Em Camp Nou, o Barcelona carimbou a passagem aos quartos de final desta edição da Champions League, numa exibição em que, se estivessem adeptos nas bancadas, provavelmente seriam mais os assobios do que os aplausos. A equipa da casa utilizou as cores do Barcelona, mas em muito pouco se assemelhou à equipa que já se passeou pelos relvados catalães ou àquela que Quique Setién aspiraria ter montado. Do outro lado esteve o Nápoles de Gattuso, que deixou alguns bons momentos, nomeadamente na forma como pressionava a construção blaugrana, mas também em ataque posicional. Acabou por não ter a fortuna de seu lado e cedo se viu em desvantagem, não deixando, no entanto, de fazer os possíveis para contrariar o resultado.
O jogo começou com um Nápoles dominador da posse de bola, empurrando o Barcelona para a sua organização defensiva. Uma visão muito pouco comum há uns anos. Neste momento do jogo o Barcelona alinhava num 4x3x1x2, com Griezmann a desempenhar o papel de médio ofensivo e resguardando Messi e Suárez de tarefas defensivas como podemos ver na imagem da ELEVEN.
Foi um pouco contracorrente que o Barcelona chegou ao primeiro golo. No seu 4x3x3 com bola, com Suárez a atuar como ponta-de-lança e Messi e Griezmann a ocuparem espaços interiores, os médios interiores Frenkie de Jong e Sergi Roberto (num meio-campo muito desfalcado, incompreensível a ausência de Arthur) baixavam para junto dos centrais na primeira fase de construção. Foi precisamente num destes momentos em que o Barça conseguiu montar a primeira jogada com sentido aos 9 minutos. Sergi Roberto desce para junto de Piqué e numa série de passes diagonais a bola viaja até ao corredor oposto onde Jordi Alba cruza atrasado para encontrar Messi. Na ressaca do remate surge o canto onde Lenglet cabeceia para o fundo das redes italianas. Uma vantagem quase fortuita que permitiu ao Barcelona assumir uma posição de conforto na eliminatória e que abalou a confiança dos comandos de Gattuso.
No seguimento do golo, o Barcelona ganhou algum ascendente, mas mostrou muitas dificuldades para criar situações de finalização. Apresentavam uma posse conservadora e lenta. A largura dada pelos laterais não permitia fixar os laterais adversários e esticar a linha defensiva, os interiores apareciam demasiadas vezes fora do bloco adversário e não permitiam à equipa progredir. O Nápoles era capaz de se manter compacto e o Barcelona parecia também satisfeito com a situação. À exceção de Lionel Messi. O argentino dilatou a vantagem num lance em que finaliza com imensa qualidade no poste mais distante e está ainda na origem do penalty que deu o 3-0 ao Barcelona. Mas um penalty ao cair do pano da primeira parte a favor do Nápoles, relançou a equipa de Gattuso na partida.
Na segunda parte vimos um Nápoles por cima da partida e um Barcelona que particamente abdicou de ter bola e de procurar chegar à baliza adversária. Precisamente o oposto daquilo que Setién prometia e daquilo que o Barcelona precisa para voltar a ser a equipa dominadora que já foi. Os napolitanos realizaram uma troca de bola rápida, chegando aos corredores laterais em zonas avançadas onde procuravam destabilizar o bloco adversário com rotações entre lateral, extremo e médio interior. Mertens realizou um trabalho importante aproximando-se destas rotações e atacando zonas de finalização ao primeiro poste, enquanto o médio interior e o extremo do lado contrário também realizavam movimentos em profundidade. O Nápoles acabou a segunda parte com 13 remates contra apenas 1 do Barcelona, um dado revelador do futebol praticado por uma e por outra equipa.
De resto acrescentar que jogadores como Fabián Ruiz, Lorenzo Insigne ou Dries Mertens poderiam perfeitamente encaixar no futebol dos culés e serem opções muito válidas para o plantel que é, neste momento, extremamente desequilibrado.
