Norman Whiteside sempre foi um jogador precoce. Desde as ruas violentas de Belfast nos anos 70, onde foi descoberto pelo olheiro Bob Bishop – o mesmo que revelara ao mundo o talento de George Best -, à sua estreia no Manchester United, tudo passou a correr para este criativo avançado da Irlanda do Norte. E para não variar, o Campeonato do Mundo não seria exceção.
Whiteside chegou ao Mundial 1982, em Espanha, com apenas um par de jogos como profissional pelos red devils. Depois da estreia aos 16 anos contra o Brighton & Hove Albion a 24 de abril de 1982, este possante avançado mereceu a confiança do selecionador Billy Bingham, que não teve medo de fazer história.
Na estreia dos norte-irlandeses na competição – na qual já não marcava presença desde 1958 e que pela primeira vez se desenrolava com 24 seleções -, a Jugoslávia era a adversária. Foi a 17 de junho que um “miúdo” irlandês de 17 anos e 41 dias subiu ao relvado para destronar o “rei Pelé”. Whiteside era agora o jogador mais jovem de sempre a jogar num Mundial, superando a marca do antigo tricampeão do Mundo. Este facto histórico acabou por ofuscar um jogo sem história e que terminou empatado a zero.
Na partida seguinte, o jovem avançado voltou a surgir entre os titulares, provando que a sua estreia não era uma aposta ao acaso. Contudo, diante das Honduras, a favorita Irlanda do Norte não conseguiu mais do que um empate a um golo e colocou em causa as hipóteses de apuramento. No derradeiro jogo da fase de grupos, a seleção de Whiteside estava obrigada a um “triunfo impossível” sobre a anfitriã Espanha. O que parecia impossível tornou-se real com um golo solitário de Armstrong, num jogo em que até acabaram a jogar com 10 jogadores.
A Irlanda do Norte garantia a passagem à segunda ronda da fase de grupos, na qual acabaria por ser vergada pela França e pela Áustria. Todavia, já ninguém retiraria o recorde de Whiteside aos norte-irlandeses.
Quatro anos mais tarde, Whiteside era já um “veterano” de 21 anos a integrar a comitiva da Irlanda do Norte para o Mundial no México, em 1986. Logo no primeiro jogo, contra a Argélia (1-1), o jogador do Manchester United apontou o seu único golo em Campeonatos do Mundo e deu à sua seleção o único ponto na prova. A esta partida seguir-se-iam as derrotas com a Espanha e o Brasil e o consequente adeus.
A praga das lesões
Reza a máxima que “depressa e bem, não há quem”. No caso de Norman Whiteside, a sua ascensão meteórica só teve paralelo na sua retirada precoce, em 1991, quando tinha somente 26 anos. As lesões foram o companheiro mais fiel do jogador norte-irlandês ao longo da carreira, obrigando-o a fazer 13 cirurgias enquanto era profissional.
Os problemas começaram quando era ainda um talento promissor nas camadas jovens do United. Primeiro, na virilha; depois, nos joelhos. Whiteside passou quase tanto tempo no departamento médico dos ‘red devils’ como nos relvados e o corpo começou a ressentir-se rapidamente.
Em 1989, já sob o comando de Alex Ferguson, o avançado deixa o Manchester United para rumar ao Everton, despedindo-se de Old Trafford com duas Taças de Inglaterra (1983 e 1985) e uma Supertaça (1985). Além das lesões, os problemas fora de campo – com alegadas noitadas e consumo excessivo de álcool – ajudaram a abrir a porta de saída do clube onde também batera o recorde de Duncan Edwards como o mais jovem a representar aquele emblema.
A experiência no Everton seria igualmente fustigada pelas lesões, levando-o a anunciar o seu adeus ao futebol ao fim de duas épocas em Goodison Park. Curiosamente, Whiteside passou tanto tempo nos gabinetes médicos que após a vida de futebolista acabaria mesmo por enveredar uma carreira médica na área da podologia.
Num país órfão de referências no futebol, Whiteside permanece como um ídolo da Irlanda do Norte e um dos poucos a poder gabar-se de fazer parte da história do futebol mundial.
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