Muita gente queria estar agora a desfrutar de um Mundial de futebol. Junho é por excelência o mês associado à maior prova do futebol de seleções, mas o facto de o Catar ter sido o país escolhido para acolher a 22ª edição do Campeonato do Mundo leva a que a competição se comece a jogar dentro de cinco meses.

21 de novembro vai ficar marcado por esse Senegal-Países Baixos às 10 horas da manhã portugueses, com meio mundo a trabalhar por essa hora e outro ainda a dormir. Vai ser o pontapé de saída para um mês frenético e recheado de grandes jogos, naquele que vai ser o primeiro Mundial disputado num país árabe. A 153 dias do começo, trazemos uma análise ao momento das 32 seleções participantes, começando pelo último grupo, o H, precisamente o que integra a seleção portuguesa.

GRUPO H

Portugal: A equipa de Fernando Santos é olhada a nível internacional como uma das candidatas ao título no Catar e apesar de algumas das últimas prestações terem apresentado sinais de melhoria a nível exibicional, é precisamente nas últimas partidas fora de casa, ante adversários exigentes, que ficaram as maiores dúvidas.

Seleção A de Portugal
Seleção A de Portugal Seleção A de Portugal

Em Sevilha, frente à Espanha e em Genebra, ante a Suíça, na Liga das Nações, ficou a ideia de que Portugal tem problemas na reação à desvantagem e que a ideia de renovar a equipa nesses jogos acabou por condicionar também um pouco a performance da turma das Quinas, sobretudo no momento ofensivo.

No jogo de qualificação com a Turquia e nas receções a Suíça e Chéquia, vimos uma equipa mais capaz de assumir o jogo (ainda que não mantendo sempre o ritmo avassalador), a gizar dinâmicas interessantes na construção a meio-campo, a atrair o adversário para uma «zona de desconforto» e atacar com perspicácia os espaços existentes na linha defensiva contrária. As sociedades que se podem gerar entre jogadores (João Cancelo-Bernardo; Rúben Neves-William; Cristiano-Diogo Jota) ajudam a que o desempenho ofensivo seja claramente mais acentuado.

Falta integrar melhor o craque da última edição da Série A (Rafael Leão) no modelo da Seleção e no setor mais recuado, não ajuda a aparente falta de confiança de Fernando Santos em centrais de futuro como Gonçalo Inácio ou David Carmo para criar renovação naquele setor.

Gana: A primeira adversária de Portugal no Mundial efetuou quatro partidas nesta «janela de seleções» de junho. E se o triunfo frente a Madagáscar acabou por ser convincente (sobretudo pela segunda parte), o empate ante a República Centro Africana (ambos os encontros de apuramento para a CAN) deixou dúvidas no ar a propósito do equilíbrio e harmonia da formação ganesa.

No torneio amigável Kirin Cup, disputado no Japão, a derrota considerável ante os anfitriões (4-1) mostrou também erros claros em termos defensivos que têm de ser combatidos até novembro. Do lado positivo, a introdução de jovens como Mohammed Kudus (Ajax), Osman Bukari (Nantes), Afena-Gyan (Roma) ou o sportinguista Abdul Fatawu ajuda à renovação de uma equipa que em termos ofensivos não poderá viver para sempre do rendimento dos irmãos Ayew…

Uruguai: Depois das quatro vitórias seguidas a fechar a fase de qualificação para o Campeonato do Mundo, seguiram-se agora em junho três duelos de preparação sem conhecer o sabor da derrota. Os jogos ante o México e o Panamá mostraram uma equipa mais explosiva e dinâmica em termos atacantes do que nos tempos de Oscar Tabárez.

Uruguai festeja golo
Uruguai festeja golo Uruguai festeja golo

Edinson Cavani aproveitou para se reencontrar com o golo (marcou metade dos oito golos faturados entre esses dois desafios) e Diego Alonso aproveitou para testar configurações diferentes a meio-campo (com opções muito válidas como Valverde, Ugarte, Arambarri, Lucas Torreira ou Vecino). Para o ataque, na zona central, Darwin Núñez quer assumir protagonismo - atenção também a Maxi Gómez - e nas alas, Pellistri vai mostrando detalhes. Os cinco jogos seguidos sem sofrer golos, entre duelos oficiais e particulares, espelham uma seleção que continua a fazer-se valer de uma organização defensiva férrea.