O rolo-compressor bávaro aquece para Lisboa
No outro jogo da noite, em Munique, o Bayern provou que é uma máquina muito bem oleada e pronta a triturar os adversários que lhe aparecerem à frente. E este Chelsea de Frank Lampard foi o adversário ideal para reentrarem em competição após uma paragem prolongada. Com a eliminatória praticamente resolvida na primeira mão, o Bayern entrou em campo com o seu 4x2x3x1, com Thiago e Goretzka no duplo-pivot, aparecendo Kimmich, que esta época vinha sendo maioritariamente utilizado como médio, na posição de lateral-direito.
Face ao 4x4x2 em organização defensiva do Chelsea, que alternava com um 4x3x3 quando Mount se juntava na pressão, o Bayern optou por recuar um dos médios para entre os centrais na primeira fase de construção (normalmente Thiago). Goretzka servia como engodo para atrair a pressão de um dos médios do Chelsea, já que estes tinham imensas referências individuais, em especial Kanté e, por isso, eram facilmente desposicionados. Nas costas da linha média londrina apareciam sempre 3 dos 4 elementos da frente de ataque do Bayern, com o quarto jogador a ficar responsável por realizar movimento de profundidade, empurrando a linha defensiva e aumentando o espaço disponível para jogar. De destacar a enorme mobilidade dos elementos da frente de ataque alemã, com imensas permutas, principalmente entre Muller e Gnabry sobre a meia-direita.
O Bayern teve então uma enorme facilidade em colocar passes verticais que queimassem linhas de pressão e a encontrar de imediato jogadores entre as linhas média e defensiva. O primeiro golo, logo aos 10 minutos, surge precisamente num lance em que Lewandowski, Gnabry e Muller se encontram neste espaço e Thiago consegue, com um passe vertical, encontrar Muller. O alemão combina com Gnabry e Lewandowski começa o movimento
para as costas da defensiva londrina, ficando cara a cara com Caballero e sofrendo penalty. Estava lançado o mote para o que seria o resto do jogo: enorme espaço entre a linha média e a linha defensiva do Chelsea, conjugada com uma primeira fase de pressão desorganizada, permitiam ao Bayern encontrar com facilidade jogadores nestes espaços. A proximidade entre elementos nesta zona permitia, de forma coletiva, evadir da pressão efetuada pelos elementos da linha defensiva. Alternativamente, Kimmich atuando como lateral direito, também oferecia soluções para a construção. Quando se mostrava difícil penetrar pelo corredor central, a equipa bávara solicitava a intervenção de Kimmich que procurava sempre combinar por dentro em zonas mais adiantadas, contornando assim as primeiras linhas de pressão londrinas.
De resto, os próprios comportamentos da linha defensiva do Chelsea mostravam dificuldades, com os jogadores sem saber como reagir aos elementos que o Bayern colocava à sua frente. Se deviam pressionar ou proteger a profundidade. O espaçamento entre os elementos da linha defensiva era também ele deficiente.
Mas não só brilhou do ponto de vista ofensivo a equipa alemã. Também defensivamente o Bayern de Munique demonstrou ser uma das equipas mais preparadas para esta fase final da Champions League, com uma pressão muito intensa sobre o portador da bola, asfixiando-o e esgotando-lhe as soluções, bem como uma linha defensiva muito subida e competente nos duelos. Foi precisamente num roubo de bola após uma pressão intensa que surgiu o segundo golo da noite. Conjugando a qualidade técnica dos elementos envolvidos na construção de jogo, a presença de vários elementos entrelinhas e a sua mobilidade, bem como a forte pressão que a equipa exerce sobre o portador da bola, torna-se muito difícil contrariar o ritmo imposto pela equipa da Baviera.
Na segunda parte, Hansi Flick fez uso das 5 substituições e procurou dar tempo de jogo a outros elementos, simultaneamente marcando a sua superioridade face à equipa de Lampard, e preparando a equipa para enfrentar os quartos de final na máxima força. Coutinho entrou para jogar partindo da esquerda e ainda foi a tempo de encontrar Lewandowski para este assistir Tolisso e pode ser um jogador importante para alterar o curso de um jogo. Já o médio francês parece ser o elemento escolhido para render tanto Thiago (e participar mais na construção) como Goretzka (com mais chegada à área).
Será, sem dúvida, um dos principais candidatos a levantar o troféu no estádio da Luz.
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