15 anos depois, o Santa Clara está de regresso à primeira divisão do futebol português. A equipa açoriana confirmou o segundo lugar da II Liga no último domingo, ao vencer em casa o Real Massamá (3-0). A espera foi longa, mas a verdade é que esta subida promete fazer correr muita tinta. Tudo por causa de uma série de irregularidades cometidas nos encontros da competição, e que poderão colocar em causa a promoção da equipa à I Liga.
No passado mês de março, o jornal O Jogo dava conta de uma denúncia apresentada ao Conselho de Disciplina por dois clubes, acusando o Santa Clara de infringir o Regulamento das Competições da Liga desde o início da presente temporada. A primeira questão está relacionada com o treinador. Carlos Pinto é o homem que está à frente do emblema dos Açores, mas por ter apenas o grau II não poderia ser o técnico principal. Perante essa lacuna, o clube decidiu inscrever Luís Pires, detentor do nível III e coordenador das camados jovem do clube, como treinador principal.
Contudo, Luís Pires não surge no banco de suplentes durante os jogos, chegando, inclusive, a não viajar com a equipa. Os clubes denunciantes baseiam-se no facto de o clube açoriano estar a infringir o n.º 1 do artigo 65 do Regulamento Disciplinar: "O clube que, direta ou indiretamente, exerça ou abuse da sua influência, real ou suposta, junto de qualquer agente desportivo, representante, agente ou funcionário da Federação ou da Liga com o fim de obter comportamento ou decisão destinados a modificar ou falsear a veracidade e a autenticidade de documentos, procedimentos e deliberações, assim como o resultado ou desenvolvimento regular dos jogos das competições desportivas será punido com a sanção de descida de divisão e, acessoriamente, com a sanção de multa de montante a fixar entre o mínimo de 250 UC e o máximo de 1.000 UC".
Quando questionado sobre esta situação, o presidente do Santa Clara, Rui Cordeiro, falou em "jogos de bastidores" para afastarem do principal escalão do futebol português a formação açoriana. "Já começaram os jogos de bastidores e já começaram as tentativas das vitórias na secretaria. Ninguém estava à espera que o Santa Clara e os Açores estivessem aonde estão e aquilo que eu acho que vai acontecer nos próximos tempos é uma tentativa de afastar o Santa Clara da luta pela subida de divisão, com jogos de secretaria com tentativas de destabilizar este grupo de trabalho", afirmou Rui Cordeiro, após a vitória do Santa Clara frente ao Sporting B por 4-0.
Outra das denúncias está relacionada com o facto de os açorianos não terem inscrito pelo menos três jogadores sub-23 nos jogos frente a União da Madeira (25.ª jornada), Gil Vicente (26.ª) e Varzim (27.ª), algo obrigatório por regulamento. Neste caso, está em causa o não cumprimento da alínea b) do ponto 1) do artigo 77º-A do regulamento de competições da Liga Portugal 2017/18 onde se lê que “Sem prejuízo do regime aplicável às equipas B, os clubes da LEDMAN LigaPro estão obrigados a incluir na ficha de cada jogo: a) três jogadores formados localmente; b) três jogadores de categoria sénior com idade até 23 anos”.
No caso dos clubes que não cumpram essa "obrigação regulamentar", o regulamento disciplinar prevê uma "sanção de multa" que varia entre os 892.50 euros e os 3.570 euros. Caso a infração seja praticada de "forma dolosa, reincidente ou numa das três últimas jornadas" o castigo pode passar por "sanções de derrota e de subtração de pontos a fixar entre o mínimo de dois e o máximo de cinco pontos".
Também em março, o Santa Clara confirmou que foi notificado pela Liga sobre esta questão. “Nós recebemos uma notificação da Liga e agora havemos de expor a nossa argumentação quando formos (novamente) notificados para apresentarmos a nossa defesa e estamos de consciência tranquila que não serão tirados pontos ao Santa Clara”, disse então Rui Cordeiro à agência Lusa.
"Não houve nenhuma reincidência e também não foi nos últimos três jogos do campeonato, não houve dolo, não houve qualquer intenção de causar dano por parte do Santa Clara”, acrescentou o presidente do clube.
De referir que no passado dia 24 de abril, o União da Madeira deu entrada com um processo junto do Conselho de Disciplina da FPF contra os açorianos, devido à não inscrição dos três jogadores sub-23 exigidos, pretendendo, a equipa madeirense, que lhes sejam creditados os três pontos no encontro. Segundo o Diário de Notícias da Madeira, o caso está a ser analisado.
Esta questão já despertou a atenção de outros clubes, nomeadamente da Académica, atualmente no terceiro lugar, a três pontos dos açorianos, e do União da Madeira, que luta pela permanência na prova. Isto quando falta apenas uma jornada para o fim da competição.
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