No Rali das Gazelas acampamos todos os dias. No acampamento há um espaço específico para as tendas. Isto para evitar acidentes face à circulação dos carros. Apesar do deserto ser grande o espaço é restrito e as tendas são montadas todas encostadas umas às outras. Atravessar o parque de tendas não é tarefa fácil, demora tempo e há que ter atenção onde se põe os pés. É por isso que monto a minha sempre junto à vedação. Outra vantagem é que não tenho de carregar com o saco em peso todas as manhãs pois podemos trazer o carro até bem perto. A pessoa mais hábil a caminhar por entre as tendas no meio da noite é Dominique Serra, a directora de prova, quando faz de despertador. Vai circulando entre elas e com a voz mais simpática que lhe é possível vai dizendo: "Bom dia. São 4 horas!". Há quem consiga devolver o "bom dia" outras não conseguem mais do que soltar um gemido dentro do saco cama.
As tendas não são insonorizadas e, claro, ouve-se tudo o que se passa do outro lado. Imaginem o que quiserem. Ouve-se tudo! Depois há as gazelas que chegam tarde e, com o entusiasmo, não se inibem festejar o facto de terem chegado ao acampamento e de fazer o barulho correspondente. Há também aquelas que, quando adormecem acordam toda a gente. É horrível. Um dia uma navegadora teve a coragem de pedir a uma delas para mudar a tenda de sítio! Eu durmo profundamente independentemente do barulho.
Outra característica é a de que as tendas são praticamente todas iguais. Como distingui-las? Há que pôr uma marca pessoal. Este ano enfeitei a minha com uma bandeira. Ficou bonita! As novatas nem sempre estão a par deste truque. Recordo aquela pobre alemã que partilhava tenda com a sua companheira. Decidiu deitar-se alguns minutos mais tarde e, no meio da escuridão, não conseguiu encontrar a sua tenda. Como pessoa civilizada que era, chamava baixinho o nome da sua parceira para não acordar ninguém... e, claro, como a colega dormia profundamente também não acordou, o que a deixou verdadeiramente infeliz... Principalmente por não saber onde dormir!
Não é pois difícil de perceber porque não há quem não goste das etapas maratona em que dormimos sós e em silêncio em pleno deserto. Nestes dias dormimos mais e descansamos melhor. À noite ao jantar quando nos juntamos com as outras equipas partilhamos as iguarias que levamos na mala. Ontem comemos fois gras uma cortesia de uma das equipas francesas com quem acampamos…
Esta etapa maratona foi bastante cansativa e difícil. Uma imensa tempestade de areia não nos deu tréguas e foi complicado encontrar os CP com tão pouca visibilidade. E pronto terminou mais um Rallye Aïcha des Gazelles. Amanhã já saberemos as classificações finais.
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