Barcelona e Real Madrid empataram a zero na partida que vinha atrasada desde outubro, da 10.ª jornada da Liga Espanhola. Um resultado que já não se registava no 'El Clasico' há 17 anos.
O resultado deixou catalães e 'merengues' com os mesmos 36 pontos na liderança do campeonato em Espanha.
Na partida que poderia desempatar o histórico entre as duas equipas nos clássicos para a La Liga que somavam, até ao início do jogo, 72 vitórias cada uma e 34 empates, o equilíbrio acabou por se manter no final dos 90 minutos.
O Barcelona começou melhor na partida, mas foi o Real Madrid a causar mais perigo ao longo da partida, com Benzema a ser o melhor elemento ao longo da partida.
Aos 10 minutos, Benzema recebeu um ressalto e de fora de área rematou à figura de Ter Stegen.
Sete minutos depois, o Real teve a melhor oportunidade da partida, com Casemiro a cabecear para a baliza, mas Piqué surgiu para o salvamento e tirou a bola mesmo em cima da linha de golo.
Aos 26 minutos, foi Ter Stegen a ter de voltar a mostrar serviço primeiro com a perna e depois na recarga a esticar-se para defender a bomba que Casemiro atirou de fora de área.
Já depois da meia hora de jogo, o Barcelona esteve perto de marcar por Messi, mas Sergio Ramos limpou a bola. Aos 41, Jordi Alba atirou bem perto do poste da baliza de Courtous.
A partida chegou ao intervalo empatada , mas já com o 'Barça' a levar a vantagem nos cartões amarelos: 3 amarelos para os da casa, zero para os visitantes.
A segunda parte ficou marcada pela interupção aos 55 minutos, devido ao arremesso de bolas pelos adeptos como forma de protesto pela causa independentista catalã, apenas um dos elementos da partida que ficou bem marcada pela tensão política que se sente em Barcelona.
Aos 73 minutos, a bola finalmente encontrou na baliza: passe de Mendy e Bale remata a bola no fundo da baliza para o primeiro golo do 'El Clasico'... só que não.
O árbitro auxiliar levantou a bandeirola por fora de jogo de Mendy quando este recebeu a bola, o VAR veio confirmar a decisão e manteve-se tudo na mesma.
Nos últimos minutos, o Barcelona começou a crescer e aos 74 minutos Suárez, depois de uma joagada de entendimento entre Messi e Vidal, acabou por rematar muito desenquadrado.
O jogo acabou e o marcador não mexeu. O zero a zero registado mantém as duas equipas coladas na liderança da Liga Espanhola, num 'El Clasico' que passou por muitas alterações já desde outubro, como recordamos de seguida.
Um clássico que só chegou no Natal
O FC Barcelona - Real Madrid estava inicialmente marcado para 26 de outubro de 2019, na altura em que todos os restantes clubes disputavam a 10.ª jornada da Liga Espanhola.
Mas tudo mudou a 14 de outubro, quando o Tribunal Supremo espanhol condenou os principais dirigentes políticos envolvidos na tentativa de independência da Catalunha a penas que chegaram a 13 anos de prisão, no caso de Oriol Junqueras, ex-vice-presidente do governo catalão.
A decisão levou a uma série de protestos que invadiram toda a região da Catalunha e colocou as ruas de Barcelona a 'ferro e fogo'.
O Barcelona saiu em defesa dos acusados, com um comunicado divulgado, em que afirmou que "Da mesma forma que a prisão preventiva não ajudou a resolver o conflito, tão pouco o fará a prisão efetiva decidida hoje [14 de outubro], porque a prisão não é solução. A resolução do conflito na Catalunha passa, exclusivamente, pelo diálogo político".
A 'El Clasico' estava então a 12 dias de se realizar em Camp Nou.
Com os confrontos a colocarem manifestantes e polícia frente a frente, a chegarem ao aeroporto e a fecharem estradas, a Liga Espanhola começou a olhar com cada vez maior preocupação para a partida que estava a poucos dias de ser realizada.