Coreia do Sul: Uma goleada sofrida frente ao Brasil (1-5), vitórias ante Chile e Egipto e um empate a dois golos frente ao Paraguai. Foi este o saldo dos quatro jogos de preparação de junho da equipa orientada pelo português Paulo Bento. O talento, irreverência e eficácia de Heung-Min Son continuam a ser diferenciais numa equipa que tem também nos Hwangs (Hee-Chan, Ui-Jo e In-Beom) jogadores fundamentais no momento ofensivo.

Em termos defensivos, ainda subsistem dúvidas (sobretudo nas laterais) e o rendimento nem sempre é o mais acentuado. A capacidade demonstrada para dominar adversários (a espaços) como o Chile, Egipto ou Paraguai, abre boas perspetivas para os encontros frente ao Gana e ao Uruguai (ainda que os «charrúa» tenham por estes dias um nível claramente superior aos dos adversários sul-americanos dos últimos jogos de preparação).

GRUPO A

Países Baixos: Os neerlandeses terminam a época numa excelente fase a nível de resultados. Ao todo, são 13 jogos, entre duelos oficiais e particulares, sem conhecer o sabor da derrota – a última ocorreu há praticamente um ano, nos oitavos de final do Europeu, frente à Chéquia.

A vitória pujante a abrir a Liga das Nações frente à rival regional Bélgica (4-1) mostrou uma equipa com argumentos defensivos (pressão exímia a meio-campo, com destaque para Frenkie de Jong, Klaassen e Berghuis) e um alto aproveitamento ofensivo (Depay e Bergwijn combinaram às mil maravilhas no duo dinâmico do ataque).

Países Baixos
Países Baixos Países Baixos festeja golo diante da Bélgica, na Liga das Nações créditos: AFP or licensors

Nas partidas frente a Gales, as muitas mudanças permitiram a Louis van Gaal saber que pode contar com elementos da nova geração como Noa Lang, Gakpo, Koopmeiners, Schouten ou Malacia. E o jogo frente à Polónia, em que apesar do domínio territorial, os Países Baixos se viram a perder por 2-0, mostrou que esta equipa sabe reagir à adversidade (chegou ao empate no espaço de três minutos). Não falta talento individual e versatilidade tática ao conjunto neerlandês, mas os ajustes da linha defensiva podem ser melhorados…

Senegal: A equipa senegalesa não encanta, mas desempenha bem o papel de equipa mais equilibrada do futebol africano, na atualidade. Depois de abrir o ano provocando um duplo dissabor ao Egipto (na final da CAN e no «play-off» decisivo de apuramento para o Mundial), a turma de Aliou Cissé começou com duas vitórias o caminho para a próxima edição da Taça das Nações Africanas. Frente a Benin e a Ruanda, brilhou o suspeito do costume, Sadio Mané.

O craque do Senegal marcou a totalidade dos quatro golos faturados nessas partidas, em mais uma prova de uma excessiva dependência do camisola 10, já visível noutras ocasiões. Esse continua a ser um dos problemas desta formação e que urge resolver até novembro.

No Catar, a ordem defensiva e o fator Mané até poderão ser suficientes para passar o grupo, mas o nível competitivo da prova maior de seleções leva a que jogadores como Ismaila Sarr, Pape Sarr ou Boulaye Dia tenham de subir o nível, para não deixar a estrela da companhia tão desamparada.

Catar: Os anfitriões prosseguem a preparação para um torneio que à luz do que têm sido as prestações recentes em torneios continentais dá margem para alguma esperança num rendimento decente. O Catar está longe de ser um candidato a chegar longe no Mundial, mas os bons resultados ante equipas de nível médio do futebol europeu (empate com Eslovénia e vitória frente à Bulgária) e o terceiro lugar na Taça Árabe (que serviu de prova preparatória para o Campeonato do Mundo) animam as hostes da casa.

Almoez Ali e Akram Afif continuaram a brilhar no campeonato local e nomes como Bassam Hisham ou Tarek Salman prometem surpreender no torneio que se inicia daqui a cinco meses.

Catar festeja golo
Catar festeja golo Catar festeja golo

Equador: A seleção equatoriana perdeu apenas um dos últimos 12 jogos (entre particulares e encontros de caráter oficial) e mostrou um equilíbrio defensivo acima da média nas partidas amigáveis do mês de junho. Há nomes fortes no centro da defesa (Hincapié, Arboleda, Felix Torres ou Porozo), laterais enérgicos (Preciado, Arreaga ou Estupiñán) e um meio-campo equilibrado e consistente (com e sem bola), sob a batuta de Moisés Caicedo (Brighton).

