O treinador José Peseiro tenta ser no domingo o terceiro português a arrebatar um torneio continental sénior de seleções, caso a Nigéria vença a anfitriã Costa do Marfim na final da Taça das Nações Africanas (CAN2023) de futebol.

Em busca de repetirem os triunfos alcançados em 1980, 1994 e 2013, as ‘super águias’ medirão forças com os ‘elefantes’, vencedores em 1992 e 2015, no encontro decisivo da 34.ª edição da prova, que arranca às 20:00, no Estádio Alassane Ouattara, em Abidjan.

A 42.ª colocada do ranking da FIFA conta com o central Chidozie (Boavista) e os laterais esquerdos Bruno Onyemaechi (Boavista) e Zaidu (FC Porto), todos da I Liga portuguesa, numa lista liderada pelo avançado Victor Osimhen, melhor jogador africano de 2023, ano em que foi campeão italiano pelo Nápoles e cotou-se como melhor marcador da Serie A.

José Peseiro, de 63 anos, pode atingir a principal conquista em mais de três décadas de carreira, numa altura em que os ex-selecionadores nacionais Nelo Vingada e Fernando Santos ocupam um restrito lote de técnicos lusos vitoriosos em fases finais de seleções.

O coruchense já tinha participado em duas grandes competições continentais, nas quais nunca venceu um desafio e consentiu uma dupla eliminação na fase de grupos da Taça Asiática, com a Arábia Saudita, em 2011, e da Copa América, pela Venezuela, em 2021.

Essas campanhas contrastam com o atual desempenho invicto da Nigéria na CAN, que começou por ficar no segundo lugar do Grupo A, com sete pontos, após empatar com a Guiné Equatorial (1-1) e impor-se à Costa do Marfim e a Guiné-Bissau (ambos por 1-0).

A diferença de golos inferior aos equato-guineenses implicou um embate nos oitavos de final com os Camarões, segundo país mais titulado do torneio, com cinco troféus (1984, 1988, 2000, 2002 e 2017), que ‘tombou’ através de um ‘bis’ de Ademola Lookman (2-0).

O extremo dos italianos da Atalanta foi também decisivo no encontro dos ‘quartos’ com a Angola (1-0), de Pedro Gonçalves, que antecedeu um triunfo no desempate por grandes penalidades diante da África do Sul (4-2), após igualdade 1-1 no final do prolongamento.

O defesa central e capitão William Troost-Ekong adiantou a Nigéria na conversão de um penálti (67 minutos), do mesmo modo como Teboho Mokoena levou o duelo para tempo extra (90), num lance incomum, em que o árbitro principal recorreu ao videoárbitro (VAR) para anular o 2-0 ao ‘astro’ Victor Osimhen e assinalar castigo máximo na área contrária.

Sem alterações no prolongamento, em que Grant Kekana foi expulso nos ‘bafana bafana’ (115), as ‘super águias’ foram mais eficazes nas grandes penalidades e apenas falharam um remate em cinco tentativas, contra dois em quatro dos campeões africanos em 1996.

Um triunfo no reencontro com a Costa do Marfim, de Ousmane Diomande, defesa central do Sporting, vai colocar José Peseiro como o primeiro treinador luso a conquistar a CAN, sucedendo ao Senegal, que, em 2022, precisou dos penáltis para vencer na final o Egito, recordista de troféus, com sete, e treinado pelo ex-selecionador nacional Carlos Queiroz.

O ribatejano já levou o clube de Alvalade à final da Taça UEFA, perdida em casa para os russos do CSKA Moscovo, em 2004/05, e ajudou a arrebatar a Taça da Liga e a Taça de Portugal no regresso aos ‘leões’, em 2018/19, apesar de já não ser o treinador nos jogos decisivos, tendo logrado mais uma Taça da Liga com o Sporting de Braga (2012/13), um campeonato egípcio pelo Al-Ahly (2015/16) e a então II Divisão B no Nacional (1999/00).

Iminente pode estar ainda a entrada na galeria de técnicos nacionais bem-sucedidos em fases finais de provas seniores de seleções, que está limitada a Nelo Vingada, campeão asiático com a Arábia Saudita, em 1996, e Fernando Santos, responsável pelas inéditas conquistas do Europeu, em 2016, e da Liga das Nações, em 2019, ao leme de Portugal.

Depois de ter auxiliado Carlos Queiroz nos dois títulos mundiais de sub-20 arrebatados consecutivamente pelo conjunto das ‘quinas’, em 1989 e 1991, Vingada levou os ‘falcões verdes’ ao terceiro e último êxito na Taça Asiática, ao bater na final os Emirados Árabes Unidos (4-2 nos penáltis, após igualdade 0-0 no final do prolongamento), em Abu Dhabi.

Portugal também festejou frente ao país anfitrião e capitalizou um tento de Eder, aos 109 minutos, para vencer a França (1-0) na decisão do Euro2016, invertendo o desenlace de 2004, quando foi surpreendido em casa pela Grécia (0-1), no Estádio da Luz, em Lisboa.

Fernando Santos voltou a triunfar três anos depois, ao levar a seleção nacional ao triunfo na primeira edição da Liga das Nações, cuja final foi disputada no Estádio do Dragão, no Porto, com um golo de Gonçalo Guedes, aos 60 minutos, a bater os Países Baixos (1-0).

Nos clubes, Manuel José é o treinador português mais vitorioso em provas continentais e ilustra a influência nacional em África - continente onde tem havido mais técnicos lusos a sagrarem-se campeões domésticos -, expondo no currículo quatro Ligas dos Campeões (2001, 2005, 2006 e 2008) e quatro Supertaças (2002, 2006, 2007, 2009) com o Al-Ahly.