O Sporting deslocou-se à Reboleira para uma deslocação que se adivinhava difícil contra um Estrela da Amadora bem orientado.
Como seria expectável, o Estrela apresentou-se no seu 5-4-1 utilizando um bloco médio bastante compacto, de forma a tentar anular o espaço entrelinhas e preparado para sair em transições. Com o bloco muito bem definido no espaço e com uma equipa bastante pressionante e agressiva. Para o Sporting este jogo acompanhava-se de alguns fatores de dificuldade a considerar:
- Jogo fora de casa
- Adversário que se sente confortável em bloco baixo e saídas em transição
- Jogo após paragem para seleções
- Jogo a anteceder um microciclo com dois jogos contra o Benfica.
Curiosamente a gestão de Rúben Amorim permitiu que o onze apresentado respondesse a alguns pontos que foram importantes para desbloquear o adversário.
Ponto 1. Daniel Bragança como a 6ª ameaça à linha de 5 do Estrela: A inteligência e a classe de sempre aliadas a uma capacidade de trabalho que começa a dar frutos.
Surgia aqui, talvez a maior dúvida no 11 do Sporting. Daniel Bragança tem vindo a ganhar um papel importante principalmente contra equipas que jogam em bloco baixo. Morita e Hjulmand têm sido determinantes peças-chave na equipa desde o início da época. Contudo Amorim acabou por optar pela versão da segunda parte do jogo com o Boavista que já tinha dado bons resultados. Contra equipas que defendem com 5 defesas, Ruben Amorim tem apostado em fazer 'saltar' um médio para dentro do bloco adversário, de forma a que, juntamente com Trincão consigam explorar o espaço entrelinhas com Morita sempre próximo para criar superioridade no meio e causar dúvidas defensivas a Leo Cordeiro e Aloísio.
Juntamente com Paulinho e Gyökeres mais Nuno Santos e Geny, o Sporting conseguiu, através de Bragança (um jogador superiormente desenvolvido tecnicamente para jogar em espaço reduzido) ter 6 ameaças à linha de 5 defesas da equipa da Reboleira, criando imensas dúvidas tanto aos médios como aos defesas centrais em como anular este posicionamento do médio do Sporting.
Nota: Sobre Bragança, de realçar a capacidade de reação à perda da bola e a capacidade ganhar duelos que tem mostrado esta época. Fundamental na pressão alta e na recuperação de bola com saídas rápidas no ataque à baliza adversária. É um jogador cada vez mais completo que começa a mostrar argumentos para jogar a um nível cada vez mais alto, quem sabe ambicionar um dia com a presença na seleção nacional.
Ponto 2: Presença de Paulinho como 2o jogador para fixar os 3 defesas-centrais.
A presença de Paulinho mais próximo de Gyökeres permitiu à equipa de Rúben Amorim ter quase sempre dois jogadores à profundidade no corredor central de forma a fixar os 3 centrais do Estrela. Esta jogada tática a juntar à presença de Trincão e Bragança entrelinhas criou sempre imensas dúvidas aos centrais do Estrela principalmente pelo lado esquerdo onde Fonseca teve um dilema difícil de resolver: sair na pressão a Trincão no espaço entrelinhas ou proteger a zona onde Gyökeres tanto gosta de procurar em diagonais curtas ou mais longas em função da zona do campo.
Ponto 3: Laterais/Ala constantemente em largura.
Tal como é hábito no Sporting era-Amorim este fator tornou-se mais uma vez decisivo. Largura máxima no ataque, podendo aumentar o espaço entre os defensores estrelistas associado à dupla presença no espaço entrelinhas de Trincão e Bragança (por vezes Paulinho como um 3o homem) e Gyökeres e Paulinho a fixar os 3 defesas centrais estrelistas.
Sabendo que os extremos do Estrela seriam atraídos pela progressão com bola dos defesas-centrais do Sporting, juntando à forma como Gyökeres, Paulinho, Bragança e Trincão fixaram e criaram dúvida nos centrais, sobrariam os dois alas: Ruben Lima e Nanu (Hevertton na 2ªParte) para lidar com Nuno Santos (um dos mais ativos no ataque) e Geny sempre bem acompanhados por movimentos de Trincão e Bragança em diagonais de dentro para fora criando superioridade no corredor (exemplo 1ºgolo do Sporting).
Exploração do espaço nas costas dos médios através de Daniel Bragança e exploração de largura máxima de Nuno Santos
Trincão aparece no espaço de dúvida para o central Fonseca e Gyökeres aparece no espaço em rutura para alvejar na baliza
Importância de Nuno Santos no jogo
O 1ºGolo do Sporting
O 2ºGolo do Sporting
Um outro aspeto também importante: A escolha dos defesas centrais.
Sabendo da forma como o Estrela poderia criar perigo (essencialmente através de transições pela velocidade e capacidade física dos jogadores da frente), Ruben Amorim escolheu defesas centrais rápidos que acabaram por 'dar conta do recado' apesar de alguns “sustos” na primeira parte que deram origem aos 3 lances mais perigosos da equipa da casa.
Contudo, como não há equipas perfeitas nem 'onzes' perfeitos, a ausência de jogadores como Inácio, Coates ou Hjulmand no onze inicial acabou por fazer dos lances aéreos / bola parada defensiva, um ponto fraco da equipa neste encontro, acabando por sofrer o golo desta forma e obrigando Franco Israel a redimir-se com uma grande defesa com o resultado em 1-1 após cabeceamento de Gaspar.
Golo do Estrela da Amadora na sequência de pontapé de canto
Defesa decisiva de Franco Israel após canto defensivo
Quanto ao Estrela da Amadora, é daqueles clubes que fazem falta ao nosso futebol: Identificação com a cidade e com as pessoas. Estádio bem composto em muitos jogos do campeonato, estrutura diretiva incansável a dar as melhores condições à equipa técnica e jogadores.
Pode e deve ainda crescer nas infraestruturas, no futebol de formação e no aproveitamento dos jogadores de potencial que possam surgir, inclusive na sua equipa sub-23. Há um percurso ainda a fazer devido à história recente do clube, mas é bom ver este regresso ao primeiro escalão do futebol português.
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