Em termos ofensivos, talvez seja a geração «mundialista» dos equatorianos com menos destaques individuais, mas a velocidade de Gonzalo Plata e a aproximação ao golo de Jordy Caicedo, Leonardo Campana ou Enner Valencia têm de ser mais bem exploradas. Vão estar na luta pelo apuramento para os oitavos de final daqui a centena e meia de dias, disso não temos dúvidas.

GRUPO B

Inglaterra: Nenhuma vitória em quatro encontros a abrir a participação na nova edição da Liga das Nações deixou a imprensa inglesa e os exigentes adeptos da seleção dos Três Leões em estado de alerta. Desde logo, a dupla derrota frente à equipa menos forte do grupo em teoria (Hungria) mostrou sintomas de alguma desordem e até apatia face à recém-criada competição da UEFA.

No Molineux, os magiares destruíram a confiança inglesa com uma vitória a fazer lembrar 1953 (4-0 foi o escandaloso resultado final). As trocas implementadas por Gareth Southgate de jogo para jogo não ajudaram a gerar rotinas, se bem que nos empates com Itália e sobretudo com a Alemanha, em Munique, se tenham retirado algumas ilações positivas, desde logo na procura pela baliza contrária.

O problema não pareceu em todos estes jogos estar na falta de qualidade das segundas linhas, mas antes no facto destes elementos ainda se sentirem corpos estranhos no seio da seleção. Os jogos de setembro irão servir desde logo para testar uma equipa mais a sério a pensar na participação no Catar e com a intenção de evitar igualmente a queda na Liga B.

Há tempo e boas sensações que vêm do apuramento para o Mundial e do vice-campeonato no último Europeu, mas o (escasso) tempo pode ser inimigo do selecionador inglês.

Estados Unidos: Junho foi também período de testes para Gregg Berhalter, que viu a equipa norte-americana competir bem em dois particulares exigentes (vitória por 3-0 sobre Marrocos e empate a zero com o Uruguai) e somar quatro pontos nas primeiras partidas da CONCACAF Nations League (aqui com destaque negativo para a igualdade a um golo em El Salvador).

Os festejos dos jogadores dos EUA
Os festejos dos jogadores dos EUA Os festejos dos jogadores dos EUA créditos: 2022 Getty Images

Estes jogos serviram também para que víssemos em ação aqueles que serão os companheiros da estrela Pulisic na frente ofensiva norte-americana para o Campeonato do Mundo: Brenden Aaronson, reforço do Leeds United, está pronto para ser um dos elementos dinâmicos na construção atacante e na finalização, assim como Timothy Weah e Jesús Ferreira.

No meio-campo, Tyler Adams, Yunus Musah e Weston McKennie são os candidatos maiores à titularidade no Catar. No setor mais recuado, Berhalter aproveitou estes quatro jogos para fazer vários ensaios e ainda não há uma linha definida para o jogo de estreia frente ao País de Gales.

País de Gales: Os galeses aproveitaram a sequência de junho para se tornarem na última seleção europeia a carimbar o passaporte para o Catar, depois de uma vitória sofrida face à Ucrânia. Esse jogo foi o foco claro dos comandados de Rob Page, que aproveitou as quatro partidas da Nations League para testar novas soluções.

Ainda assim, a seleção britânica perdeu três jogos já nos minutos finais e somou um empate valioso com a Bélgica, numa prova da tremenda competitividade desta geração que conjuga jogadores com experiência nalguns dos principais clubes e campeonatos europeus e outros que ainda estão nos escalões secundários do futebol inglês.

Gareth Bale e Daniel James continuam a ser os destaques a nível ofensivo, mas há que tomar atenção ao despontar de Brennan Johnson, atacante do Nottingham Forest, que depois de uma época brilhante no Championship, marcou na igualdade com os belgas e na derrota em Roterdão frente aos Países Baixos.

Irão: A derrota num particular com a Argélia fez soar os alarmes de uma má relação entre o selecionador Dragan Skočić e os jogadores iranianos. O nome de Carlos Queiroz paira no ar e veremos se este episódio não terá repercussões nos próximos meses, depois de um apuramento relativamente tranquilo para o Mundial.

