A punição de Sporting e Rúben Amorim, acusados de fraude na inscrição do treinador, pelo Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol "não seria a decisão mais acertada", avaliou esta terça-feira o jurista Gonçalo Almeida.
"Aquando do seu registo, e cuja transferência aplicou o pagamento de um montante avultado [12,1 milhões de euros, acrescidos de 2,3 de IVA], caberia à Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) suscitar essa questão ou recusá-la na qualidade de treinador adjunto, sabendo que não correspondia, de facto, à verdade. Ao aceitar, parece-me que está a validar esta situação", explicou à agência Lusa o ex-advogado FIFA.
Sporting vai contestar acusação
O Sporting anunciou, na segunda-feira, a contestação à acusação de fraude na inscrição de Rúben Amorim, pela Comissão de Instrutores da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), após participação da Associação Nacional de Treinadores de Futebol (ANTF).
Em comunicado, o Sporting denuncia “uma situação que considera constituir um dos episódios mais lamentáveis e surreais da história do futebol português”.
Em causa está a participação apresentada pela ANTF, em março de 2020, que, segundo o clube, resultou na “acusação contra a Sporting SAD e o seu treinador Rúben Amorim, alegando existir fraude na inscrição de Rúben Amorim como treinador, e pretendendo ver o mesmo condenado a uma sanção de um a seis anos de suspensão de atividade”.
De acordo com os ‘leões’, a disciplina desportiva pretende condenar o técnico ‘verde e branco’ por “se ter inscrito como treinador-adjunto e não como treinador principal, quando ainda não possuía habilitação para tanto”, numa ação que o clube considera “muito direcionada”, pela inexistência de processos idênticos, nomeadamente com Rúben Amorim, que antes treinava o Sporting de Braga.
“Só um corporativismo ultrapassado pode acreditar que um processo deste género promove e protege a classe dos treinadores portugueses. E só uma disciplina desportiva cega, no pior sentido, poderia entender ser de acolher essa sanha persecutória”, refere o Sporting, lamentando “o tratamento díspar e enviesado em desfavor” dos ‘leões’.
Nesse sentido, o Sporting dirige-se aos sócios e adeptos para assegurar que “não existe qualquer fundamento jurídico que sustente a sanção proposta de um a seis anos de suspensão” e que “reitera a sua total confiança nesta equipa técnica”.
Sporting diz que "não é de todo inocente" a queixa da ANTF contra Rúben Amorim
Ainda hoje, 09 de março, Miguel Braga, responsável pela Comunicação do clube de Alvalade, considerou incompreensível a queixa da Associação Nacional de Treinadores de Futebol contra Rúben Amorim.
"Seria a mesma coisa que a associação de canalizadores mover um processo contra um dos seus maiores canalizadores e um dos expoentes máximos da canalização em Portugal. Começa por ser incompreensível desde a sua nascença", disse, no programa 'Raio-X', transmitido ontem na Sporting TV.
O responsável recordou outros exemplos semelhantes que não mereceram a mesma reação por parte da ANTF.
"Falamos de treinadores como o Paulo Bento, antes de ser selecionador nacional, o Paulo Fonseca, Sérgio Conceição, Jorge Costa, Rúben Amorim antes de chegar ao Sporting... Vários treinadores passaram por esta situação e a lei já tem os mecanismos próprios para se viver com esta situação", recordou.
Miguel Braga considerou mesmo que a queixa e o 'timing' da acusação não são incoentes.
"Não é de todo inocente a Associação Nacional de Treinador de Futebol se ter queixado perante um treinador do Sporting. Diria que essa parte não é inocente, como não é a data em que o processo chega à acusação. (...)Numa altura em que se fala num alegado interesse internacional no treinador do Sporting, na altura em que o Sporting está à frente do campeonato, acho incompreensível este processo e a sua natureza", notou.
Realçando a incompreensão pela queixa ter surgido apenas quando Rúben Amorim chegou ao Sporting, Miguel Braga afirmou que a ANTF tem uma "atração muito grande" pelo Sporting e por Amorim.
"Há uma atração pelo Sporting e por Rúben Amorim, eu diria que sim e muito grande. Tendo tentos casos, antigos e não tão antigos, faz-me confusão que seja o Rúben Amorim quando chega ao Sporting - não foi quando chegou o SC Braga - teve de chegar ao Sporting para em oito dias a ANTF acordar para a vida", disse.
Criticando o silêncio da ANTF em relação ao processo, o responsável da comunicação leonina, considerou que a associação deveria de se preocupar com outros assuntos mais relevantes para o setor.
"Faz-me confusão porque é que estas associações não estão preocupadas com o facto de o último curso de nível IV em Portugal ter 30 vagas para 400 pessoas. Isto sim deveria ser uma luta de uma associação do setor", acrescentou.
Rúben Amorim, de 36 anos, chegou ao Sporting em 05 de março de 2020, proveniente do Sporting de Braga, tendo, na quinta-feira passada, prolongado o seu contrato com o clube, por mais uma época, até 30 de junho de 2024.
Após 22 jornadas, o Sporting lidera, sem derrotas, a I Liga portuguesa de futebol, com 58 pontos, mais 10 do que o campeão FC Porto, e mais 12 do que o Sporting de Braga, que ainda vai receber o rival Vitória de Guimarães nesta ronda.
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