A carta aberta dos jogadores do Casa Pia, em que questionam o presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) sobre os castigos aplicados ao clube e ao treinador Rúben Amorim, foi amplamente partilhada nas redes sociais e recebeu a solidariedade de treinadores em situação semelhante à do ex-jogador do Benfica, SC Braga e Belenenses.
O Conselho de Disciplina (CD) da FPF, recorde-se, sancionou o clube lisboeta com uma multa de 14 mil euros, perda de seis pontos e cinco jogos à porta fechada, por uma aparente violação dos regulamentos por parte de Rúben Amorim. O antigo internacional português estava impedido, enquanto "treinador estagiário", de dar indicações para o campo - está a tirar o nível I de treinador e, como sucede noutros clubes, é outro técnico, com o nível exigido, que é denominado como responsável principal: no Casa Pia, é José da Paz. Rúben Amorim foi, por isso, castigado com uma suspensão de três meses, 2.600 euros de multa e inibição de ser inscrito como treinador durante um ano.
Com este castigo, o Casa Pia, que era segundo classificado da Série D do Campeonato de Portugal, com 36 pontos, três a menos que o líder Praiense, cai para a quarta posição, com 30 pontos, concluída que está a primeira volta da prova. Para além disso, o denominado treinador principal, José da Paz, é multado em 1200 euros e ficará suspenso por quatro meses.
Como tudo começou
A primeira queixa saiu da Associação Nacional dos Treinadores de Futebol (ANTF), que elenca a composição da equipa técnica do Casa Pia, onde Rúben Amorim surge como estagiário, ou seja, com Grau I. "Não obstante (...) constatamos que o estagiário Rúben Amorim esteve, de forma permanente, a dar instruções para o campo. Os factos consubstanciam um ilícito disciplinar que importa registar, em prol da verdade desportiva", lê-se na denúncia, assinada por José Pereira e citada pelo jornal A Bola, referindo-se ao jogo do passado 15 de outubro com o Oriental. A esta denúncia a ANTF juntou o comunicado do Casa Pia em que oficializa Rúben Amorim como treinador principal, sendo aos restantes atribuídos os cargos de adjuntos.
Perante esta queixa, a Seccção Não Profissional do Conselho de Disciplina decidiu, quatro dias depois, abrir um procedimento disciplinar contra Rúben Amorim e o Casa Pia, tendo recorrido a imagens de vídeo captadas em várias partidas do clube de Pina Manique, de fotos no Facebook do Casa Pia e das declarações de árbitros presentes nesses jogos. De acordo com o jornal A Bola, o instrutor considerou como "inverosímeis e insuficientes" as declarações prestadas pelos arguidos durante a sua defesa, falando mesmo em "simulação" e "fraude", entendendo, portanto, haver matéria suficiente para avançar com o processo disciplinar e aplicar os castigos já anunciados.
As diferenças entre este e outros casos que se passam na Liga
Na carta aberta dirigida a Fernando Gomes, os jogadores do Casa Pia lembram que “todos os fins de semana” sucedem “situações graves com clubes das I e II Ligas, que se resumem a multas de pouco mais de 1.000 ou 2.000 euros”. Recorde-se que no ano passado já havia acontecido uma situação semelhante com o Santa Clara, enquanto o clube lutava para subir ao principal escalão. A que se devem, então, as diferenças entre este caso e os que se passam nas competições profissionais? À existência de diferentes regulamentos: de um lado, o Regulamento Disciplinar da FPF, pelo qual se regem as equipas do Campeonato de Portugal, e do outro o Regulamento Disciplinar da Liga, pelo qual se regem os clubes das provas profissionais).
No Regulamento Disciplinar da Liga não existe uma norma que permita ir além da aplicação de uma multa aos clubes que utilizem treinadores sem a habilitação necessária, indica o jornal A Bola, sendo que a infração está prevista na Inobservância de Outros Deveres (artigo 141.º). Ao passo que no Regulamento Disciplinar da FPF estão previstas sanções mais pesadas relativamente à utilização irregular de um treinador em jogo (78.º): a primeira infração é punida com uma multa pesada e, persistindo, as restantes com pena de derrota e multa mais leve.
Casa Pia avança para o TAD
A decisão do Conselho de Disciplina é passível de recurso para o Tribunal Arbitral do Desporto, algo que o Casa Pia já anunciou ir fazer, pedindo assim a suspensão do castigo que lhe foi aplicado.
Em comunicado, o emblema de Pina Manique esclarece que "inscreveu, no início da época desportiva, o Sr. José Paz Reis como treinador principal e o Sr. Rúben Amorim como treinador estagiário, e nunca agiu em contrário", pelo que "repudia, de forma veemente, o teor do Acórdão proferido pelo Conselho de Disciplina, pelo que, naturalmente, irá interpor recurso do mesmo nas instâncias competentes".
Ora se o TAD perguntar à FPF se se opõe ao efeito suspensivo do recurso, receberá a anuência da Federação, à semelhança do que tem acontecido noutros casos.
Recorde-se que o Alverca viu serem-lhe retirados três pontos pela mesma razão, além de uma multa de 1160 euros. Uma situação que indignou o treinador do Mafra, Filipe Martins, que lembrou a responsabilidade da Federação em abrir os cursos necessários.
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