A temporada 2022/23 do Sporting não está a correr de feição a Rúben Amorim. Depois de uma entrada por valores recorde que teve como auge a conquista do título de campeão nacional em 2020/21, a verdade é que os Leões conseguiram - num curto espaço de tempo - passar do céu ao inferno.
Na temporada passada, o sucesso não tinha sido o mesmo do ano anterior, mas ainda assim continuava a haver uma grande expectativa no trabalho de Amorim à frente do comando do Sporting. Os Leões conseguiram a Taça da Liga e deram luta até perto do final num campeonato que viria a ser conquistado pelo FC Porto.
Na Liga dos Campeões, caíram nos oitavos-de-final aos pés do Manchester City e na Taça de Portugal foram eliminados nas meias-finais pelos Dragões.
Entretanto, os protagonistas mudaram, mas a base do futebol não se alterou e o clássico 3-4-3 manteve-se. Ainda assim, a capacidade defensiva da equipa e a eficácia ofensiva (uma imagem de marca do Sporting de 2020/21) perdeu-se.
Os números são estes: em pleno mês de novembro, os Leões estão no sexto lugar (a 12 pontos do líder Benfica) e foram eliminados da Taça de Portugal logo na terceira eliminatória diante o Varzim (derrota por 1-0 no tempo regulamentar).
Quando se esperava que a Liga dos Campeões poderia trazer um novo conforto às bancadas de Alvalade, a dupla jornada com o Marselha acabou por comprometer as ambições da equipa que viu confirmada a queda para a Liga Europa na receção ao Eintracht Frankfurt (derrota por 1-2). Os verdes e brancos chegaram mesmo a estar fora das competições europeias, mas um golo do Tottenham aos 95 minutos frente ao Marselha garantiu um mal menor.
Ainda assim, apesar de matematicamente e dentro da lógica do futebol que conhecemos, o título de campeão poder estar ao alcance, a generalidade dos adeptos leoninos apenas olha com alguma esperança para a Taça da Liga e para uma boa campanha na Liga Europa.
Na temporada passada, por esta altura, o Sporting estava em igualdade pontual com o FC Porto (29 pontos, mais dez que este ano) e só a diferença de golos dava a vantagem aos portistas. Também por esta altura, os Leões preparavam-se para defrontar curiosamente o Varzim na quarta eliminatória da prova rainha.
A nível europeu, arrancava a segunda volta da fase de grupos da Liga dos Campeões (num calendário mais folgado por não haver Campeonato do Mundo), com a equipa de Rúben Amorim com legítimas aspirações a passar à próxima fase, o que viria a acontecer, apenas atrás do Ajax, mas à frente de Borussia Dortmund e Besiktas. Esta temporada, foi Eintracht Frankfurt e Tottenham que levaram a melhor, com Marselha a ser empurrado para último lugar.
Depois de uma visão geral, olhemos então para os principais destaques e números que têm marcado pela negativa o Sporting esta temporada:
Entradas e saídas no plantel
Da temporada 2021/22 para a presente época, foram nove os reforços que mais chamaram a atenção mediática e oito as saídas que mereceram uma maior atenção das hostes leoninas (não foram contabilizados reforços apenas contratados a título definitivo esta temporada nem saídas de excedentários que nunca contaram para Rúben Amorim).
Das entradas, podemos contabilizar St. Juste, Morita, Arthur Gomes, Rochinha, Trincão, Franco Israel, Alexandropoulos, Jovane Cabral (regresso de empréstimo) e Fatawu (que tinha chegado antes, mas só agora trabalha com a equipa principal).
Das saídas, o destaque vai para Pablo Sarabia, Matheus Nunes, João Palhinha, Tabata, Slimani, Gonçalo Esteves, Rúben Vinagre e Feddal.
O problema aqui parece ser claro. Sarabia - um jogador 'impróprio' para o campeonato português, não vê em Francisco Trincão um substituto à altura e a saída de Matheus Nunes (já depois de Palhinha) deixou um 'furo' no meio-campo numa altura em que já decorria a temporada e em que se avizinhava um clássico no Dragão.
Morita até parece estar a conseguir agarrar bem o lugar ao lado de Ugarte, mas Amorim nunca escondeu a importância de Matheus Nunes no futebol do Sporting. Logo após a derrota pesada frente ao FC porto (3-0), o técnico deixou mesmo uma bicada à direção: "Se há pessoa coerente aqui sou eu. Não sou eu que vendo os jogadores", referiu na altura em conferência de antevisão ao clássico.
Alexandropoulos - contratado na altura da saída de Matheus Nunes - é outro dos reforços para a zona intermediária, mas longe de se afirmar na equipa.
A questão do número '9' também parece atormentar este Sporting. Quando não há Paulinho, a verdade é que não há soluções de referência na grande área e têm de ser jogadores como Edwards ou Pedro Gonçalves a aparecerem na posição de ponta de lança. De referir que Slimani ficou envolto numa saída polémica e Tiago Tomás encontra-se emprestado ao VFB Estugarda.
Coates - o abono de família deste Sporting e que habituou os adeptos a marcar golos decisivos na posição de ponta de lança - também começou a perder esse efeito.
