O FC Porto necessita de reforços ajustados às ideias futebolísticas do treinador argentino Martín Anselmi, recém-contratado pelo FC Porto, da I Liga portuguesa, aos mexicanos do Cruz Azul, afiança o técnico-adjunto do Tigres, Nuno Gomes.
“A curto ou médio prazo, ele quererá trazer jogadores à sua imagem e que conheça para pôr em marcha o seu futebol. Uma coisa é jogar com uma defesa a quatro, outra é a três. Os laterais podem ser extremos em função do jogo e da estratégia. Já os três homens da frente têm muita mobilidade, toque entre linhas e velocidade para saírem nos corredores. O FC Porto, se calhar, terá de ir buscar jogadores com essas características”, assumiu à agência Lusa o adjunto português, adversário de Anselmi na primeira metade da época.
Na quinta-feira, três dias depois de ter sido apresentado como sucessor de Vítor Bruno, o argentino, de 39 anos, estreou-se com uma vitória perante o campeão israelita Maccabi Telavive (0-1), em Belgrado, capital da Sérvia, para a oitava e última jornada da fase de liga da Liga Europa, apurando o FC Porto para o play-off de acesso aos oitavos de final.
“Vimos uma equipa já estruturada, mas não vi uma qualidade de jogo acima do esperado e o FC Porto não teve o jogo controlado. Na segunda parte, sofreu muito sem bola e teve de encarar várias situações defensivas na sua área, que poderiam ter mudado o rumo da partida. Três dias dá muito pouco tempo e agora terá muito trabalho pela frente”, avaliou.
Prescindindo da estrutura tática de ‘4-2-3-1’ habitualmente utilizada com Vítor Bruno, os ‘dragões’ defrontaram o Maccabi Telavive no ‘3-4-3’ tradicional das equipas de Anselmi, com o médio Stephen Eustáquio a surgir entre os centrais Tiago Djaló e Otávio Ataíde e os laterais João Mário e Francisco Moura a darem largura nos flancos, enquanto Pepê e Fábio Vieira surgiram em terrenos interiores no apoio ao ponta de lança Danny Namaso.
“Era de esperar que o Martín mudasse imediatamente para o seu estilo e a equipa jogou no sistema em que o Cruz Azul vinha a alinhar. Nota-se que o FC Porto já tem uma ideia mais definida na sua organização defensiva, na linha de cinco atrás, em quem salta [na pressão] aos médios contrários e com centrais a romper [em construção], mas ainda não tem o plantel à imagem do treinador para jogar o futebol pretendido”, disse Nuno Gomes.
A iniciar a primeira experiência ma Europa, Martín Anselmi tem estreia marcada na I Liga para segunda-feira, quando o FC Porto visitar o Rio Ave no fecho da 20.ª jornada, numa altura em que os ‘dragões’ não ganham há três jogos na prova e ocupam o terceiro lugar, com os mesmos 41 pontos do ‘vice’ Benfica, ambos a seis do campeão e líder Sporting.
“Primeiro, tem de assimilar ideias junto deste grupo e colocar o seu vínculo a atacar e a defender. A curto ou médio prazo, os reforços que ele irá trazer vão de certeza elevar a qualidade de jogo, fazendo com que o FC Porto domine com bola, seja mais agressivo e explore os corredores e as entradas na área adversária”, indicou, apelando à “gestão da ansiedade” dos atletas, na sequência de uma recente série de cinco duelos sem vencer.
Anselmi é o primeiro estrangeiro a orientar o FC Porto desde o espanhol Julen Lopetegui (2014-2016) e imita os compatriotas e já falecidos Eladio Vaschetto (1947/48 e 1951/52), Alejandro Scopelli (1948/49), Francisco Reboredo (1950, 1960, 1961 e 1962) e Lino Taioli (1952).
“Tinha uma relação bastante próxima com os atletas [no Cruz Azul], até pela sua idade. É um treinador jovem, enérgico, muito efusivo na reação a uma falta ou a uma oportunidade falhada. Muitos adeptos gostam de ver alguém entusiasta, efusivo e interventivo no jogo e ele joga um bocado com isso. O que se nota é que essa efusividade não é só transmitida nos jogos. Nos treinos, parece-me ser muito comunicativo de forma a ter as coisas à sua maneira e ritmo. Os jogadores sentem isso e jogam à sua imagem”, referiu Nuno Gomes.
Ressalvando que Martín Anselmi “não tem neste momento uma equipa tão estável e com tanta identidade à FC Porto”, o adjunto do Tigres confia que os atletas estão predispostos para aceitar um estilo de jogo que gerou impacto no México e “poderá resultar” na I Liga.
“O campeonato mexicano é muito competitivo e tem internacionais de qualidade, devido à realidade financeira do país. Comparando com Portugal, eu diria que o nível de qualidade individual dos jogadores poderá ser um pouco mais baixo nas equipas de topo. Vejo uma equipa jovem neste FC Porto, com poucas referências do próprio clube e individualidades de classe internacional ainda não firme. O novo técnico terá bastante trabalho pela frente. O futebol português é muito evoluído a nível de organização técnico-tática, algo que não acontece no México”, reconheceu Nuno Gomes, a trabalhar desde 2022/23 naquele país.
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