Julián Calero teceu duras críticas às autoridades desportivas espanholas por terem permitido a disputa de jogos no fim de semana, enquanto se vivia a tragédia em Valência, provocada pela passagem da depressão DANA. O treinador do Levante falou à Rádio Marca para explicar como está a viver toda a situação e para falar sobre a responsabilidade das instituições na gestão da crise que se instalou.

"O que pedes ao Estado a quem pagas impostos é que esperas que te ajudam. Falei com membros da UME [Unidade Militar de Emergências] e eles disseram-me que lhes pediram para esperar [...] Não procuro culpados, mas eles são uns infelizes e terão de viver com isto nas suas consciências toda a sua vida", comentou o treinador, a respeito da falta de ajuda dos governos central e regional às vítimas em Valência.

Nas mesmas declarações à Rádio Marca, Julián Calero não acredita que haja demissões nem no governo regional da Comunidade Valenciana, nem no Governo central, liderado por Pedro Sanchez, muito criticados pelos espanhóis pela forma como estão a gerir a crise.

"Ninguém se demitiu nem ninguém será demitido. Eu, se perco dois jogos, mandam-me embora. Os responsáveis não vão demitir-se, só querem ganhar com a situação. Por isso é que o povo se revoltou e eles [Pedro Sanchez e os reis de Espanha] receberam o castigo do povo, apesar de não estar de acordo [com o atirar pedras e lama]", comentou Calero, sobre a forma como os reis de Espanha e Primeiro-ministro espanhol Pedro Sanchez foram recebidos em Valência, com pedras e lama atirados na sua direção, no meio de muita contestação.

As críticas do treinador do Levante vão também para Javier Tebas, presidente da liga espanhola de futebol, por ter obrigado os clubes da região a disputar as suas partidas, excepto o Valência-Real Madrid, que foi adiado.

"Estou envergonhado por não termos sido capazes de adiar os jogos. Era uma emergência nacional e tínhamos de dar o exemplo. Não é aceitável que estejamos a jogar futebol enquanto outros procuram cadáveres", completou.

O leste de Espanha, em especial a região de Valência, foi atingido na terça-feira por um temporal que causou, provavelmente, as maiores inundações da Europa neste século, disse Sánchez no mesmo dia, reconhecendo haver uma “situação trágica”.

Há até agora 217 mortos confirmados e dezenas de famílias continuam a procurar pessoas desaparecidas, segundo as autoridades.

Além das vítimas mortais, o temporal causou danos em infraestruturas de abastecimento, comunicações e transportes.