O potencial ofensivo desta geração entusiasma (Taremi, Azmoun, Jahanbakhsh, Gholizadeh ou Sayyadmanesh), mas as derrotas recentes com a Coreia do Sul e face aos argelinos levantaram ondas sobre os argumentos competitivos da turma iraniana quando se vê obrigada a defender de forma mais constante num jogo (algo que irá certamente suceder no Campeonato do Mundo). A renovação de nomes do setor defensivo tem de ser mais acelerada para que o Irão volte a ter a harmonia tática demonstrada noutras competições.

GRUPO C

Argentina: A vitória na «Finalíssima» com a Itália veio completar uma sequência notável no espaço de um ano (não esquecer a conquista da Copa América em julho do ano passado, em pleno Maracanã, frente ao Brasil). Lionel Messi parece mais feliz do que nunca na «Selección» e Lionel Scaloni soube conjugar o talento do veterano mago com nomes como Lautaro Martínez, Rodrigo de Paul ou Giovani Lo Celso (para não falar de outro jogador experiente e ainda hiper-influente como Ángel Dí Maria).

A campeã sul-americana é candidata a vencer o Campeonato do Mundo e faz questão de o demonstrar a cada jogo que passa, pela forma como pressiona cada vez mais coordenada no meio-campo adversário, pela maneira como permite cada vez menos transições perigosas aos rivais e também pelo jogo criativo, incisivo e acelerado que consegue impor, tanto em ataque organizado como em saídas mais rápidas e verticais.

Argentina
Argentina O Onze da Argentina na Finalíssima 2022 diante da Itália créditos: EPA/ANDY RAIN

Há uma ideia clara que norteia o pensamento de Scaloni, que tem sabido rentabilizar os jogadores da melhor maneira possível nos tempos mais recentes. Depois de um fecho de fase de qualificação em grande estilo, os indicadores de junho foram novamente positivos (e até deu para Messi apontar cinco golos num só jogo, face à frágil Estónia).

Em setembro, vem o teste em atraso (ainda da qualificação para o Mundial) perante o Brasil e depois abram alas para uma «Albiceleste» que promete bastante!

Polónia: O grupo da Liga das Nações não convidava a uma expectativa muito elevada quanto a resultados de uma Polónia que carimbou o apuramento para o Mundial em março, num «play-off» com a Suécia. À boa vitória na receção a uma equipa de Gales em poupança para o duelo decisivo de apuramento para o Catar, seguiram-se três jogos sem vencer, com o único destaque positivo a ser a igualdade a duas bolas em solo neerlandês.

Michiniewicz fez, como todos os selecionadores europeus, vários testes nesta série de quatro jogos em 13 dias e nem sempre a resposta da equipa foi a melhor. Na Bélgica, Lewandowski até levou a formação polaca para um território de vantagem, mas a acumulação de erros defensivos ante a avalanche dos Diabos Vermelhos fez com que o encontro terminasse nuns escandalosos 6-1.

Foi importante verificar que elementos mais jovens como Zalewski, Zurkowski, Kiwior ou Szymanski começam a ser integrados na equipa, como forma de ensaiar novas e muito válidas soluções para a participação no Mundial.

México: Gerardo Martino continua a ter o trabalho desafiante de preparar uma equipa competitiva para que a «Tri» possa corresponder no Catar. Esta última janela teve cinco jogos (três de preparação e dois para a CONCACAF Nations League) em que vimos testes táticos e individuais, mas também erros de sobra no setor mais recuado.

Craques como Raúl Jiménez ou Jesús Corona foram utilizados em duelos de preparação, mas viram o espaço nos jogos oficiais com as modestas seleções do Suriname (triunfo por 3-0) e Jamaica (empate a um golo) ser ocupado por jogadores que atuam preferencialmente na Liga MX.

O jovem avançado Santiago Giménez (Cruz Azul) aproveitou o palco para se mostrar, assim como os médios Luis Romo (Monterrey) e Fernando Beltrán (Chivas Guadalajara). Os exames prosseguem em setembro (frente ao Paraguai), já a pensar na estreia com a Polónia a 22 de novembro.

Arábia Saudita: Dois jogos particulares em junho e duas derrotas face a sul-americanos (Colômbia e Venezuela). Hervé Renard sabe o que quer da equipa taticamente (4-2-3-1/4-3-3) e utilizou estes testes para fomentar a competitividade de uma seleção que parte como a teórica formação mais frágil deste grupo.

Com uma base forte de jogadores do campeonato local (sem experiência competitiva em patamares elevados), estes jogos são importantes para dar argumentos técnico-táticos e testar novas soluções. O jovem avançado Firas Al Buraikan aproveitou para ganhar protagonismo (candidato à titularidade no Catar), assim como o central Abdulelah Al Amri e o médio Nasser Al Dawsari.

