estabelecida relação de causa e efeito entre a alegada expressão “façam o que quiserem” e o ocorrido na Academia. Igual conclusão foi tida sobre Mustafá e Bruno Jacinto. Também as condenações por terrorismo foram excluídas pelo coletivo de juízes.
Dos 44 arguidos no processo, além das absolvições de Bruno de Carvalho, Mustafa e Bruno Jacinto, cinco foram condenados a cinco anos de prisão efetiva e os restantes 36 ficaram com penas suspensas e trabalhos comunitários.
O Sporting reagiu à conclusão do julgamento apelando “à sociedade e ao Estado português para que não se voltem a repetir momentos como este, que em nada dignificam o desporto em geral e o futebol em particular”.
Regressos anunciados
Não foi só em Portugal que o futebol ficou a conhecer a sua data de regresso. Depois de França e Holanda terem dado as suas ligas como terminadas e feito tremer muitos clubes pela Europa fora com medo de semelhante desfecho, a La Liga, Premier League e Serie A ficaram a saber que junho seria o mês do regresso.
Mais rápida que as restantes ‘big five’, foi a Bundesliga, cuja retoma a 16 de maio marcou o regresso do grande futebol europeu ao ativo. A Liga Alemã foi a 'placa de petri' do futebol europeu para testar o regresso em tempos de COVID-19.
O Borussia de Dortmund foi o primeiro grande do futebol alemão a entrar em campo, goleando o Schalke 04 por 4-0 com um bis de Raphael Guerreiro. Estava dado o tiro de partida para o regresso do futebol europeu.
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