Os atletas nacionais têm um “nível muito elevado” de “consciência social e pessoal” quanto à utilização de substâncias e métodos proibidos no desporto, considerou hoje o presidente da Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP).

“Temos um ou outro caso mais difícil, dos quais o ciclismo e o kickboxing são exemplos, mas Portugal é um país relativamente tranquilo. Mais de 90% dos 92 atletas que irão agora abraçar a missão olímpica Tóquio2020 foram controlados por nós várias vezes, o que é uma raridade a nível mundial e assim não aconteceu no Rio20162”, enquadrou Manuel Brito, numa sessão virtual promovida pela Câmara Municipal de Lisboa.

Falando num setor “muito marcante” da integridade desportiva, o dirigente admite que a luta antidopagem “está mais avançada” do que o combate à manipulação de resultados, sobretudo nos “últimos 20 anos” e a partir da criação da Agência Mundial Antidopagem.

“Apesar de tudo, apenas detetamos a ponta do icebergue e estamos a desvendar 10% daquilo que ocorre. Muitas vezes, todos aqueles que optam pela criminalidade nesta área estão mesmo à nossa frente. Se a integridade do desporto vai promovendo valores educativos e sociais e é fator de inclusão, a dopagem é um fator de reversão”, atirou.

Manuel Brito manifestou-se preocupado com a “função social de um campeão”, na perspetiva de “servir como exemplo para outros praticantes”, salientando a necessidade de os atletas “reconhecerem, resistirem e reportarem” perante práticas suspeitas.

“Defendemos práticas e políticas que reflitam justiça, equidade e integridade. Interessa-nos atletas limpos e estamos a pugnar e a cuidar de atletas saudáveis. Se o praticante tem de estar muito atento a tudo aquilo que lhe dão, o treinador desempenha a função muitíssimo nobre de esclarecimento e formação do espírito desportivo”, observou.

Exemplo dessa ação técnica “absolutamente decisiva” passa pela sensibilização junto de quem “ingere substâncias por efeitos do stress competitivo ou do medo do fracasso desportivo”, sob pena de vir a ser penalizado pela “regra da responsabilidade objetiva”.

“Se para muitos atletas a performance é mais importante do que a sua saúde, um treinador consciente deve explicar que jogar limpo e combater o doping é fundamental para o espírito desportivo. O imediatismo no resultado não é tudo. Estamos num terreno ético de defesa dos valores desportivos, mas há um problema legal e político”, alertou.

O presidente da ADoP lembrou que existem países empenhados no “doping de estado”, ao contrário de Portugal, onde, apesar das limitações causadas pela pandemia de covid-19, quase 500 atletas e esperanças olímpicas receberam “programas educativos fortes”.

“Mesmo para os praticantes mais experientes, o controlo antidoping é sempre uma situação stressante e transporta um conjunto de situações que podem ser problemáticas. Adotámos um modelo de formação que explica e justifica porque é que não deve haver doping e mostra como se faz um controlo. É algo que tem resultado muito bem”, vincou.

Manuel Brito enalteceu também um recente acordo celebrado com a Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa para a criação de um curso de pós-graduação sobre luta antidopagem, um “passo de gigante” e uma “raridade no mundo”.

“Por outro lado, estamos a ajudar a fazer a organização e desenvolvimento de uma rede lusófona de entidades antidopagem. Colaboramos muito com Cabo Verde, já estamos a trabalhar com Angola, Guiné-Bissau deu um passo para a sua acreditação internacional, enviámos muito material Moçambique e temos muita proximidade com o Brasil”, referiu.

O caminho de “intensa colaboração” da ADoP estende-se à formação de dirigentes e treinadores nos ginásios, que “representam 600 mil praticantes” e onde “muitos atletas federados fazem o seu treino diário”, podendo acalentar “a troca de produtos proibidos”.

“Há que distinguir bem o rendimento desportivo da essência da motivação desses praticantes nos ginásios, que é a imagem corporal. São esquemas mentais diferentes, embora as substâncias possam ser as mesmas. Agora, temos consciência de que muitas vezes estão ali redes mafiosas na base do tráfico de substâncias dopantes”, frisou.

Reconhecendo que a “permuta de informações e troca de experiências” entre diversos países diminui a chance de infrações, Manuel Brito estimou a importância de o país recuperar a acreditação internacional do Laboratório de Lisboa, suspenso desde 2016.

“Só num laboratório estrangeiro, Portugal gasta 750 mil euros por ano em análises de urina. São valores muito pesados, que diminuíam substancialmente com um laboratório equipado, que já está com pessoal científica e tecnicamente preparado”, concluiu o dirigente, que preside à ADoP desde junho de 2019, após a saída de Rogério Jóia.

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