Faleceu, aos 78 anos de idade, Franz Beckenbauer, lenda do futebol alemão e mundial.
"É um profunda tristeza que anunciamos que o nosso marido e pai, Franz Beckenbauer, morreu pacificamente durante o sono, neste domingo, rodeado pela família", informa um comunicado da família, divulgado na tarde desta segunda-feira.
Internacional alemão por 103 ocasiões, Beckenbauer foi também selecionador da Alemanha. Brilhou ao serviço do Bayern Munique, clube que viria mesmo a presidir.
Beckenbauer, de alcunha ‘Kaiser’, ou ‘Imperador’, é uma das mais emblemáticas figuras do futebol no século XX e um de três a vencer dois Mundiais, um como jogador e outro como treinador (Mário Zagallo e Didier Deschamps), tendo vencido ainda o título europeu em 1972, sempre com a Alemanha Ocidental.
O antigo defesa e médio, tido como um dos melhores futebolistas de todos os tempos, foi ainda um dos destaques da ascensão do Bayern de Munique a potência mundial, vencendo três vezes a Taça dos Campeões Europeus (atual Liga dos Campeões), tendo ganho a Bola de Ouro em 1972 e 1976.
Dois títulos em Mundiais e um legado que ficará para sempre
Beckenbauer é visto por muitos como jogador que ‘inventou’ a posição em que jogava. Ou, pelo menos, reinventou-a. Foi, para muitos, o primeiro verdadeiro líbero da história do futebol. E, provavelmente, o melhor de todos. Um defesa com características diferentes de todos os outros, com uma qualidade técnica notável, capaz e construir jogo como poucos, levar a bola para a frente no pé e até marcar golos. Terminou a carreira com 111.
Nasceu em Munique, pouco tempo depois do fim da II Guerra Mundial. Desde cedo mostrou paixão pelo futebol e em criança costumava passar horas a chutar uma bola contra um muro da casa onde morava. Começou a jogar no modesto 1906 Munique com 9 anos.
Mudou-se para o vizinho e rival Bayern com 14 anos de idade. Estreou-se pela principal do Bayern em 1964 e foi um dos alicerces da caminhada do clube rumo à hegemonia na então recém-criada Bundesliga. Chegou cedo à seleção principal da República Federal da Alemanha e também aí não tardou a ter papel preponderante, acabando por somar troféus e mais de uma centena de internacionalizações.
Beckenbauer começou por jogar como médio, mas ao pouco foi recuando no terreno, até se tornar num defesa. Mas não num defesa qualquer. Num líbero. Se foi ele ou não quem 'inventou' essa posição, não há certezas. Mas que foi ele que a aperfeiçoou como nenhum outro, disso ninguém duvida. A sua inspiração foi o italiano Giacinto Facchetti, um lateral-esquerdo de origem que, tal como o 'Keiser' (a alcunha que Beckenbauer viria a ganhar com o evoluir da sua carreira), tinha grande qualidade quer na marcação, quer a sair a jogar a partir da defesa.
Ao todo, ao serviço do Bayern, que representou por 14 temporadas, conquistou, entre outro troféus, cinco títulos de campeão, quatro Taças da RFA e três Taças dos Campeões consecutivas (1973/74, 1974/75 e 1975/76). E, pelo meio, brilhou - e muito - pela seleção da Alemanha em três Campeonatos do Mundo.
Ao serviço da então República Federal da Alemanha deu-se na qualificação para o Campeonato do Mundo de 1966, quando tinha 20 anos, ainda a jogar como médio. Foi com naturalidade que o seu nome surgiu nos convocados para a fase final desse Mundial'66. Em, apesar de ter apenas 21 anos, foi titular e uma das figuras da equipa.
No Mundial de 1970 daria origem a uma das imagens mais míticas da história dos Mundiais, ao jogar uma boa parte do encontro das meias-finais, contra a Itália, com uma luxação na clavícula direita. Os germânicos já tinham esgotado as duas substituições permitidas na altura e guardadas para a eternidade ficaram as fotos de Beckenbauer a atuar o resto do encontro com o ombro imobilizado. O esforço, porém, acabaria em vão, com a Itália a vencer por 4-3 e a passar à final num jogo por muitos apelidado como 'jogo do século'.
O título mundial, contudo, chegaria quatro anos depois, no Mundial'74. Beckenbauer viria a alinhar os 90 minutos em todos os sete jogos da RFA nesse Mundial. O 'Kaiser' não marcou, mas era o grande líder da equipa em campo. A final foi contra a Holanda, onde pontificava outra lenda - Johan Cruyff - e que era vista como favorita, face à qualidade do futebol que vinha apresentando. Um favoritismo vincado por um golo dos holandeses logo no minuto inicial. Mas, com Beckenbauer a empurrar os alemães para a frente, estes viraram o marcador e sagraram-se pela segunda vez campeões do mundo.
Beckenbauer não voltaria aos Campeonato do Mundo como jogador, mas regressaria, anos mais tarde, como selecionador da sua RFA. Em 1986 a caminhada foi até à final, perdida para a Argentina de Diego Maradona. Mas quatro anos depois, no Mundial'90, em Itália, já após a reunificação do país, o 'Kaiser' levaria mesmo a Alemanha ao título com uma vitória na final - em jeito de desforra - sobre a Argentina, ainda com Maradona em campo.
Após o Itália’90 treinou pela primeira vez um clube: o Marselha, que guiou ao título de campeão francês. Depois, treinou também o seu Bayern em 1993/94 (conquistou a Bundesliga) e em 1995/96 (conquistou a Taça UEFA).
Assumiu igualmente a presidência do Bayern durante quase 15 anos, num período em que o gigante clube bávaro confirmou a sua hegemonia no futebol alemão. Manteve-se como presidente do Bayern até 2009, tornando-se presidente honorário desde então.
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