A noite de quinta-feira não foi fácil para as autoridades policiais dos Países Baixos. Cinco cidadãos israelitas ficaram feridos e 62 pessoas foram detidas durante a madrugada, após confrontos entre supostos manifestantes contra a guerra em Gaza e um grupo de adeptos do Maccabi de Telavive, na sequência da derrota sofrida pelo emblema israelita diante do Ajax (5-0), em jogo da 4.ª ronda da Liga Europa.
Não se sabe como tudo começou mas circulam imagens nas redes sociais de vários seguidores a trepar a casas para arrancar bandeiras da Palestina, cânticos islamofóbicos nos transportes públicos e assédio a taxistas árabes.
Vídeos nas redes sociais mostram ainda o desrespeito dos adeptos israelitas pelo minuto de silêncio prévio ao jogo, em homenagem das vítimas das cheias em Espanha, sobretudo na região de Valência, com estes a entoar cânticos antiárabes.
Como tudo começou
Foram cerca de três mil os adeptos do Maccabi que viajaram de Telavive para os Países Baixos para assistir ao jogo. Durante a tarde, cerca de uma centena de apoiantes israelitas reuniu-se na praça Dam - rodeados por forte presença policial - antes de se dirigir para o estádio Johan Cruyff, no sudoeste de Amesterdão. Nas imagens que circulam nas redes sociais, é possível ver um adepto a arrancar de uma fachada uma bandeira da Palestina, pendurada numa janela.
No caminho para o estádio, alguns adeptos do Maccabi Telavive entoaram cânticos contra os palestinianos. "Deixem a IDF [Forças de Defesa de Israel] vencer para f@d£r os árabes" ou "Não há escolas em Gaza porque já não há crianças" eram alguns dos cânticos entoados, de acordo com vários vídeos que circulam na rede social X.
Já no estádio, no Johan Cruijff ArenA, os adeptos do emblema israelita assobiaram o minuto de silêncio em memória das vítimas das cheias em Espanha. De recordar que o governo espanhol reconheceu o estado da Palestina, além de ter cancelado a venda armas a Israel. Pedro Sánchez, chefe do governo espanhol, chegou mesmo a apelar à comunidade internacional para acabar de forma urgente com a exportação de armas para Israel.
Alguns dos adeptos israelitas que foram agredidos eram soldados da IDF (Forças de Defesa de Israel), como se pode ver nalguns vídeos.
No final do jogo, reinou o caos nas ruas de Amesterdão. Muitos adeptos israelitas foram espancados e humilhados em vários pontos da cidade. Há vídeos que mostram alguns a serem agredidos e obrigados pelos agressores a proferir frases como 'Free Palestine'. Alguns adeptos foram atirados à água, nos canais que percorrem Amesterdão.
Israel envia dois aviões para resgatar adeptos e fala em ataques "bárbaros e antisemitas"
De acordo com as autoridades dos Países Baixos, 57 pessoas foram detidas durante a madrugada em Amesterdão após confrontos. A polícia holandesa disse à agência de notícias espanhola EFE que estão a ser recolhidas informações sobre acontecimentos ocorridos "antes, durante e depois" do jogo entre o Ajax e o Maccabi. Os incidentes provocaram ferimentos em cinco cidadãos israelitas.
A polícia protegeu e escoltou os adeptos israelitas de volta ao hotel, de acordo com imagens partilhadas pela AT5.
O novo ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Gideon Sa'ar disse, após contactos com as autoridades de Haia, que pelo menos 10 pessoas ficaram feridas considerando os incidentes "bárbaros e antisemitas"
Anteriormente o primeiro-ministro de Israel ordenou o envio "imediato de dois aviões de resgate" para retirar os cidadãos israelitas e exigiu às autoridades dos Países Baixos "atuação firme e rápida" contra aqueles que provocaram as agressões.
O primeiro-ministro dos Países Baixos, Dick Schoof, condenou os incidentes, afirmando-se "horrorizado pelos ataques anti-semitas contra cidadãos israelitas". Schoof lidera um governo de coligação de direita e garantiu, em contacto telefónico com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que "os responsáveis vão ser identificados e julgados".
O chefe do Executivo de Israel esteve, entretanto, em contacto telefónico com Dick Schoff a quem pediu garantias de segurança a todos os israelitas que se encontram no país. Em comunicado, Benjamin Netanyahu agradeceu a Dick Schoff por ter classificou os incidentes nos Países Baixos como um "ato antisemita".
Para o Presidente de Israel, as agressões supostamente levadas a cabo por manifestantes pró-palestinianos contra adeptos do Maccabi Telavive foram um "pogrom antissemita".
"Vemos com horror, hoje de manhã, as chocantes imagens que, desde 07 de outubro, esperávamos não voltar a ver", disse Isaac Herzog, que comparou o incidente nos Países Baixos com os ataques de membros do Hamas de 2023 em que morreram 1.200 pessoas em território israelita.
O termo russo "pogrom" designa desde o século XIX a agressão e perseguição deliberada contra um grupo étnico, sobretudo judeus.
Polícia neerlandesa admite que adeptos israelitas foram atacados “intencionalmente”
O chefe de polícia interino de Amesterdão, Peter Holla, afirmou que os adeptos israelitas foram “atacados intencionalmente”. Por outro lado, a presidente da Câmara de Amesterdão, Femke Halsema, garantiu que o organismo de vigilância antiterrorista neerlandês afirmou não existir qualquer ameaça concreta para os adeptos de futebol israelitas após um jogo que terminou com confrontos entre adeptos e manifestantes.
“Tenho vergonha” do que aconteceu na cidade, disse Femke Halsema, anunciando a proibição temporária de manifestações.
As autoridades neerlandesas, que denunciaram a violência como atos de semitismo, afirmaram que os atacantes visaram sistematicamente os adeptos israelitas, mas está por esclarecer como começaram os atos de violência.
UEFA e União Europeia condenam violência contra israelitas
A UEFA já veio terreno condenar firmemente a violência ocorrida quinta-feira em Amesterdão entre adeptos dos israelitas do Maccabi Tel Aviv e manifestantes contra a ofensiva em Gaza, admitindo atuar disciplinarmente quando tiver todas as informações oficiais.
“Vamos examinar todos os relatórios oficiais, reunir provas disponíveis, analisá-las e avaliar qualquer ação apropriada de acordo com o quadro regulamentar”, anunciou a instituição que dirige o futebol europeu.
Também a União Europeia reagiu, na voz da presidente da Comissão Europeia. Ursula von der Leyen, disse estar “indignada com os ataques vis contra os cidadãos israelitas" em Amesterdão, enquanto o líder do Conselho Europeu, Charles Michel, em vésperas de passar a pasta a António Costa, condenou “veementemente os ataques absolutamente repreensíveis”.
Governo francês recusa mudar local do França-Israel, da Liga das Nações
Uma manifestação pró-palestiniana, a condenar a visita do clube israelita, estava inicialmente prevista para as imediações do estádio, mas foi transferida pela câmara municipal de Amesterdão para uma localização mais afastada, por razões de segurança.
Perante os episódios de violência em Amesterdão e a possibilidade deslocalizar o jogo entre França e Israel, marcado para 14 de novembro, em Paris, o ministro do Interior francês já advertiu que não aceitará a mudança do local da partida da Liga das Nações.
“Algumas pessoas estão a pedir a deslocalização do jogo França-Israel. Não aceito isso: a França não recua e isso seria equivalente a capitular perante as ameaças de violência e o antissemitismo”, avisou Bruno Retailleau, em mensagem publicada na rede social X.
*Com Lusa
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