O julgamento das agressões ocorridas na Assembleia Geral (AG) do FC Porto, em 2023, conheceu esta quinta-feira um dos seus momentos mais tensos com o depoimento de Lourenço Pinto, antigo presidente da Mesa da Assembleia Geral dos dragões. O ex-dirigente, que conduziu os trabalhos da polémica reunião, protagonizou vários confrontos verbais com a juíza Ana Dias, num depoimento marcado por acusações de “má educação” e pela defesa cerrada do seu histórico no clube.

Logo a abrir, Lourenço Pinto reconheceu conhecer “alguns dos arguidos” e justificou a ausência da comunicação social na AG: “A Assembleia é privada. Há mais de 20 anos que os jornalistas não entram. Não recebi qualquer pedido nesse sentido.” A juíza questionou esta decisão, mas o ex-presidente da MAG reforçou que agiu em conformidade com os regulamentos internos do clube.

“Não era uma missa, mas tudo estava normal”

Sobre o desenrolar da AG, o antigo dirigente garantiu que a sessão começou sem incidentes. “Falou Pinto da Costa, houve debate normal. Depois falou Miguel Braz, indicado por uma lista contrária, foi apupado, mandei calar várias vezes. A confusão começou depois, na bancada norte. Cerca de 100 pessoas saíram para o ringue e, após a intervenção de Henrique Ramos, houve uma altercação que resultou num pontapé e num soco. Foi aí que suspendi a AG.”

Lourenço Pinto assegurou que esta foi “a primeira vez” que testemunhou agressões físicas numa reunião magna do clube, embora tenha admitido que “piropo e assobio é normal”.

Confronto com a juíza: “Admiro-me que seja feita essa pergunta a mim”

A tensão subiu no tribunal quando a juíza Ana Dias questionou por que razão não foi a AG suspensa antes, tendo em conta que o ponto central — a votação dos estatutos — não iria sequer avançar. “Francamente, fazerem essa pergunta a mim… Admiro-me que seja feita a mim. AG faço-as ainda a sr.ª juíza não era nascida. Foi uma questão de estratégia. Não havia condições para votação, mas os sócios tinham o direito de se reunir”, atirou Lourenço Pinto.

A resposta mereceu uma advertência da juíza: “O senhor está a raiar a má educação com o tribunal. Está a raiar já a desobediência. Está no limite”, avisou Ana Dias.

Sem PSP, com credenciados a mais

O ex-presidente da MAG negou que lhe tenha sido comunicado qualquer alerta de segurança por parte da PSP e garantiu que apenas teve conhecimento da possibilidade de usar o Dragão Arena “às 21h30”. “Não me compete marcar o local da AG. Isso é com o presidente do clube”, disse.

Sobre os problemas de credenciação que terão facilitado a entrada de indivíduos não autorizados no recinto, Lourenço Pinto afirmou que recebeu “informações do clube” com a lista de sócios e elementos de segurança, mas que esta não correspondia ao número real de presentes. “Havia uma diferença abissal. Cerca de 200 a 300 pessoas entraram sem estarem credenciadas.”

O antigo dirigente disse ainda que deu mais tempo antes do início da AG, não para permitir a entrada de mais sócios, mas sim “para organizar o Dragão Arena”.

“A AG ou começa com metade dos sócios ou meia hora depois com qualquer número”

Lourenço Pinto garantiu que todos os regulamentos foram cumpridos. “A convocatória é clara. Ou começa com metade dos sócios, ou, meia hora depois, com qualquer número presente. Caso contrário, era bicha, bicha, bicha, e não se fazia nada.”

A sessão no tribunal revelou um ambiente de elevada tensão, que espelha também o momento conturbado que o FC Porto atravessa nos bastidores, após décadas de estabilidade institucional sob a liderança de Jorge Nuno Pinto da Costa.