Benfica e Sporting disputam na Luz, na próxima terça-feira, o primeiro de dois dérbis no espaço de poucos dias: o primeiro para decidir quem irá marcar presença na final do Jamor, e o segundo, já em Alvalade, num confronto direto decisivo para as contas do campeonato.
Após a paragem das seleções, Sporting e Benfica passaram com relativas dificuldades em jogos que talvez se antevissem mais fáceis. O Sporting passou na Amadora, depois de ter estado em desvantagem, num jogo em que foi superior, mas em que a competitividade e organização estrelistas fizeram arrastar a decisão até aos últimos minutos.
Quinta reviravolta sportinguista no campeonato – um claro indicador de confiança na adversidade. O Benfica ultrapassou o Chaves num jogo em que muito se falou do desperdício das grandes penalidades, mas em que talvez a nota de maior destaque seja a dificuldade apresentada pelo campeão nacional em vencer a resistência flaviense, que apenas cedeu aos 68’.
Poder-se-á dizer que Benfica, de certa maneira, parte atrás nos dois jogos, na medida em que qualquer hipótese que não a vitória encarnada significará o apuramento da equipa de Rúben Amorim para a final do Jamor, assim como a manutenção na liderança do campeonato. Neste último, destaque ainda para o jogo em atraso em Famalicão, que poderá fazer aumentar o fosso da liderança leonina.
O jogo do campeonato é o mais importante para ambas as equipas. As duas formações ambicionam vencer troféus e a Taça tem um peso histórico, mas vencer a Taça pode ser apenas um paliativo para o insucesso no campeonato.
Contudo, nenhum dos dois treinadores poderá justificar uma má exibição na terça com a preparação de sábado, até porque é provável que um jogo tenha efeitos diretos no que se lhe segue. A equipa que sair por cima da eliminatória de terça estará, inevitavelmente, por cima do ponto de vista anímico, e isso poderá ter efeitos na forma como as equipas chegarão ao jogo de sábado.
É aí que mais haverá a jogar para o sucesso da temporada de ambas as equipas. Provavelmente, se o Benfica perder estará afastado do título: ficará a quatro pontos do Sporting (que poderão ser sete se o Sporting vencer o jogo em atraso), com 24 em disputa. A confiança e qualidade das exibições leoninas, hipoteticamente reforçadas por uma vitória nesse dérbi, não parece coadunar-se com uma perda de pontos tão significativa.
O Sporting, aliás, parece manter uma dinâmica fortíssima, com muita capacidade de criar desequilíbrios na estrutura adversária de forma coletiva, quase independentemente dos jogadores que joguem. O Benfica, em sentido contrário, parece bem mais dependente das individualidades para conseguir desmontar jogos em que a organização adversária cria dificuldades.
Talvez este problema seja, em parte, causado pelas dificuldades benfiquistas em estabilizar um onze ao longo desta época. Isto torna, aliás, extremamente difícil prever as opções de Roger Schmidt para cada jogo.
Nesta matéria, o assunto ponta-de-lança é paradigmático: quem jogará frente ao Sporting? Artur Cabral fez o último jogo, mas saiu sem golo menos de dez minutos depois de falhar uma grande penalidade. Será isto uma sentença? Também Marcos Leonardo parecia opção regular, com três jogos seguidos, até não ter feito golos no Ibrox Stadium, frente ao Rangers, e em Rio Maior, frente ao Casa Pia. Schmidt fez-lhe xeque-mate e, olhando ao padrão, poderá fazer o mesmo a Artur Cabral.
O ataque móvel, com Rafa na frente, parece improvável numa equipa que, a jogar em casa, terá de contrariar o resultado negativo da primeira mão. Também por essas circunstâncias, talvez Neres possa ter um lugar no onze, juntando-se a Rafa e Di María. Ainda que este seja um onze pouco preparado para defender, um meio-campo com Florentino e Neves pode preparar o Benfica para a perda da bola e consequentes transições leoninas, enquanto lhe atribui maior capacidade de criar desequilíbrios no último terço.
O Sporting deverá ver respondidas algumas questões que dizem também respeito à gestão da condição dos jogadores. O melhor Sporting tem Nuno Santos e Pote, sim, mas estarão os dois jogadores em condições de fazer os dois jogos? Se assim for, parece possível que Matheus Reis se desloque para a ala esquerda, para a inevitável entrada de Gonçalo Inácio, que descansou na primeira parte na Reboleira. O jogo mudou com a sua entrada: não só deu mais soluções com bola à equipa leonina, como acabou o desassossego que Leo Jabá criou a Matheus Reis na primeira parte.
Paulinho talvez possa ser titular no jogo de terça, permitindo a recuperação completa de Pote para o jogo de sábado. Os problemas de Paulinho parecem, em parte, resolvidos com a chegada de um goleador para o ataque leonino, que fixa adversários e liberta espaços para um jogador que, sendo capaz no entrelinhas e a servir colegas, nunca foi um ponta-de-lança convencional.
Será, por certo, muito interessante perceber o que trará esta duplo confronto, absolutamente fulcral para o balanço final da temporada de ambas as equipas.
Comentários