A 'La Liga' chegou mesmo a pedir uma troca entre os palcos da 1.ª e 2.ª volta do 'El Clasico' - inverter para o primeiro ser jogado em Santiago Bernabeu e o segundo em Camp Nou - para que o jogo se mantivesse na data prevista mas o FC Barcelona recusou-se a disputar a partida da 1.ª volta em Madrid.
Tudo isto numa altura em que os protestos não davam conta de virem a diminuir em Barcelona, com a construção de barricadas pelos manifestantes que tambem incendiaram mobiliário urbano e pneus.
Por fim, a 18 de outubro, a Real Federação Espanhola de Futebol confirmou o adiamento da partida deixando a cargo dos dois clubes a definição da data para a realização da partida. Caso isso não acontecesse, seria a Federação Espanhola a decidir a data.
O Barcelona propôs então o dia 18 de dezembro para a disputa do 'El Clasico', data que foi homolgada pelo Comité de Competições da Real Federação Espanhola de Futebol.
Contudo, a Liga Espanhola demonstrou-se contra a data escolhida e avançou com ações judiciais e administrativas contra a decisão da RFEF, uma vez que o novo agendamento da partida causa “um dano irreparável ao futebol espanhol” violando o regulamento de comercialização conjunta dos direitos audiovisuais, os compromissos com os operadores televisivos e a integridade da própria competição.
A verdade é que a partida acabou mesmo por ser disputada esta quarta-feira.
Além de um jogo, um palco de protesto
Apesar da tensão nas ruas de Barcelona ter diminuído, as 'feridas' reabertas pela decisão do Tribunal Supremo espanhol de condenar à prisão dos dirigentes envolvidos na causa continuaram bem presentes no 'El Clasico' da primeira volta da Liga Espanhola.
Barcelona e Real Madrid passaram as últimas horas antes da saída para Camp Nou no mesmo hotel e seguiram juntas para a 'casa' do Barcelona de modo a apaziguar os ânimos e para facilitar a segurança das equipas na chegada ao palco da partida.
A plataforma 'Tsunami Democràtic', movimento que coordena ações de desobediência civil em protesto contra a condenação dos independentistas catalães, marcou para a data da partida uma concentração de modo a utilizar a audiência de milhões que o 'El Clasico' tem para divulgar a sua mensagem para todo o mundo.
Antes da partida centenas de manifestantes cortaram o tráfego rodoviário em redor de Camp Nou, onde tambem foram distribuídas vários cartazes com o slogan do movimento "Espanha, senta-te e fala!" além da mensagem "Liberdade, Direitos e Autodeterminação".
Cartazes estes que tiveram de ser atirados para o lixo à entrada para o recinto da partida, como comprovam as imagens divulgadas nas redes sociais.
A verdade é que estes cartazes azuis e amarelos acabaram por invadir o interior do Camp Nou com a esmagadora maioria dos adeptos presentes no recinto a levantarem-nos enquanto entoavam canticos como "Espanha, senta-te e fala!", "Independência" e "Liberdade para os presos políticos".
A maior demonstração da forte presença da causa independentista catalã foram as duas tarjas colocadas numa das bancadas do estádio do FC Barcelona, por detrás das equipas quando entraram em campo.
#EspanhaSenta-teEFala e #Liberdade surgiram atrás dos jogadores do FC Barcelona na fotografia de equipa.
Dentro e fora de Camp Nou a tensão sentia-se, com os Mossos d'Esquadra a carregarem sobre manifestantes que tentavam forçar a entrada dentro de Camp Nou.
Já na segunda parte da partida 'choveram' bolas das bancadas para o interior do relvado, o que levou a que a partida fosse interrompida durante alguns instantes.
Fora de Camp Nou, a tensão aumentou conforme o relógio se aproximava do minuto 90, com os manifestantes a montarem barricadas e a colocarem caixotes do lixo a arder, com o cheiro a queimado a chegar às bancadas do estádio.
Com o final da partida a tensão manteve-se com confrontos a registarem-se entre os Mossos e os manifestantes.
Empate em campo, tensão nas ruas. Mesmo com o adiamento, a instabilidade política continuou a ser bem visivel neste 'El Clasico' sem golos.
*Artigo atualizado
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