Miguel Fonseca, advogado de Bruno de Carvalho, disse aos jornalistas, que há diferentes versões do que se terá passado na Academia do Sporting, em Alcochete, aquando do ataque dos adeptos aos jogadores do clube. Antes, fez questão de esclarecer.
"Há uma coisa que eu tenho segurança. O meu constituinte não está pronunciado nem acusado por ter estado lá naquele dia, quando decorreu aquele ataque. Portanto, essa certeza eu tenho. Quem esteve, quem não esteve, quem devia ter estado, eu sobre isso não me vou pronunciar", atirou o defensor do ex-presidente do Sporting, antes de comentar as versões contraditórias de algumas testemunhas.
"Há demasiadas testemunhas que têm de levar com processos-crime em cima. Quero concretizar que, ou esteve um responsável de segurança no balneário naquele dia, ou estas testemunhas que temos estado a ouvir têm todas de ir presas, porque as duas coisas não são verdade. Tenho uma testemunha que é paga para ser responsável por segurança, que me diz, sob-juramento, que está num determinado sítio quando está a acontecer um determinado evento. As outras testemunhas todas, que estiveram no mesmo sítio, ninguém o viu. Isto é objetivo. Não vou tirar nenhuma conclusão daqui. Objetivamente, as duas versões não podem ser verdade", começou por dizer, antes de garantir que não há imagens de Ricardo Gonçalves no balneário.
"Não há imagens do que aconteceu lá dentro. Imagine-se que ate houve quem tivesse arranjado a narrativa de que alguém partiu um botão de alarme para fazer soar um alarme, quando toda a gente que vem a seguir diz que o alarme soa quando a tocha é acesa dentro do balneário, o que é óbvio porque é para isso que serve o detetor de fumo. É impossível estarem todos a falar verdade. O que eu noto é que há um que tem uma versão e depois os outros todos que têm uma versão completamente diferente. Ricardo Gonçalves tem uma versão. É completamente diferente dos outros todos que estiveram no mesmo local, no mesmo dia, na mesma hora", acusa.
Ainda sobre o depoimento de Ricardo Gonçalves, diretor de segurança na altura dos acontecimentos, Miguel Fonseca diz que este não terá desempenhado as suas funções como devia.
"O diretor de segurança disse-nos aqui quando depôs que podia ter evitado as agressões aos jogadores. Foram palavras dele, não minhas. Eu ajudei-o a concretizar formas de ter evitado que algum jogador do Sporting tivesse sido sequer tocado por algum invasor. Mas isto na sequência de ele ter dito que podia ter evitado. Também é certo, e aqui tenho de ser honesto, que ele também diz que teve uma perceção errada da situação. Honestamente não acredito que ele tenha achado que algum jogador fosse ser agredido. Aí eu já tinha de estar a achar que ele tinha cometido um crime. Não me parece que esse crime ele tenha cometido. Não terá é desempenhado as suas funções como ele desempenharia, mas eu também não estava lá naquele dia para tomar decisões".
Miguel Fonseca sublinhou que as declarações que tem sido feitas em tribunal são abonatórias para Bruno de Carvalho.
"Do que é objetivo, não tenho dúvidas nenhumas que é o que andamos a pregar desde o primeiro momento. Andamos a pregar publicamente e no processo, e é o que as testemunhas disseram. Na verdade, mantenho a fé nas pessoas e na raça humana, que as pessoas na hora da verdade não mentem", atirou.
O julgamento prossegue na terça-feira com as inquirições, de manhã, de Vasco Fernandes, secretário técnico, e à tarde com os jogadores Stefan Ristovski e Bruno Fernandes.
Os futebolistas encontravam-se na academia do clube, em Alcochete, em 15 de maio de 2018, quando a equipa do Sporting foi atacada por elementos do grupo organizado de adeptos da claque Juventude Leonina, que agrediram técnicos, jogadores e outros funcionários do clube.
O processo, que está a ser julgado no Tribunal de Monsanto, em Lisboa, tem 44 arguidos, acusados da coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.
Bruno de Carvalho, à data presidente do clube, ‘Mustafá’, líder da Juventude Leonina, e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação aos adeptos do Sporting, estão acusados, como autores morais, de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.
Os três arguidos respondem ainda por um crime de detenção de arma proibida agravado e ‘Mustafá’ também por um crime de tráfico de estupefacientes.
Comentários