A aposta nos mais talentosos terá sempre de ser aplicada numa equipa na qual não abunda a criatividade, mas se veem argumentos (técnicos) para fazer mais e melhor.

Arábia Saudita
Arábia Saudita Arábia Saudita (6.ª presença - 12.º lugar, oitavos de final, em 1994). créditos: AFP or licensors

GRUPO D

França: A pausa de junho não foi nada proveitosa em termos de resultados para os gauleses. Dois empates e duas derrotas a abrir a participação na Liga das Nações adensaram as dúvidas sobre o nível futebolístico da turma de Didier Deschamps, atual campeã do mundo em título e que possui uma das gerações mais soberbas que nos recordamos de ver no futebol francês (e isso não é coisa pouca).

O selecionador gaulês aproveitou para testar (mantém-se a dúvida sobre se a França se irá apresentar no Catar com uma linha de 3 ou de 4 na defesa), foi rodando jogadores para dar oportunidade a protagonistas da época europeia (como Nkunku, Kamara ou Guendouzi) e em momentos nos quais necessita de maior inspiração ofensiva, ficou a perceber que ter Benzema e Mbappé ajuda muito.

Não houve constância nem aproveitamento no jogo ofensivo dos franceses e esse é um dos dados que mais pode preocupar Deschamps a cinco meses do arranque do Campeonato do Mundo. Ah, e outra coisa: ter perdido com uma das adversárias no grupo do Mundial (a Dinamarca) também não há de deixar as hostes dos «Bleus» muito relaxadas…

Dinamarca: Depois da presença nas meias-finais do Europeu e de uma qualificação irrepreensível para o Campeonato do Mundo, o arranque de campanha na Liga das Nações também deve ter deixado os adeptos dinamarqueses entusiasmados.

A épica reviravolta no Stade de France (com bis do suplente Cornelius) mostrou que esta é uma equipa que reage bem às adversidades e se consegue manter competitiva nas partidas, mesmo perante o assédio rival (ficou também bem à vista no triunfo em Viena, ante a Áustria).

A base da equipa não parece muito alterada face aos últimos 12 meses, mas começam a aparecer novas e interessantes alternativas já a pensar no Catar (Rasmus Kristensen, Victor Nelsson, Andreas Skov Olsen ou Jonas Wind).

Os jogos de setembro (que incluem novo teste com a França, antes do reencontro na fase de grupos em solo árabe) podem dar o impulso definitivo para uma grande campanha no Mundial (além de possibilitarem o prémio adicional de apurar a Dinamarca pela primeira vez para a «final-four» da Liga das Nações).

Tunísia: Desde a derrota nos quartos de final da CAN, a 29 de janeiro, com o Burkina Faso (1-0), a seleção tunisina não voltou a perder, tendo «despachado» o Mali no apuramento para o Catar, conseguido somar quatro pontos nos primeiros dois jogos de apuramento para nova edição da Taça das Nações Africanas e tendo vencido com eficácia e até um toque de classe a Kirin Cup em solo japonês (com vitórias face ao Chile e aos anfitriões do torneio).

Esta sequência de seis jogos sem derrotas, traz também o bónus adicional de não ter consentido qualquer golo, numa prova de maturidade tática e equilíbrio defensivo. Talbi parece um indiscutível no centro da defesa (resta saber se será acompanhado no Catar por Bilel Ifa ou Ghandri), os laterais Drager e Abdi mostraram muita qualidade nos últimos encontros e a linha intermediária com nomes como Sassi, Bem Romdhane, Laidouni ou Ben Slimane alia critério com bola e disciplina na pressão e recuperação. É uma equipa cirúrgica, que pode provocar dificuldades aos «tubarões» europeus que vai ter pela frente dentro de cinco meses.

Tunísia
Tunísia Tunísia (6.ª presença - 9.º lugar, primeira fase, em 1978) créditos: AFP

Austrália: O apuramento para o Mundial, via duplo «play-off», jogado num dos palcos da prova, dava um «thriller»: frente aos Emirados Árabes Unidos, vitória sofrida, garantida com um golo feliz de Ajdin Hrustic, a seis minutos dos 90’.

