Esta paragem para seleções ficou marcada pelos diversos jogos de qualificação para as camadas jovens das nossas seleções nacionais. Destaque para os sub-17 que conseguiram o apuramento ao derrotarem o campeão em título, Alemanha por 3-2, num jogo em que ficou vincada a superioridade dos comandados de João Santos.
Nesta qualificação: seis jogos, seis vitórias, zero empates e zero derrotas. 21 golos marcados e apenas quatro golos sofridos. Depois de uma fase de grupos ultrapassada apenas com vitórias, a 'dose' repetiu-se na Ronda de Elite, mesmo num grupo composto pela República da Irlanda, Croácia e a perigosa Alemanha.
Mérito para o trabalho de qualidade realizado nas seleções nacionais, mas principalmente dos clubes que, cada vez mais, entendem a importância e o papel do futebol de formação na potenciação dos jogadores.
Cada vez mais temos verificado que os clubes de topo utilizam os espaços competitivos dos contextos de formação de forma mais inteligente. Existem mais jogadores a serem estimulados nos escalões competitivos superiores, passando para segundo plano o 'resultadismo' em prol de serem criadas as melhores condições desportivas para fazer crescer os maiores talentos do nosso futebol.
Esta geração de 2007 é composta por talento e qualidade que pode ambicionar a conquista do título. Desta vez, a convocatória foi dominada pela formação do Sporting CP, no entanto destaco também as formações do SC Braga (que por diversas vezes tem sido o clube mais representado no escalão) e do Vitória SC que, ano após ano, têm vindo a acrescentar bons valores às seleções nacionais. Cada vez mais os clubes têm vindo a desenvolver jogadores capazes de representar as seleções nacionais. Além dos habituais SL Benfica, Sporting CP e FC Porto.
Rui Silva, defesa central do Benfica
Começando pelo Benfica, destaco Rui Silva. Presença assídua dos sub-19 do Benfica, mostra-se um defesa-central que pode seguir a linha de António Silva, Tomás Araújo e João Fonseca pela maturidade e entendimento do jogo que fazem dele um pilar nesta seleção. Ao seu lado costumamos ter ou o bracarense Afonso Sousa ou Rafael Mota, defesa central esquerdino que parece ser uma das imagens de marca da formação do Sporting após o surgimento de Gonçalo Inácio e os recentes João Muniz, Miguel Alves ou Lucas Taibo.
Rodrigo Mora, médio ofensivo do FC Porto
Vindo do FC Porto, forte destaque e exemplo para Rodrigo Mora, um dos mais talentosos desta seleção. Com 16 anos joga regularmente na equipa B, na competitiva 2.ªLiga Portuguesa e com registo (quatro golos e duas assistências em 21 jogos). Jogador forte no último passe e com enorme capacidade de procurar espaços entrelinhas, inteligente e criativo na forma como toma decisões.
Acrescenta ainda apetência pela baliza adversária fazendo do golo algo regular no seu jogo. O bom trabalho feito com o seu desenvolvimento permite que se esteja a ser desenvolvido num contexto altamente estimulante como é a 2.ª liga, o que lhe permite aproximar-se da exigência imposta na equipa de Sérgio Conceição.
Geovany Quenda, extremo do Sporting
No Sporting CP 'mora' o destaque deste último jogo: Geovany Quenda. Extremo veloz, com grande capacidade de aceleração e de mudança de direção. Agitador e decisivo pela capacidade de remate e pela imprevisibilidade que traz ao jogo, normalmente partindo de um corredor. Quenda, com cinco jogos, um golo e uma assistência na Liga 3, fez a maior parte dos jogos na equipa sub-23 do Sporting (21 jogos, 9 golos, 5 assistências) onde o seu treinador João Pereira, cria as condições de forma a moldar o jogo da sua equipa a uma forma semelhante ao que se vê na equipa de Rúben Amorim (embora partindo de um sistema diferente).
Desempenhando uma função idêntica ao que se vê Geny Catamo fazer na equipa principal, parece encaixar perfeitamente na ideia do clube. Desta forma é relativamente imaginável que a sua estreia na equipa principal seja uma questão de tempo, visto que pode também jogar mais à frente, replicando um pouco do que faz, por exemplo, Marcus Edwards.
Eduardo Felicíssimo, Rafael Mota, João Simões e Gabriel Silva no Sporting CP; Afonso Vieira no Vitória SC; João Trovisco no SC Braga; Cardoso Varela no FC Porto e Diogo Ferreira no SL Benfica são exemplos de jogadores potenciados no campeonato nacional de sub-19, assim como Pedro Andrade do Estoril-Praia que já joga na Liga Revelação pelos canarinhos, sendo estes bons exemplos do excelente trabalho realizado nos clubes portugueses, permitindo que o talento compita a um nível de exigência superior ao que aconteceria se ainda estivessem 'presos' à competição do seu escalão etário.
Se nos recordarmos, no ano de 2023, no Europeu sub-17 destacaram-se, no lote de melhores jogadores do torneio, Lamine Yamal – na altura com um jogo realizado pela equipa principal do Barcelona – e Marc Guiu – que começava a integrar os trabalhos nos treinos da equipa de Xavi Hernández.
Teremos na próxima época, Geovany Quenda, Rodrigo Mora ou Rui Silva a destacarem-se na nossa liga e a chamarem a atenção do futebol mundial? O futebol, os seus clubes e as nossas seleções nacionais só teriam a agradecer.
Para tal é preciso encontrar, tanto na formação como nas equipas seniores, um perfil de treinador capaz de avaliar o talento e que não tenham medo de o catapultar. Paralelamente saber desenvolve-lo não só do ponto de vista coletivo mas perceber que nestas idades há ainda um caminho de desenvolvimento individual a ser realizado.
* Artigo de opinião de Filipe Antunes, treinador de futebol UEFA A com experiência no futebol de formação do Sporting CP, nos escalões sub-17 e sub-19 e passagens no futebol profissional sénior.
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