Benfica e Sporting terminaram empatados naquele foi que o 303.º encontro entre os dois rivais da Segunda Circular. Depois de toda a expetativa criada durante a semana, o jogo teve muita emoção, foi muito quezilento e teve com uma arbitragem que não esteve ao nível da importância do encontro.

A equipa de Rui Vitória entrou na partida talvez a pensar muito no jogo de quarta-feira na Grécia e com apenas uma mudança em relação ao último jogo. Zivkovic deu o lugar a Rafa. Do lado do Sporting, José Peseiro montou uma equipa consciente das suas limitações - Bas Dost e Mathieu não estiveram presentes -, mas apresentou uma equipa capaz de atacar as fragilidades do adversário, tendo muitas vezes conseguido anular o jogo de construção dos 'encarnados'.

O Benfica até começou bem a partida e com ele começou também o 'show' de Salin. Pizzi cobrou um livre do lado direito e Rúben Dias apareceu a cabecear, mas Salin correspondeu com uma boa defesa. A primeira de muitas que impediram que o resultado fosse outro.

No entanto, os 'encarnados' começaram a revelar alguma dificuldade em criar perigo e só de bola parada foi conseguindo incomodar Salin que tinha sido um dos piores jogadores em campo frente ao Vitória de Setúbal. De dispensado da pré-época, o guarda-redes francês aproveitou a lesão de Viviano para assumir as redes da baliza leonina e na estreia em dérbis, foi uma espécie de herói. Aos 21 minutos, o guardião já somava três grandes e decisivas defesas: além da já citada, outra aos 20 minutos com os mesmos protagonistas — Pizzi a cruzar de canto e Rúben Dias a cabecear sem sucesso; um minuto depois, Cervi remata no centro da grande área e a obrigar Salin a uma boa intervenção.

O Benfica tinha mais posse, mas parecia inofensivo, à semelhança do que tem acontecido nos últimos jogos. Ferreyra quase não apareceu em jogo e só a falta de opções - Jonas e Castillo estão lesionados e Seferovic é o outro avançado disponível - tem mantido o argentino na titularidade. Já o Sporting mostrou maturidade e utilizou as armas Nani e Raphinha para explorar os erros do adversário.

O jogo prometia ser disputado, e por vezes até o foi demasiadas vezes. Houve muitas faltas, algumas delas duras, desentendimentos entre jogadores e decisões de arbitragem muito contestadas nas bancadas. E foi aí que Luís Godinho não esteve ao melhor nível. O juiz da Associação de Futebol de Évora começou bem a partida, mas progressivamente foi perdendo a tranquilidade e segurança necessárias, talvez por ser esta a primeira vez que apitava um dérbi.

A primeira parte do encontro terminaria sem golos, algo que não acontecia há oito anos. Na segunda parte, o Sporting equilibrou um pouco a partida e, à passagem da hora de jogo, beneficiou de uma grande penalidade, cometida por Rúben Dias sobre Fredy Montero. Nani, na conversão, fez o 1-0 para os 'leões'. O internacional português não só se estreou a marcar em clássicos como também foi a sua primeira vez a marcar ao Benfica.

O clube da Luz não acusou a pressão do golo marcado e por volta dos 70 minutos já o Benfica agarrara de novo o jogo. Por esta altura Rui Vitória já tinha tirado Ferreyra para a entrada de Seferovic e Pizzi saiu para a entrada do jovem João Félix. José Peseiro também tirou Bruno Fernandes e colocou Misic para fechar mais o miolo, mas não contava que o mais jovem em campo marcasse o golo que lhe tirou a vitória que parecia certa e levou ao rubro as bancadas da Luz.

O mais jovem jogador de sempre a saltar do banco e marcar na estreia num dérbi lisboeta apareceu solto na área e correspondeu da melhor maneira a um cruzamento da direita de Rafa Silva. Apenas 18 anos e com apenas 1,78m, Félix subiu mais alto que todos e empatou, de cabeça. Caso para se dizer que o tamanho não importa

Empolgados pelo apoio dos adeptos, os 'encarnados' foram à procura do golo que lhes desse a vitória, mas tal não aconteceu, numa ponta final marcada por muitas paragens e desentendimentos entre jogadores. O jogo acabaria com mais de 100 minutos de tempo útil.

O empate no final do encontro veio confirmar uma tendência particular. Desde 2016 que Benfica e Sporting não vencem um clássico no campeonato. A igualdade final que mantém as duas equipas com a mesma pontuação penalizou a ineficácia ofensiva dos comandados de Rui Vitória e premiou o pragmatismo sportinguista.

O momento

Há dois momentos decisivos no encontro. Primeiro aos 60 minutos. O Benfica parecia estar por cima no reinício do encontro, mas contra a corrente do jogo o Sporting colocou-se em vantagem. Montero ganhou a frente a Rúben Dias que o derrubou. Nani não tremeu e pôs o leão na frente.

O segundo momento do jogo foi o golo do empate. O Benfica corria há muito atrás do prejuízo depois do golo de Nani e o tiro certeiro apareceu aos 86 minutos com um cruzamento de Rafa que chegou à cabeça de um eficaz João Félix.

A figura

Salin foi o homem da partida. O guarda-redes francês foi um dos esteios da equipa leonina ao corresponder com nove defesas durante a partida, algo que nunca tinha feito.

Os melhores e piores

Além do guardião que atua em Portugal há 8 temporadas, ainda que não consecutivas - esteve uma época no Guimgamp, de França - destaque ainda para a participação de Montero. O internacional colombiano aproveitou bem a ausência por lesão de Bas Dost e conseguiu criar alguma oportunidades de perigo. Foi um problema para o eixo central do Benfica, principalmente devido à maior mobilidade.

Do lado do Benfica, destacam-se os jovens João Félix e Gedson Fernandes. Num gesto de desespero à procura do golo que desse o empate, Rui Vitória chamou Seferovic e João Félix a jogo. Se do suíço pouco se viu, o jovem português fez história. Tornou-se o mais jovem a sair do banco e a marcar um golo no dérbi.

Já Gedson Fernandes continua a demonstrar tranquilidade e a crescer de jogo para jogo. Não acusou a pressão do primeiro dérbi pela equipa principal e assumiu o jogo sem medos, a correr e a tentar desequilibrar. Imprimiu velocidade e quebrou linhas em transporte e passe.

Do lado negativo, há que referir a exibição de Ferreyra. O argentino quase não apareceu em jogo e só a falta de opções - Jonas e Castillo estão lesionados e Seferovic é o outro avançado disponível - tem mantido o argentino na titularidade. Num dérbi onde era exigido nervo, o argentino foi muito passivo e acabou por ser uma 'presa' fácil para os adversários. Não conseguiu fazer combinações, nem jogar em apoio.

Já Jefferson continua a expor um problema da defensiva do Sporting. Nunca se mostrou tranquilo e cometeu várias falhas técnicas que podiam ter sido prejudiciais, desde cortes falhados a erros de posicionamento.

Reações

Presidente do Sporting pede “paz” aos clubes

Rui Vitória: "Foi uma arbitragem descontrolada"

Peseiro: "Faltou-nos condição para discutir o jogo nos últimos 25 minutos"

Rui Vitória: "Com mais descanso, este jogo era nosso"

João Félix: "Arrepiei-me quando marquei"

Peseiro: "Alguns jogadores ainda não têm condições para jogar 90 minutos com esta intensidade"

Nani: "Mostramos atitude, caráter e grande paixão"