Depois do triunfo inesquecível na Supertaça, o FC Porto queria entrar na I Liga não só com uma vitória, mas com uma exibição robusta.
Quanto ao resultado, diga-se, o objetivo foi amplamente cumprido. Quanto à exibição, a segunda parte acabou por traduzir em golos a clara supremacia demonstrada pela formação azul e branca no primeiro tempo, marcado apesar de tudo pela ausência de oportunidades de golo.
Quase sempre longe das balizas, valeu Galeno, que abriu o marcador através da marcação de uma grande penalidade.
Ainda sem qualquer reforço, Vítor Bruno bem pode sorrir. Dois jogos oficiais, duas vitórias, ambas contundentes. A de hoje permite, para já, apanhar o comboio do Sporting, campeão em título, que já tinha vencido esta sexta-feira.
A meio do sono, valeu a hipersónia de Galeno
Aos quinze minutos, quem escreve a crónica que agora lê forçou literalmente os dedos a caírem sobre o teclado do computador, na ânsia de escrever algo. Não era fácil.
Sem ignorar a clara supremacia do FC Porto, diria com mais de 80% de posse de bola, o jogo até então ignorava por completo as balizas adversárias. Digna de destaque, só mesmo a justa homenagem a Pepe, aos três minutos, número carregado às costas do icónico central, que anunciou o fim de carreira aos 41 anos.
Duas faixas exibidas, uma por cada claque, agradeciam à "l3nda", pela "raça de tripeiro, orgulho dragão" do ex-capitão do FC Porto. Nos ecrãs passavam duas fotografias, num momento emocionante, de profundamente comunhão entre os adeptos, mas em que faltou o principal: Pepe. Mais tarde, quem sabe, saberemos porquê.
Quanto à partida, com o Gil Vicente a defender, por vezes, com uma linha de seis, os azuis e brancos procuravam esticar o jogo, ainda que de forma lenta, um pouco mastigada. E fome não deveria faltar. Primeiro, por se tratar do primeiro jogo do campeonato, o primeiro no Dragão esta época, e depois de uma exibição e resultado absolutamente épicos em Aveiro, na conquista da Supertaça diante do Sporting. Talvez por isso Vítor Bruno tenha lançado para a partida o onze que terminou o jogo com os leões - com Iván Jaime e Eustáquio, e com a curiosidade de Galeno na posição de lateral, embora sempre muito lançado na frente, sobretudo no processo ofensivo.
Por esta altura, vinte minutos, não podia ser julgado um ou outro bocejo dos adeptos nas bancadas do Dragão. Apesar disso, ligado à ficha, bem acordado, de olho bem aberto, um super agitado Vítor Bruno na área técnica - de pé, de um lado para o outro, sempre muito interventivo - procurava acelerar o motor azul e branco, agora 100% montado e afinado por si, depois de sete anos na sombra de Sérgio Conceição.
O jogo corria sem qualquer oportunidade de golo, mas aos trinta minutos um lance confuso na área dos gilistas deixou a equipa de arbitragem com a pulga atrás da orelha. Esperou-se, esperou-se, esperou-se e Cláudio Pereira lá foi espreitar o que antes, na Cidade do Futebol, Vasco Santos já tinha visto.
A bola foi ter com Buatu, ou Buatu com a bola, depende sempre da perspetiva, e Galeno - que já tinha marcado dois em Aveiro - já esfregava as mãos a olhar para a marca dos onze metros. Foi lá que colocou delicadamente a bola, segundos antes de atirar sem hipóteses para Andrew. O guardião do Gil bem se esticou, a bola ainda lhe raspa nas mãos, mas lá entrou na baliza mais próxima da bancada afeta aos Super Dragões, que ainda sem o seu líder se fizeram representar na máxima força.
O golo parecia acelerar finalmente a dinâmica ofensiva dos portistas, mas até ao final da primeira parte só um cabeceamento de Namaso foi travado por Andrew, sem grande dificuldade.
Ao intervalo, a estatística clarificava a história dos primeiros 45 minutos. 10 remates para o FC Porto, apenas um enquadrado, enquanto a equipa de Barcelos terminava o primeiro tempo sem qualquer remate.
De um lado um FC Porto mandão, autoritário, mas pouco incisivo no último terço. Do outro, um Gil Vicente estável, organizado, que dava a bola ao adversário para se organizar como podia defensivamente, mas sem deixar de espreitar uma ou outra saída, apesar de sem qualquer sucesso.
Mas a equipa treinada interinamente por Carlos Cunha, depois da saída relâmpago de Tozé Marreco, mostrava até então que não vinha coxa ao Dragão. Muito pelo contrário.
Um outro jogo, fechado a tempo e horas
Dissesse alguém que ali em baixo, em campo, estavam duas novas equipas e aceitaria de bom grado a informação sem grandes desconfianças. Depois de uma primeira parte sonolenta e quase sempre afastada das áreas, ambas as formações entraram a todo o gás. A surpresa maior, claro, o Gil. A perder por 1-0, quis regressar com uma mensagem clara para quem, do outro lado, já cantava de galo.
Em 10 minutos, a formação barcelense, ainda que sem criar grande perigo, mostrou-se finalmente ao jogo. Maxi Domínguez, e logo depois Kanya Fujimoto, faziam os adeptos portistas olharem para o ecrã, lembrando-os que o marcador mostrava um frágil 1-0.
Sabiam-no também os jogadores azuis e brancos, que apercebendo-se do maior atrevimento do adversário, foram espreitando aqui e ali mais espaço nas costas dos defesas gilistas. Aos 60 minutos, às costas de um supersónico Gonçalo Borges, pela esquerda, a bola acabou nos pés de Iván Jaime à entrada da área. O espanhol, um autêntico nómada, ora no meio, ora na ala, bateu uma espécie de penálti fora da área. Com uma calma reconfortante, o jogador que acabou a última época afastado da equipa olhou para a baliza e congelou o tempo. Parou a bola, olhou para Andrew e colocou a bola onde quis.
Uma machadada forte nas aspirações gilistas, que caíam por terra em definitivo dez minutos depois, já com Pepê e Vasco Sousa em campo. Nova grande penalidade, agora conquistada por Nico González - cada vez mais óbvio no onze azul e branco. Galeno abdicou, Namaso chegou-se à frente e o terceiro chegava a tempo e horas de travar qualquer dúvida que ainda persistisse no marcador.
Com um confortável 3-0, a beneficiar, entretanto, da expulsão de Sandro Cruz aos 78 minutos, o FC Porto geriu a vantagem até ao fim e arrancou a I Liga com um justíssimo triunfo no primeiro jogo em casa, em 42 anos, sem Pinto da Costa enquanto presidente.
No final do jogo, depois do apito final, a equipa reuniu-se no centro do campo, como habitual, mas com uma curiosa novidade. Diogo Costa segurou no microfone e agradeceu o apoio dos adeptos, encantados com a mensagem do capitão portista. Será a atitude do jogador (leia-se, da comunicação) um espelho de um novo FC Porto? Respondam vocês.
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