Após seis anos de investigações, atrasos e batalhas de bastidores, já arrancou aquele que é designado pela imprensa inglesa como o "julgamento do século" do futebol inglês, o mais sério de sempre a envolver um clube da Premier League, mais concretamente o tetracampeão Manchester City, acusado de ter usado um esquema de fraude durante anos para ludibriar as regras financeiras entre 2009 e 2023.

O clube de Manchester tem de se defender de cada uma das 115 acusações de que é alvo perante três juízes de um painel independente ao longo de várias audiências independentes.

O que está em causa

A Liga inglesa anunciou há pouco mais de ano e meio um conjunto de acusações contra o Manchester City, acusações essas que remontam a 2009, um ano após a compra do City por parte do irmão do governante de Abu Dhabi. O City é acusado de ter ludibriado a Liga de futebol mais rica do mundo ao longo de cerca de uma década.

A maioria das 115 acusações está relacionada com violações aos regulamentos financeiros da Premier League, incluindo falhas no fornecimento de informações financeiras precisas, apresentação de valores inflacionados para acordos de patrocínio envolvendo empresas dos Emirados Árabes Unidos, como a companhia aérea Etihad Airways e a empresa de telecomunicações Etisalat, pagamentos não registados que complementavam os salários de dirigentes e jogadores, entre outras.

O City é ainda acusado de não cooperar durante a investigação, a qual levou cerca de quatro anos.

Quais as  consequências

O Manchester City corre o risco de ser banido de todas as competições caso seja condenado. Segundo o jornal The Telegraph, caso seja condenado, o City pode de facto vir a ser castigado com o afastamento de todas as competições em que se encontra inserido, quer a nível interno (Premier League, Taça de Inglaterra e Taça da Liga), quer a nível internacional (Liga dos Campeões e Mundial de Clubes).

Os oponentes não acreditam que uma dedução de pontos - como já sucedeu a Everton, Nottingham Forest e Leicester - seja punição suficiente caso o clube seja considerado culpado. A expulsão do City do escalão principal iria de encontro às pretenções daqueles que pedem uma sanção mais severa.

Quando haverá uma decisão

As audiências do julgamento decorrerão dentro de um prédio no distrito financeiro de Londres que alberga o International Dispute Resolution Centre - uma instalação privada para empresas resolverem conflitos longe de observadores.

O Manchester City, que durante este tempo foi recorrendo a advogados para se defender e ir adiando qualquer sentença, conta com alguns dos mais prestigiados advogados da Grã-Bretanha, sendo a sua defesa liderada por David Pannick, um advogado cuja taxa horária não anda muito longe da faixa salarial de Erling Haaland.

O julgamento deve durar 10 semanas e de acordo com o jornal The Guardian a sentença só deverá ser conhecida nos primeiros meses de 2025 (fevereiro, na melhor das hipóteses), não sendo a mesma passível de recurso para o Tribunal Arbitral do Desporto.

O que argumenta o City

O City assegura estar inocente de todas as acusações, tendo de o provar ao longo da próximas dez semanas. Mesmo antes de as acusações terem sido enumeradas pela Premier League, no ano passado, o City garantiu ter a razão do seu lado, suportada por "um conjunto abrangente de provas irrefutáveis".

No entanto, o City nunca forneceu essas provas publicamente, lembrando que as alegações se baseiam em hacking ilegal e numa publicação fora de contexto de e-mails do clube. Na base das investigações, recorde-se, está a divulgação de uma série de documentos por parte do site Football Leaks, da responsabilidade do hacker português Rui Pinto, publicados também pelo jornal alemão Der Spiegel.

E Pep Guardiola, o que diz no meio disto tudo?

O caso foi abordado pelo treinador Pep Guardiola na antevisão ao encontro desta semana, da Liga dos Campeões, com o Inter, com o espanhol a referir que lhe garantiram que o clube não cometeu quaisquer ilegalidades e a lembrar a presunção de inocência que sempre é devida em qualquer julgamento. Garantiu que o plantel está à margem de tudo o que se passa nesse âmbito.

"Espero que acabe rápido, para benefício de todos. Especialmente para o clube, mas para todos os outros clubes da Premier League, e para todas as pessoas que não esperam pela sentença ara dar a sua. Desejo do fundo do meu coração que o painel independente decida o que tiver a decidir. Aceitaremos, como sempre fizemos", afirmou.

Ainda assim, criticou a forma como o caso tem sido noticiado. "Vocês fazem perguntas como se o clube já tivesse sido punido. Têm que se lembrar de que somos inocentes até que se prove o contrário… Eu sei que as pessoas querem que o City seja punido. Mas por que não deveria eu acreditar no clube? Garantiram-me que é um caso completamente diferente do caso do Everton [punido com a perda de 8 pontos na temporada passada]", apontou.