O legado de Aurélio Pereira, o ‘senhor formação’, foi hoje enaltecido por diversas figuras do futebol português, como o antigo futebolista Paulo Futre, o treinador José Mourinho e o presidente do Sporting, Frederico Varandas.

O mote foi dado com a apresentação do livro ‘Ver para Crer - Memórias de descoberta e formação de talentos’, de Aurélio Pereira, em coautoria com o jornalista e escritor Rui Miguel Tovar, editado pela Contraponto, na Cidade do Futebol, em Oeiras. Por entre diversas histórias sobre a descoberta de alguns dos maiores jogadores portugueses das últimas décadas, como Cristiano Ronaldo ou Luís Figo, sobressaiu a emoção de Paulo Futre no reconhecimento ao histórico responsável pelo departamento de prospeção do Sporting.

“Tenho o enorme privilégio de ser o primeiro grande craque que ele descobriu e que teve êxito internacional. Se não fosse ele, era hoje bate-chapas no Montijo. Não havia ninguém que visse o talento tão rápido”, afirmou o ex-jogador descoberto por Aurélio Pereira quando tinha apenas nove anos numa equipa do Montijo e que chegou a ser galardoado com a Bola de Prata, tornando-se uma referência ao serviço do Atlético de Madrid.

Perante a família do antigo responsável pela formação ‘leonina’ - que não esteve presente por motivos de saúde -, Paulo Futre lembrou as noites dormidas no sofá da casa de Aurélio Pereira em estágio para os jogos, os “30 escudos” que o ‘senhor formação’ lhe dava para o lanche e quando este lhe pedia para “fazer o que quisesse” de “filhos e netos dos doutores” do clube, que esperavam tratamento preferencial no recrutamento para acabarem vergados pelos dribles de Futre.

“Há o Bola de Ouro, o Bota de Ouro, mas falta o ‘Olho de Ouro’. Se tivesse nascido na Catalunha tinha várias estátuas”, contou, recordando o momento mais triste da relação entre ambos: “Quando fui para o FC Porto, ele merecia que lhe tivesse ligado. Soube pelos jornais. Não falei com ele, porque ele dava-me a volta na altura... se eu falo com ele, não tinha arrancado para o Porto. Foi a primeira vez que o vi magoado comigo”.

O reconhecimento do trabalho de Aurélio Pereira pelo Sporting e pelo futebol português foi também feito através de uma mensagem de vídeo do presidente do clube de Alvalade, Frederico Varandas, que evocou o “prazer” de todos os minutos partilhados com o antigo responsável pela formação na Academia de Alcochete.

“É um momento marcante e muito justo da sua carreira. O Aurélio [Pereira], muito mais do que um amigo, é uma figura e uma lenda da história do Sporting. A história do Sporting deve muito ao Aurélio e, em meu nome pessoal e em nome do Sporting, muito obrigado, Aurélio”, declarou o líder ‘leonino’.

“Falar do Aurélio é muito fácil, no futebol é tão difícil haver unanimidade, mas ele tem. Uma lenda do futebol português, que lhe deve tanto e muitas estrelas. Um enorme abraço de respeito e admiração e o meu obrigado pelo que fez pelo nosso futebol”, afirmou José Mourinho, agora ao comando da Roma, igualmente numa mensagem enviada por vídeo.

Por sua vez, o presidente da Federação Portuguesa de Futebol enalteceu a dimensão humana do ex-responsável pela formação ‘leonina’ além dos ‘frutos’ do seu trabalho ao longo de décadas, nos quais descobriu ou trabalhou com 62 internacionais pela principal seleção de Portugal, incluindo, entre outros, João Moutinho, Rui Patrício, Beto, João Mário, Peixe, Nani e William Carvalho.

“Este livro é uma peça fantástica de uma pessoa que nos ensina a bondade e que nos atira para uma dimensão em que o queremos seguir. Deu exemplos de atletas de dimensão europeia e mundial. Só podemos ter uma palavra de gratidão pelo que representou no Sporting, no desporto e na Federação. Muito obrigado, Aurélio”, frisou Fernando Gomes.

Para o coautor do livro, que revelou ter-se cruzado pela primeira vez com Aurélio Pereira quando tinha apenas sete anos, numas férias em Tróia nas quais viria a ser descoberto o ex-internacional português Dani, escrever a obra foi “intimidante” pela dimensão do impacto do ‘senhor formação’ em tantas pessoas.

“Ele é história. É uma pessoa que mexeu com a vida do Paulo Futre, do Ricardo Quaresma, do Ronaldo… E ao mexer com a vida de Ronaldo, mexeu com a vida da mãe e do pai do Ronaldo e com a vida da própria Madeira. O Aurélio era o ‘pai espiritual’ de toda a formação do Sporting. Dá para perceber a imensidão deste homem e que não tem o reconhecimento devido lá fora, porque sempre foi muito recatado”, resumiu Rui Miguel Tovar.

Em representação do pai, a filha Mafalda Pereira leu um discurso de agradecimento em que vincou que as “palavras são sempre poucas para retribuir toda a amizade” que lhe dedicaram. “Não fiz nada sozinho. Tive sempre ao meu lado grandes profissionais que com muita abnegação e sportinguismo me acompanharam na descoberta de talentos”.