Na finalíssima ante o Peru, jogo de grande tensão para os dois antagonistas (com os sul-americanos a serem, ainda assim, mais perigosos), com o selecionador australiano a mostrar «golpe de asa» (ou de génio, como lhe quiserem chamar) e a trocar de guarda-redes ao minuto 120, para conquistar o apuramento nos penáltis. Andrew Redmayne, o «guardião dançarino» de 33 anos, sem experiência fora do futebol australiano, virou vedeta global e apurou uma das gerações menos talentosas dos «Socceroos» nos últimos largos anos para a fase final do Campeonato do Mundo.

Esperamos ver mais de Hrustic e Mooy (as «almas criativas» desta Austrália), porque se não é por eles, falta magia e sobra resiliência a um plantel cujo objetivo será sobreviver ante França e Dinamarca e lutar por pontos face a uma Tunísia igualmente resiliente.

GRUPO E

Alemanha: Que não restem dúvidas que a «Mannschaft» é uma das candidatas à conquista deste Mundial. E não é só pela goleada recente face a uma Itália em remodelação: as linhas orientadoras do modelo de jogo de Hansi Flick estão bem definidas e mesmo nos empates registados nas partidas da Nations League, deu para perceber que o potencial ofensivo para construir de forma mais elaborada, atraindo a pressão ou para desenvolver saídas mais vertiginosas é conjugado na dose certa pelo antigo treinador do Bayern.

Joshua Kimmich continua a ser «sagrado» neste modelo, Thomas Müller não deixa de mostrar protagonismo acentuado e há um Timo Werner a recuperar boas sensações de um passado não muito distante. E claro, os nomes novos já derrubaram a porta da seleção e prometem assumir papel protagonista no Catar – David Raum, Nico Schlotterbeck ou Jamal Musiala. E ainda há Gündoğan, Sané, Hofmann, Havertz, Goretzka ou Gnabry. Mais uma equipa de luxo, pronta para atacar o ouro.

Espanha: O processo de renovação implementado por Luis Enrique já levou esta geração espanhola a uma meia-final de Europeu (e à final da Liga das Nações). O objetivo passa agora por subir ainda mais um escalão e conquistar o mundo, dentro de cinco meses, no Catar.

O desafio é exigente: a Espanha continua a mostrar-se como uma das seleções mais fiáveis da atualidade num jogo de posse, com construções gizadas em apoio a partir da defesa, mas é precisamente no setor mais recuado em que sofre mais, sobretudo perante adversários perspicazes a explorar o contra-ataque e o ataque rápido.

Os resultados recentes têm sido francamente positivos, mas o que impede o «próximo passo» são mesmo esses erros atrás. De resto, talento não falta: entre Gavi, Pedri, Rodri, Sarabia, Dani Olmo ou Asensio, para não falar de Morata, Ferrán Torres ou até Ansu Fati, esta equipa consegue dominar pela ideia qualquer adversário. Suficiente para assumir uma candidatura ao título? Sim. Mas sem esquecer o trabalho que há a fazer na zona defensiva…

Japão: A equipa de Moriyasu teve duas vitórias pelos mesmos números (4-1), frente às seleções do Paraguai e do Gana, mas foi derrotada pelo Brasil (0-1) e Tunísia (0-3). Os nipónicos têm uma equipa de vocação ofensiva e gostam de ter o protagonismo com bola nas partidas. Quem tira a bola aos japoneses, tem logo uma vantagem competitiva, porque as dificuldades maiores que o Japão vive ocorrem no momento defensivo.

O Brasil supôs um teste de grande exigência (desde logo, porque a Canarinha teve grande caudal ofensivo) e o duelo com a Tunísia mostrou problemas para o Japão perante uma excelente organização defensiva (com um nível de saída para o contra-ataque interessantíssimo). Ritsu Doan, Daichi Kamada, Take Kubo ou Kaoru Mitoma aproveitaram para se destacar no plano ofensivo e mostrar que o nível de talento desta geração japonesa pode dar esperanças para uma participação honrosa no Catar e nas competições que se vão seguir no futuro.

Os Samurais já estão no Qatar
Os Samurais já estão no Qatar A festa dos jogadores do Japão, após a qualificação para a fase final do Mundial de futebol de 2022, no Qatar créditos: @SAEED KHAN / AFP

Costa Rica: Os costa-riquenhos conquistaram no passado dia 14 a qualificação definitiva para o Campeonato do Mundo, num jogo muito sofrido ante a Nova Zelândia. Mesmo contra 10 durante boa parte do segundo tempo, a equipa da CONCACAF nunca conseguiu ter o controlo das operações e valeu a segurança de Keylor Navas e dos centrais para contrariar o atrevimento neozelandês.

