Sérgio Conceição tinha deixado bem claro que o FC Porto não ia tirar o pé do acelerador, mesmo depois de saber que iria defrontar uma equipa proveniente dos distritais. O respeito pelo Lusitano de Évora e pelas muitas histórias de 'tomba-gigantes' que vão pintando a cronologia da Taça de Portugal - infelizmente cada vez mais raras - terão, porventura, levado a que o treinador dos 'dragões' não arriscasse tanto como se esperava para este jogo.
Da última partida, contra o Sporting, mantiveram-se apenas Marcano, Brahimi e Aboubakar, mas havia ainda Óliver, André André, ou Otávio, que mesmo não sendo titulares indiscutíveis, davam a coesão necessária a uma equipa que, apesar das mudanças - não esquecer as estreias de José Sá e Diogo Dalot (estreia absoluta) - não perdeu qualidade face ao conjunto eborense.
O resultado? Um festival de golos e o mesmo FC Porto aguerrido e letal a que fomos habituados esta temporada. Se a isto juntarmos as excelentes indicações deixadas por jovens como Dalot - uma assistência - e Galeno - um golo em plena estreia, apesar de só ter sido lançado no segundo tempo - percebemos que Sérgio Conceição tem todos os motivos e mais alguns para sorrir.
'Fogo' de Aboubakar abriu via de sentido único
A mais de 100 quilómetros do 'velhinho' Campo Estrela, o Lusitano fez o que pôde para impedir o FC Porto de marcar nos minutos iniciais, e a verdade é que os adeptos do conjunto eborense que viajaram até ao Restelo não devem sentir-se desiludidos com este resultado. Ainda que a espaços, a formação de Duarte Machado, ex-lateral do Belenenses, até chegou a ameaçar a baliza de José Sá.
Contudo, à medida que Aboubakar ia aquecendo, o poderio ofensivo do 'dragão' tornava-se cada vez mais sufocante, e a equipa da AF Évora acabou por cair com estrondo, com dois golos do avançado camaronês no espaço de um minuto, o primeiro um remate rasteiro à entrada da área, após passe de Brahimi, o segundo de cabeça, após cruzamento de Dalot, aqui a justificar a titularidade.
Com o 2-0, a equipa portista aproveitou para baixar os índices físicos, o que permitiu libertar o adversário em direção à baliza contrária. Foi nessa altura que o Lusitano mostrou algum atrevimento, deixando a leve impressão de que o golo de honra não seria totalmente descabido. E nunca é demais referir que o orçamento anual do Lusitano nem sequer chega para pagar o salário mensal de alguns jogadores do FC Porto.
Abram alas para os novos 'dragões'
A segunda parte trouxe um FC Porto determinado em dizimar qualquer esperança lusitanista. Wecnderson Galeno, extremo da equipa B, substituiu Brahimi - já a pensar na visita ao Leipzig para a Liga dos Campeões - e o jogo voltou a mostrar um 'dragão' rápido e assertivo nos processos ofensivos, também fruto do desgaste do Lusitano, com muitos jogadores a apresentarem cãibras. Depois de duas tentativas falhadas do jovem brasileiro, de 18 anos, Marcano praticamente sentenciou a partida na sequência de um pontapé de canto (49'), o que deu conforto suficiente a Conceição para lançar mais dois jovens, Luizão e Jorge, para os lugares de Aboubakar e do defesa-central.
Cinco minutos depois, Otávio confirmava a goleada com uma bela jogada individual, e a partir daí foi a vez de os 'miúdos' mostrarem serviço. Galeno chegou ao 5-0 (59') num lance infeliz de José Quito, a trair Nuno Laurentino - noite complicada para o guarda-redes lusitanista. Seguiu-se um rol de oportunidades desperdiçadas, com destaque para um remate enviado ao ferro por Luizão, mas o melhor estava guardado para o fim. Aos 90', Hernâni, que tinha realizado uma excelente primeira parte, decidiu brindar os adeptos com um belíssimo remate à 'escorpião', fechando a goleada portista com nota artística.
Depois do Sporting, o FC Porto é a segunda equipa a carimbar a passagem à quarta eliminatória da Taça, com o bónus de ter agora um plantel mais fresco para o duelo com o Leipzig assim como as boas indicações deixadas pelos quatro jovens lançados na equipa principal. Quanto ao Lusitano, que teve de esperar mais de 50 anos para reencontrar um 'grande', volta para casa com o orgulho intacto, independentemente do resultado desta noite.
O momento
Golo de Hernâni: Aos 90 minutos, quando tudo já parecia encaminhado para o 5-0, o extremo portista resolveu fazer uma obra de arte, fechando com chave de ouro uma exibição bastante conseguida, principalmente no primeiro tempo. Chamou a atenção o facto de Hernâni não ter festejado o golo, algo que Sérgio Conceição acabou por atribuir ao "cansaço" do jogador.
A figura
Aboubakar: É a personificação do ímpeto goleador do 'dragão'. Demorou um pouco a aquecer, mas quando chegou a oportunidade, mostrou-se letal. Dois golos em apenas um minuto que deixaram a equipa em posição mais do que confortável para fazer gestão de esforço tendo em vista a Champions. Acabou por dar lugar a Luizão já na segunda parte.
Têm a palavra os treinadores
Sérgio Conceição, treinador do FC Porto:
"Fiquei satisfeito, respeitámos o adversário. São forças diferentes. Uma palavra de apreço pelo esforço do Lusitano. Fomos sérios, determinados e ambiciosos. Houve sempre essa seriedade durante os 92 minutos. Foi importante lançar jovens da equipa B e uma palavra para o Folha que está a fazer um grande trabalho."
Duarte Machado, treinador do Lusitano de Évora:
"Não era uma preocupação dar um bom espetáculo, mas sim sermos iguais a nós próprios. Era pior se viéssemos para defender o resultado. Viemos discutir o resultado, sabíamos que as nossas armas não eram as mesmas. O ritmo de jogo é muito grande, deixou-nos completamente de rastos. Um estádio desta dimensão deixa algumas marcas, mas tinha dito para os jogadores desfrutarem."
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