No que respeita às lesões, são vários os jogadores que têm passado pelo boletim clínico. Daniel Bragança provavelmente seria uma das grandes apostas de Rúben Amorim nesta temporada. Luís Neto e Coates têm mostrado alguns problemas nesse sentido, o que obriga Amorim a apostar em jovens jogadores da formação. Paulinho, por outro lado, também já passou por um período de ausência, o que levou à aposta num ataque exclusivamente móvel (muitas vezes em jogos em que era pedido um ponta de lança de área).
Fragilidades na defesa
Este é provavelmente um dos setores que mais tem impressionado pela negativa neste Sporting de 2022/23. A equipa de Rúben Amorim sempre teve como um dos pilares a estabilidade defensiva num esquema de três centrais com dois laterais bastante ofensivos (ainda assim, sem comprometerem). Adán também era um elemento mais que seguro entre os postes, mas esta temporada tudo parece estar a sair ao lado.
No futebol, fala-se que o ataque ganha jogos e a defesa ganha campeonatos. É o que pode estar a acontecer.
Olhemos então para os golos sofridos: até ao momento, em onze jornadas do campeonato, foram 14 golos sofridos - bem longe das melhores defesas da prova. Para termos uma noção, equipas que estão abaixo na tabela classificativa (como são os casos de Estoril, Portimonense, Vizela e Santa Clara) têm um melhor registo nesse aspeto.
Se formos mais longe, à 11ª jornada da temporada passada (apesar de os adversários serem diferentes), eram apenas quatro golos sofridos pelos Leões.
No total das competições foram assim 24 golos sofridos, o que dá uma média de 1,33 golos sofridos por jogo, sendo que em 72% das partidas disputadas os Leões sofreram remates certeiros.
Dos jogadores da linha recuada, Feddal já não está no plantel e Gonçalo Esteves acabou por sair emprestado para o Estoril. Ricardo Esgaio já apareceu por diversas ocasiões enquanto opção para o trio de centrais ou para render Pedro Porro, mas a verdade é que o rendimento do português já esteve longe de ser o melhor.
Luís Neto tem sido fustigado pelas lesões e Coates também não dá a segurança que dava no ano em que o Sporting conquistou o título de campeão.
O único reforço para o setor mais recuado foi mesmo st. Juste.
Eficácia ofensiva (ou falta dela)
Desde a chegada de Rúben Amorim, o Sporting sempre mostrou um pragmatismo ofensivo notável pela forma rápida e eficaz como era capaz de criar ocasiões de perigo.
Não se pode dizer que esta seja uma característica que tenha desaparecido, mas a capacidade concretizadora da equipa já teve os seus melhores dias.
Numa luta com Benfica, FC Porto e SC Braga, os Leões são o ataque menos eficaz com 21 golos, um número ainda assim superior aos restantes emblemas do campeonato.
E o que poderá contribuir para isto? Podemos falar de alguma falta de confiança no remate à baliza, mas há algumas situações que é importante não esquecer.
Sarabia era um verdadeiro abono de família para este Sporting e Trincão não consegue substituir da mesma forma as capacidades do espanhol. Paulinho, por outro lado, não parece ter um '9' concorrente no banco.
Em sentido contrário, Edwards está a ser uma autêntica revelação na dinâmica ofensiva que traz ao ataque. O extremo inglês é um dos melhores marcadores do plantel (cinco golos), com grande influência também no número de assistências (quatro).
Algo que também se nota de diferente neste Sporting é a capacidade de fazer das fraquezas forças nos minutos finais. Todos nos recordamos da capacidade da equipa em conseguir reviravoltas, muitas vezes suadas, mesmo estando em desvantagem no marcador. Coates, Pedro Gonçalves e Paulinho apareciam muitas vezes como 'heróis' nesse sentido.
Esta temporada, uma das poucas reviravoltas que nos devemos recordar foi na vitória caseira frente ao Casa Pia (3-1), em jogo da décima jornada do campeonato.
A derrota frente ao Arouca, (1-0), Varzim (1-0, Taça de Portugal), Boavista (2-1) e Chaves (2-0) são exemplos dessa incapacidade.
Um raio-x às vitórias e derrotas
Não há melhor forma de perceber o que se passa com este Sporting se olharmos para o número de vitórias e derrotas da equipa e compararmos com a temporada passada.
Podemos dizer de forma legítima que cada época tem a sua história e contexto específico, mas os números não enganam: Em todas as competições, foram oito vitórias e oito derrotas para a turma de Alvalade - um número que não deixa de ser preocupante.
Na época passada, por esta altura (e juntando toda a fase de grupos da Liga dos Campeões), o registo era apenas de três derrotas (todas em jogos da competição milionária). No campeonato, os Leões encontravam-se invictos com apenas dois empates na receção ao FC Porto (1-1) e na deslocação ao terreno do Famalicão (1-1).
O próximo jogo do Sporting é em casa frente ao Vitória SC (que está à frente na tabela classificativa), e um novo desaire poderia significar um volte face nas estatísticas com os Leões a passarem a ter mais derrotas que vitórias na soma de todos os jogos disputados.
Com os dados lançados, os dedos dos adeptos leoninos são apontados em diversas direções. Será que o futebol de Rúben Amorim estagnou? Será que houve alguma falta de coerência entre os objetivos financeiros e desportivos? Ou será apenas uma má fase deste Sporting que ainda pode apresentar uma nova face esta temporada?
Uma questão à qual também pode dar a sua opinião na nossa Pergunta do Dia.
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