Esta seleção da Costa Rica não prima pelo brilhantismo, antes pelo pragmatismo. Gosta de sair para o contra-ataque, depois de passar vários períodos do jogo com o bloco mais recuado.

Além de Keylor, outros jogadores com andamento como Celso Borges, Oscar Duarte, Joel Campbell ou Bryan Ruiz continuam a fazer parte das convocatórias e deverão fazer parte das escolhas para o Catar. Ainda assim, não pensem que a renovação não se iniciou já – nomes como Anthony Contreras, Brandon Aguilera, Gerson Torres ou Jewison Bennette começam a ter protagonismo, inclusivamente no onze titular.

GRUPO F

Bélgica: A goleada caseira sofrida no dérbi ante os Países Baixos fez soar os alarmes para Roberto Martínez, numa equipa necessitada de algumas novas incorporações no setor defensivo. Os sete pontos somados nas partidas seguintes trouxeram alguma tranquilidade, mas está à vista que os «Diabos Vermelhos» têm de ganhar estabilidade no controlo dos jogos, com e sem bola.

A equipa belga sofre sob pressão e consegue intimidar com o talento de De Bruyne ou a potência de Lukaku, mas se alguma destas peças falha, o balão esvazia-se. Jogadores como Theate, Saelemakers ou Openda podem começar a ter mais presença, também numa lógica de renovação de um conjunto que já começa a acusar a veterania de alguns elementos.

No meio-campo, Tielemans também é um indiscutível e resta saber quem lhe irá fazer companhia no Catar. Dúvidas para se irem resolvendo nos meses decisivos da preparação. Quem sabe se o início da nova época não poderá trazer mais «sangue novo» (no campeonato belga, a juventude talentosa não para de despontar).

Croácia: A vice-campeã do mundo teve um início desastroso na Nations League (derrota caseira frente à Áustria de Ralf Rangnick por 3-0), mas logo se recompôs com o empate caseiro com a França e com os triunfos em Copenhaga e Saint-Denis.

O meio-campo de culto com Brozović-Modrić-Kovačić promete chegar em grande estilo ao Catar, numa equipa que começa a apresentar sinais de renovação no setor defensivo e também no atacante. Zlatko Dalić quer uma equipa com argumentos na fase ofensiva, mas que não perca o equilíbrio atrás. Recuperar a estabilidade demonstrada há quatro anos na Rússia é o objetivo para atacar o Mundial deste ano.

Entre o 4-2-3-1 e o 4-3-3, o dispositivo tático não deverá variar muito do que tem sido (apesar dos testes com a defesa a três). A candidatura aos oitavos de final está lançada, resta saber se em novembro as sensações serão as mesmas.

Marrocos: Depois de ter eliminado a RD Congo no «play-off» africano de acesso ao Mundial no passado mês de março, a equipa marroquina começou com duas vitórias a fase de apuramento para a CAN 2023. Com uma base imponente de jogadores a atuar no futebol europeu, a seleção marroquina quer voltar a mostrar níveis de competitividade altos num Campeonato do Mundo, tal como fez há quatro anos, na Rússia.

Esta é uma seleção que consegue ser dominadora nos jogos e que cuja conjugação da projeção ofensiva dos laterais (Hakimi e Masina) e criatividade dos médios (Ounahi, Barkok, Harit, Amallah, Amrabat ou Chair) impõe respeito a qualquer adversário.

Na última edição da Taça das Nações Africanas, faltaram argumentos ofensivos nos momentos decisivos, mas esta é uma equipa bem apetrechada e que apresenta soluções individuais interessantes para desbloquear jogos. Se encontrar a estabilidade pretendida (também a nível defensivo), pode voltar a fazer boa figura num Mundial.

Canadá: Depois do épico triunfo no octagonal da CONCACAF e respetivo apuramento para um Campeonato do Mundo, mais de três décadas depois da última participação, a seleção canadiana aproveitou os jogos da Nations League da América do Norte, Central e Caribe para testar «onzes» próximos daqueles que vão entrar em ação no Catar.

Depois da vitória tranquila frente a Curaçao, os canadianos foram derrotados pelas Honduras, numa partida em que mostraram domínio mas não encontraram com facilidade o caminho para a baliza contrária. Um acidente de percurso que não invalida o percurso sólido no crescimento tático que tem vindo a ser apresentado por esta seleção.

