O treinador argentino Martín Anselmi, recém-chegado ao FC Porto, da I Liga portuguesa, deixou impacto no futebol mexicano com a revitalização competitiva do Cruz Azul, traça o técnico-adjunto do Tigres, Nuno Gomes.
“Fez um excelente trabalho e o Cruz Azul esteve muito perto de atingir o título. Às vezes, não chega terminar os torneios ‘Clausura’ ou ‘Apertura’ em primeiro lugar, porque o que realmente conta é a liguilha, com jogos em casa e fora em que tudo pode acontecer. O campeonato é muito competitivo e as equipas são boas, mas eles estiveram sempre no topo”, enquadrou à agência Lusa o adjunto português, adversário de Anselmi em 2024.
Apresentado na segunda-feira como sucessor de Vítor Bruno nos ‘dragões’, o argentino, de 39 anos, deixou para trás um trajeto de 13 meses à frente do Cruz Azul - quarto clube mais titulado no escalão principal mexicano, com nove conquistas, a última em 2020/21 -, que assentou numa estrutura tática de ‘3-4-3’ e deu a volta a um “momento menos bom”.
“Ele entrou com um projeto muito ambicioso, no qual a direção do Cruz Azul queria lutar por vitórias e títulos e proporcionou-lhe um bom orçamento para fazer contratações. Eles adquiriram mais de 10 futebolistas e gastaram acima dos 60 milhões de euros (ME) num ano. O Martín Anselmi conseguiu potenciar a equipa no sentido de ser de topo”, lembrou.
Numa competição repartida a cada temporada entre dois torneios, cujos vencedores são definidos em play-offs, o Cruz Azul perdeu a final da ‘Clausura’ de 2023/24 face ao Club América (1-2 nas duas mãos), desfecho replicado nas ‘meias’ do ‘Apertura’ de 2024/25 (3-4) - de novo logrado pelas ‘águilas’ -, apesar do recorde de pontos (42 em 51 possíveis) e do primeiro lugar na fase regular, à frente do ‘vice’ Toluca, de Renato Paiva e Paulinho.
“A equipa era muito competitiva e tinha um ritmo de jogo bastante elevado. O que se nota na gestão e liderança do Anselmi é que é exigente e potencia todos os atletas, de forma que estejam involucrados no processo. As substituições resultavam sempre muito bem. A equipa mantinha-se com uma grande intensidade e era muito difícil de defrontá-la”, disse.
Adjunto do sérvio Veljko Paunović há dois anos e meio no México, onde trocou o Chivas pelo Tigres no verão passado, Nuno Gomes cruzou-se oficialmente com o Cruz Azul esta temporada em 10 de novembro (1-1), num encontro da 17.ª e última jornada do ‘Apertura’ em que o conjunto de Anselmi atuava em casa e empatou já em tempo de compensação.
“Viu-se uma equipa muito bem organizada, com uma defesa a três e um guarda-redes a participar muito nessa primeira fase, jogando quase como um quarto defesa na circulação de bola e estando sempre muito adiantado na construção. Depois, colocava muita gente entre linhas na frente e a reação à perda da bola era forte, intensa e agressiva. Eles não gostavam de deixar o oponente ter tempo para pensar logo na saída de bola”, descreveu.
Cruz Azul e Tigres terminaram a fase regular do ‘Apertura’ no primeiro e terceiro lugares, respetivamente, reencontrando-se uma semana mais tarde com atletas menos utilizados num particular em Dallas (1-1), no estado norte-americano do Texas, antes dos play-offs.
“Usavam o homem livre para avançar no terreno e não faziam posse pela posse. Quando ganhavam vantagens [posicionais], atacavam o adversário. Foi uma das características que notámos no jogo do campeonato, tanto que baixámos um pouco o bloco e estivemos mais compactos para não haver esse espaço entre linhas e causarmos algum dano em transição. Sofremos o 1-1 de lançamento lateral no último lance”, recordou Nuno Gomes.
O Tigres, vencedor de oito títulos mexicanos, viria a ceder frente ao Atlético San Luis nos quartos de final da ‘Apertura’, enquanto a derrota do Cruz Azul nas ‘meias’ perante o Club América, recordista de cetros (16), inviabilizou a inédita conquista de um campeonato na curta carreira de Anselmi, mediatizada pelos quatro troféus vencidos nos equatorianos do Independiente del Valle, incluindo a Taça e a Supertaça sul-americana, em 2022 e 2023.
“O nosso objetivo passava por expor os dois médios de construção, que até tinham muita bola, mas necessitavam de sair da zona central para poderem tocar nela. Na reação à perda, eles estavam muito desorganizados, o que gerava algumas transições”, elucidou.
Persuadido pelo convite do FC Porto ao fim de um empate e uma derrota na atual edição do ‘Clausura’, Anselmi saiu de forma litigiosa e foi acusado de “desertor” pelo Cruz Azul, que alegava não ter havido acordo, versão desmentida pelo argentino e pelos ‘dragões’.
“O que aconteceu não ficou totalmente esclarecido na comunicação social. O Cruz Azul vinha de resultados menos positivos, mas, entretanto, ganhou dois jogos difíceis e já se fala em esquecer, limpar o que aconteceu e olhar para o futuro, porque o treinador passa, o clube continua e há que andar para a frente. Retiraram alguma pressão sobre o Martín Anselmi, a direção e o diretor desportivo. Essas vitórias aliviaram um pouco os ares do Cruz Azul”, finalizou Nuno Gomes.
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