Eustáquio abraça o colega Hoilett na seleção do Canadá
Eustáquio abraça o colega Hoilett na seleção do Canadá Eustáquio abraça o colega Hoilett na seleção do Canadá créditos: Tim Vizer / AFP

Os «portugueses» Steven Vitória e Stephen Eustáquio já se impuseram no onze e nas alas Buchanan e Alphonso Davies têm demonstrado que são os jogadores com maior capacidade resolutiva em termos individuais (juntamente com o goleador Jonathan David). Tem faltado experiência competitiva ao Canadá fora do âmbito da CONCACAF, mas as expectativas são boas para a presença no Mundial.

GRUPO G

Brasil: A Canarinha vai atacar o «hexa» com uma geração de luxo com nomes como Vinícius Júnior, Neymar, Fabinho, Lucas Paquetá, Alisson, Éder Militão, Bruno Guimarães, Marquinhos, Richarlison, Gabriel Jesus e tantos outros. A última derrota ocorreu há quase um ano (a tal final da Copa América, em casa, face à velha rival Argentina) e, desde então, Tite tem continuado a consolidar processos e a definir a estratégia para o ataque ao Catar.

O Brasil é uma equipa dominadora, de vocação ofensiva e depois de uma fase de qualificação brilhante (40 golos marcados e apenas cinco sofridos, em 17 encontros), somou mais dois triunfos nesta «janela» de junho (goleou a Coreia do Sul e derrotou o Japão pela margem mínima), com novas demonstrações de domínio sobre os adversários.

O grupo do Mundial é exigente, mas o favoritismo dos pentacampeões é claro, bem como a candidatura à conquista do título.

Suíça: A vitória frente a Portugal na Liga das Nações pode servir como um primeiro estímulo na preparação para o Campeonato do Mundo. No presente ano, foi também o triunfo nº1 para uma equipa a viver um processo de transição no banco (Murat Yakin ainda não convenceu) e a necessitar de fazer rejuvenescer o plantel nalguns setores.

Os problemas defensivos ficaram à vista na goleada sofrida em Alvalade, mas a turma helvética tem jogadores para dar a volta ao texto (Elvedi, Akanji, Schär ou o promissor Stergiou). Nas laterais, também urge alguma renovação e mesmo em termos ofensivos, uma aposta mais frequente em promessas como Vargas, Okafor ou Zeqiri pode também ajudar os suíços a ganhar novas armas para o ataque ao futuro.

Em setembro, os dois jogos (com Espanha e Chéquia) serão importantes para testar as últimas matérias antes do exame final no Catar. É preciso fazer mais e melhor e o tal derradeiro jogo com Portugal pode servir também como exemplo (pela consistência defensiva e capacidade de rentabilizar oportunidades e gerir vantagens).

Sérvia: Depois de uma qualificação épica à frente da seleção portuguesa, os sérvios venceram apenas metade dos jogos no ano de 2022. As derrotas face a Dinamarca (em março, num jogo particular) e frente à Noruega (no primeiro jogo da Liga das Nações) mostraram que há trabalho de casa a fazer por parte do selecionador balcânico.

Habituado a jogar com um sistema de três defesas, o «Piksi» Stojković precisa de definir um melhor acerto para que esse trio não fique tão exposto, sobretudo em situações de transição defensiva. De resto, não falta talento e capacidade de concretização a nível ofensivo a uma seleção que varia entre um temperamento efervescente, uma energia notável nas saídas rápidas e a tal falta de ponderação em determinados momentos da ação defensiva.

A cinco meses do Campeonato do Mundo, ainda se veem defeitos para trabalhar e tentar minimizar até à prova no Catar.

Camarões: Depois de uma CAN de um nível surpreendentemente alto (3º lugar), a equipa camaronesa tem mostrado ser uma das mais estáveis do futebol africano e vai tentar surpreender num grupo muito difícil no Mundial.

A base está definida e dela constam jogadores como Onana, Collins Fai, Castelletto, Ngadeu, Tolo, Ngamaleu, Oum Gouet, Zambo Anguissa, Toko Ekambi, Aboubakar e Choupo-Moting (sim, o onze do triunfo no apuramento para a Taça de África face ao Burundi foi já um claro ensaio para a participação no Catar).

Não falta qualidade ofensiva e o processo defensivo tem conhecido uma evolução nos últimos meses. A pergunta que fica no ar é sobre se o patamar evolutivo demonstrado até aqui será suficiente para entrar na luta pelo acesso aos oitavos de final do Campeonato do Mundo…